“Não adianta buscar estabilização da dívida ou redução do déficit gerando corte de gastos que, por sua vez, geram desemprego e queda do crescimento”, afirma o economista Pedro Rossi
O economista Pedro Linhares Rossi, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), destacou que “o déficit ser zero ou ser 0,5% não faz diferença alguma em termos de variação da dívida pública. O impacto é muito pequeno. A dívida tem uma dinâmica que depende de vários fatores”. Segundo ele, “há uma certa celeuma do mercado” em torno da previsão.
“As variáveis fiscais são fundamentais no médio e no longo prazo, mas não adianta buscar estabilização da dívida ou redução do déficit gerando corte de gastos que, por sua vez, geram desemprego e queda do crescimento. Há uma relação entre gasto público e crescimento que deve ser considerada na hora da definição das variáveis fiscais”, defendeu o economista à Agência Brasil.
Rossi avalia que a economia brasileira não corre riscos ao mudar a meta fiscal diante da previsão de déficit zero no próximo ano encaminhada em meados de agosto pelo ministro da Fazenda, Fernado Haddad, ao Congresso Nacional.
“A narrativa predominante, que aparece o tempo todo na mídia, vocalizada por economistas de mercado, trata a questão fiscal como caminho para reformas mais profundas de constrangimento do gasto público. Há uma ideia, desde 2015, de que é preciso cortar gastos públicos, e o resultado fiscal é usado como instrumento para esse constrangimento”, afirmou Rossi, que estuda os efeitos da política fiscal nos direitos sociais.
O economista ressaltou que a dívida está sob controle e o Estado continuará remunerando investimentos em títulos públicos como de praxe.
“A insolvência do setor público, dos títulos públicos, está totalmente fora do horizonte. Não há nenhuma razão nesse sentido para demandar déficit zero”, disse. Para o professor da Unicamp, a urgência no momento é a elevação dos investimentos, que podem garantir o crescimento da economia, que nos últimos anos tem variado entre grandes quedas e pequenos picos de crescimento.
“O que é preciso é definir o que se quer de mudança, o que se quer em termos de gasto público e, a partir disso, definir quais são as variáveis do lado fiscal, receita e despesa, e como construir resultados e metas fiscais para viabilizar esse projeto de país”, defendeu Rossi.
“Em vez de discutir o desenvolvimento econômico, estamos discutindo uma variável fiscal cuja importância é difícil discernir no debate público. Eu diria que essa importância é superdimensionada no debate público”.