“Não existe democracia sem diálogo. Sem diálogo, não é democracia, é ditadura”, diz Dória sobre Bolsonaro
O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), criticou a nomeação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada nos EUA.
“Eu jamais nomearia meu filho nem ninguém da minha família para nenhuma função pública, ainda mais numa embaixada que é a mais importante embaixada brasileira no exterior. Não faria nenhum sentido eu nomear um filho, parente, primo, tio, quem fosse, para ser embaixador do Brasil em Washington ou em Pequim”, disse.
Para o governador, os EUA não podem ser tratados com prioridade em relação à China.
Além de trocar uma reunião com o ministro francês Jean-Yves Le Drian por uma transmissão ao vivo em suas redes sociais enquanto cortava o cabelo, Bolsonaro atacou o favorito nas eleições presidenciais da Argentina, Alberto Fernandez, que tem como vice Cristina Kirchner.
De acordo com Dória, o primeiro fato causou um “enorme constrangimento” e, quanto ao segundo, acredita ser um erro ter “fronteiras ruidosas” com países latino-americanos.
O governador tucano abordou a crise econômica do país sob o atual governo. “Eu estava no grupo dos otimistas que acreditavam que o crescimento do país pudesse ser esse ano em torno de 2,5%. Infelizmente não foi isso que ocorreu”, criticou, em entrevista para o blog do Josias, do UOL.
João Dória afirmou que o diálogo e a democracia devem prevalecer. “Eu defendo a democracia no continente. Aliás, luto por ela no Brasil e na América Latina”.
“O Brasil, como em toda democracia, precisa dialogar com a sociedade, com os poderes, entre os poderes. E considerar que o debate construtivo, democrático, focado, é melhor do que as atitudes mais extremadas. Não existe democracia sem diálogo. Sem diálogo, não é democracia, é ditadura”.
O governador paulista também condenou as posições de Bolsonaro sobre o desmatamento da Amazônia.
Para ele, a postura de Jair Bolsonaro quanto ao aumento do desmatamento da Amazônia é equivocada. Quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou dados que apontam para o aumento do desmatamento, Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmaram que os dados eram falsos e que o presidente do Instituto, Ricardo Galvão, era financiado por ONGs internacionais. Galvão foi exonerado do cargo.
Com o aumento do desmatamento e a intenção do governo de desviar os recursos para outros fins, Noruega e Alemanha suspenderam suas doações ao Fundo Amazônia, destinado à preservação da região.
“Os riscos são reais. Estive em Londres recentemente e ouvi de investidores europeus críticas duríssimas em relação à política ambiental do Brasil”, lembrou.
“A retórica mais radicalizada foi muito mal absorvida no continente europeu, não apenas por noruegueses e alemães, mas por toda a comunidade europeia. Os franceses também reagiram fortemente. Até mesmo os países latinos como a Espanha, Portugal e Itália reagiram mal. A reação foi muito forte e pode colocar em prejuízo o agronegócio brasileiro”, advertiu.