“Vai aumentar o dólar, cair a bolsa? Paciência. O dólar não cai por conta de pessoas sérias, mas dos especuladores”, acrescentou o presidente eleito em reunião com ativistas ambientais
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou, nesta quinta-feira (17), no Egito, onde participa da COP 27, que seu governo vai se preocupar mais com a responsabilidade social. “Não adianta ficar pensando só em dado fiscal, mas em responsabilidade social. Vai aumentar o dólar, cair a bolsa? Paciência. O dólar não cai por conta de pessoas sérias, mas dos especuladores”.
JUROS AO SISTEMA FINANCEIRO
“O que é o teto de gastos? Se fosse para discutir que não vamos pagar a quantidade de juros do sistema financeiro que pagamos todo ano, mas mantivéssemos os benefícios, tudo bem. Mas não, tudo o que acontece é tirar dinheiro da educação, da cultura. Tentam desmontar tudo aquilo que é da área social”, completou, ao comentar as decisões de seu governo para a garantia da retomada dos investimentos no Brasil.
O presidente eleito falou sobre sua prioridade de fazer o país crescer para melhorar a vida dos mais pobres. “Sempre digo que as pessoas mais humildes subiram só um degrauzinho na escala social da nossa História, mas muito pouco foi muito para um país que não estava habituado a cuidar das pessoas mais humildes”, afirmou.
“Esse é o tipo de melhora que não pode parar e eles pararam”, acrescentou. “Pararam de investir na universidade, na tecnologia, nas escolas técnicas… Até a cultura, extremamente importante para formação do povo, eles acabaram. Na lógica deles, cultura é uma coisa perigosa, que mexe na consciência das pessoas”, disse Lula.
O presidente eleito falou da gravidade do momento vivido pelo Brasil. “Vamos pegar um país pior do que em 2003, com o desmonte e descrédito das instituições. Passamos a ter um Executivo sem nenhuma relação com a sociedade brasileira. Que, em quatro anos, não se reuniu com ninguém da sociedade civil, mas ofendeu mulheres, negros, periferia, portadores de deficiência”, disse.
“A nossa tarefa é recuperar, porque eu não vejo o Brasil dar certo sem envolver a sociedade nas decisões. Vamos fazer conferências com a juventude, com os povos negros, com as mulheres. A gente não tem que ter medo de ouvir as coisas ou de ouvir o que não gostamos de ouvir. Quando se dispõe a governar o país, não tem que pensar só nas coisas boas. Tem que ouvir e ter a humildade para ver que está errado. O Brasil precisa ser recuperado”, apontou Lula.
AUMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO
“Temos que garantir que vamos aumentar o salário mínimo acima da inflação. É por isso que vamos criar o Ministério dos Povos Originários. Ter uma relação concreta com os povos indígenas do país. Não podemos aceitar mais a ideia de que 14% da terra está nas mãos dos indígenas, mas não dizem que a terra é do Estado. Vamos reconhecer os quilombos brasileiros”, destacou o presidente eleito.
“A principal razão pela qual eu assumi a minha candidatura para voltar a ser presidente é que eu acho que é possível fazermos esse país voltar a ser feliz, é possível garantir que a juventude pode planejar, ter perspectiva de futuro”, acrescentou.
“Voltei com disposição de fazer o que não fiz da última vez, fazer mais”, garantiu. Ele falou também da relação com o agronegócio. “O verdadeiro empresário do agronegócio sabe que não pode fazer queimada. Sabe onde não pode queimar, onde não pode derrubar. Nós vamos evitar que haja exploração de garimpo em terras indígenas”, observou Lula.
“Não me preocupo quando dizem que o agro não gosta do Lula. Não quero que gostem, mas que me respeitem. Não é necessário cortar árvores. O que precisamos é uma frase que a Marina [Silva] dizia em 2003: ‘o que interessa não é proibir, mas dizer como fazer as coisas'”, acrescentou o novo presidente.
Lula disse que está feliz em poder voltar e fazer mais pelo povo brasileiro. “Queria dizer para vocês da imensa alegria e do imenso prazer de poder estar vivendo este momento. Possivelmente pela juventude de vocês, muitos não compreendem o significado de uma reunião como essa. Não há disposição de muitos governantes no mundo de participar de uma reunião dessas com a sociedade civil”, destacou.
“Depois de tudo o que aconteceu no Brasil, na minha vida, voltar a ser presidente do Brasil, com a participação de mulheres, povos negros, jovens, e poder fazer uma estreia a nível internacional, em um espaço da ONU, em um tema que interessa muito ao Brasil, estou feliz”, prosseguiu. “Muitas vezes os governantes não gostam de ser cobrados. E muitas vezes tratam quem cobra como oposição. Na verdade, a cobrança é igual ou até melhor do que quem concorda com a gente. Porque quem cobra mostra o que fazer”, afirmou Lula, ao fortalecer as entidades.
A ONU PRECISA AGIR
Ele voltou a cobrar mais agilidade na concretização das decisões da ONU. “Os fóruns da ONU não podem ser discussões intermináveis. Às vezes tenho a impressão de que as decisões precisam ser cumpridas. Precisamos de um órgão de governança global que possa discutir o que fazer”, defendeu Lula.
“Muitas vezes, o dinheiro prometido aos países em desenvolvimento também não sai. Os US$ 100 bilhões foram prometidos em 2009, e sinceramente, as pessoas parecem que se esquecem. Por isso cobrei, lembrei que há uma dívida que precisa ser paga para os países que têm floresta sejam recompensados para cuidar daquilo”, observou.
Ele voltou a defender a realização da COP em 2025 no Brasil. “Vamos tentar fazer a cúpula dos países amazônicos… Todos vizinhos e nunca se reuniram. O Brasil tem que tomar iniciativa”, afirmou, agradecendo aos participantes. “Muito obrigado por tudo o que fizeram até agora e precisarão fazer. Só quero que saibam que nossa volta tem o significado de reconstruir o nosso país. Será uma tarefa imensa, e eu quero que vocês nos ajudem a reconstruir esse país”, afirmou o novo presidente do Brasil.
Lula concluiu elogiando a luta da população pela democracia e pelo meio ambiente. “Tenho orgulho de vocês. Graças a Deus eu sou eleito presidente deste país que tem um povo como vocês, que possa me ajudar a fazer a reconstrução ideológica, política e social do Brasil”, disse. “Se não tivermos uma ONU forte, não vamos lidar com a questão do clima como precisamos”.