“O discurso de Lula após a eleição foi muito bom. Começou com um ponto da união nacional, de ser presidente para todo mundo. Isso é fundamental”, destacou o militar
O general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, criticou nesta quinta-feira (3) os bloqueios de estradas patrocinados por bolsonaristas inconformados com a derrota nas eleições de domingo (30).
“É um problema sério, decorrente de um longo processo de manipulação onde a indústria de fake news foi se aperfeiçoando, principalmente com recurso de redes sociais”, disse o general, em entrevista ao site UOL.
“Tem que aceitar o resultado. Quando aceita o resultado, transmite uma noção institucional para a população”, apontou o militar. Essa demora para aceitar o resultado e construir os próximos passos é um problema comportamental que estimula esse tipo de coisa”, acrescentou Santos Cruz. “No caso da pandemia, ele não transmitiu tranquilidade. E na eleição não transmitiu tranquilidade”, destacou o general.
O militar condenou também a ida de bolsonaristas para os quartéis pedir golpe. “Ir para frente dos quartéis é um problema de manipulação da população, com a ideia de que precisamos de uma intervenção militar para salvar o Brasil. É uma ideia que o governo vem tentando, ao se confundir com a instituição militar desde o início, falando ‘minhas Forças Armadas’, ‘o meu exército’. Isso vai criando um ambiente que Forças Armadas são a salvação. Salvação é o povo e suas instituições”, declarou.
“Bolsonaro criou as condições de retorno do PT”, afirmou Santos Cruz. “O problema comportamental do presidente Bolsonaro causou um desgaste. Se ele fizesse um governo razoável, teria mais chance de ser reeleito”, prosseguiu o general, que é um dos militares mais respeitados na tropa. Ele afirmou que não votou em Bolsonaro no segundo turno.
Santos Cruz falou de sua expectativa em relação ao governo Lula.
“A expectativa é que ele [Lula] tenha uma visão social maior. E precisa de um governo de união nacional. O discurso após a eleição foi muito bom. Começou com um ponto da união nacional, de ser presidente para todo mundo. Isso é fundamental. A expectativa é que seja um governo que diminua o conflito. O Brasil está cansado”, disse o general Santos Cruz.
“Não há risco nenhum de golpe militar”, disse o general. “Não tenho contato hoje. Mas estou falando pela experiência que tenho no Exército. Os comandantes são pessoas preparadas, filtradas, passaram por processo seletivo. Eles não vão tomar uma atitude fora da Constituição e desrespeitar o resultado de uma eleição em que a maioria do povo fez sua opção”, destacou Santos Cruz.