Não existem “supersalários” no Inmetro, Fiocruz, SUS, Anvisa e INPI, rebatem servidores

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Publicamos, a seguir, artigo publicado pela Asmetro – Associação dos Servidores do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).

Reforma Administrativa deve fortalecer, e não fragilizar, o Estado que serve ao cidadão

O editorial “Prioridade é reforma administrativa, não reajustes salariais”, publicado em O Globo em 17/11/2025, apresenta uma narrativa que generaliza servidores públicos como vilões da crise fiscal e ignora o papel decisivo das instituições que sustentam o funcionamento do Estado brasileiro – inclusive Inmetro, Fiocruz, SUS, Anvisa, INPI, IBGE, universidades e tantos outros órgãos que atuam sem privilégios e com forte compromisso com o interesse público.

A crítica uniforme ao funcionalismo desconsidera que o serviço público não é um bloco homogêneo. Há carreiras com distorções e há carreiras que, apesar de exercerem funções estratégicas para o país, convivem há anos com salários defasados, quadros reduzidos e crescente sobrecarga. Esse é o caso dos servidores do Executivo federal – entre eles os profissionais responsáveis pela saúde, pela vigilância sanitária, pelas vacinas, pela infraestrutura da qualidade, pela proteção do consumidor, pela propriedade intelectual e pela pesquisa científica.

1. Não existem “supersalários” no Inmetro, Fiocruz, SUS, Anvisa ou INPI

As carreiras que sustentam a saúde pública, a regulação sanitária, a metrologia, a segurança de produtos, a inovação e o desenvolvimento industrial não fazem parte das categorias apontadas como privilegiadas.

O Executivo federal concentra as menores remunerações médias do serviço público, conforme dados de IPEA, Tesouro Nacional e Painel Estatístico de Pessoal.

São carreiras técnicas, altamente qualificadas, responsáveis por funções de Estado que não podem ser privatizadas ou substituídas pelo mercado.

2. A narrativa de “ineficiência” não se sustenta quando se observam os serviços entregues

O Brasil só venceu sucessivas crises sanitárias graças ao trabalho das instituições que hoje são injustamente colocadas no mesmo saco das “distorções”:

Fiocruz desenvolveu vacinas, medicamentos e plataformas estratégicas.

SUS é o maior sistema universal do mundo e esteve na linha de frente da pandemia.

Anvisa garante a segurança sanitária, regula medicamentos, fiscaliza riscos e abre portas para exportação.

INPI protege a inovação e sustenta a competitividade industrial.

Inmetro é responsável pela infraestrutura da qualidade, pela segurança de produtos, pela defesa do consumidor, pela inovação industrial e pela proteção da vida — do peso dos alimentos à segurança de brinquedos, eletrônicos, veículos, combustíveis e equipamentos médicos.

Nenhuma dessas instituições convive com os “supersalários” citados no editorial. Todas, ao contrário, sofrem com déficit de pessoal, orçamento comprimido e desgaste acumulado de carreira.

3. Reajustes não são “penduricalhos”, mas reposição após anos de perdas

Grande parte dos servidores do Executivo federal acumula perdas superiores a 40% desde 2010.

Recompor salários não é privilégio – é manutenção mínima de dignidade profissional e condição para que o Estado não perca quadros qualificados para o mercado privado.

Reformas são necessárias, mas não podem ser usadas como pretexto para congelar salários indefinidamente.

4. A verdadeira prioridade deve ser modernizar o Estado com racionalidade – não com retórica

A reforma administrativa precisa, sim, enfrentar distorções históricas, mas sem destruir a capacidade operacional do Estado brasileiro.

Uma reforma moderna deveria:

– valorizar carreiras técnicas essenciais;

– eliminar desigualdades entre Poderes;

– criar regras claras de desempenho;

– fortalecer órgãos que geram valor econômico e social;

– combater privilégios onde eles realmente existem, não onde é mais fácil politicamente.

O que não se pode aceitar é a narrativa que coloca todas as categorias como responsáveis pela crise fiscal enquanto os serviços ao cidadão dependem justamente daqueles que são constantemente desvalorizados.

5. O que a sociedade realmente não tolera é o enfraquecimento do Estado que a protege

O brasileiro quer eficiência, mas também quer vacinas, alimentos seguros, produtos confiáveis, ar limpo, remédios fiscalizados, inovação tecnológica, segurança de consumo e defesa do consumidor.

Nada disso existe sem servidores públicos qualificados e valorizados.

Sem Inmetro, Fiocruz, Anvisa, SUS, INPI e tantas outras instituições essenciais, o país perde competitividade, soberania e capacidade de resposta a crises.

O debate sobre a reforma administrativa precisa deixar de lado caricaturas e generalizações.

O ASMETRO-SI reafirma que apoia uma modernização responsável do Estado, baseada em evidências e no fortalecimento das instituições essenciais ao desenvolvimento nacional – e rejeita qualquer tentativa de desqualificar servidores que dedicam suas vidas ao interesse público sem os privilégios que são atribuídos a eles injustamente.

Diretoria Executiva do ASMETRO-SI 18/11/2025

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