“Quanto custa não renovar para milhões de brasileiros que da noite para o dia ficaram sem renda e continuarão sem renda nos próximos meses?”, questiona o presidente da Câmara dos Deputados
Em meio às ameaças do governo federal de não prorrogar o pagamento do auxílio emergencial, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, afirmou, na terça-feira (23), que o custo de não renovar o benefício, aprovado pelos deputados para garantir que trabalhadores informais e desempregados tenham alguma renda durante a pandemia da Covid-19, é muito maior do que o de estender o pagamento.
“A gente sabe que tem um custo, mas custo maior é não renovar. A gente sempre faz a pergunta de quanto custa renovar. A gente tem que fazer outra pergunta. ‘Quanto custa não renovar para milhões de brasileiros que da noite para o dia ficaram sem renda e continuarão sem renda nos próximos meses?’”, questionou Maia, em coletiva.
Bolsonaro e Paulo Guedes, ministro da Economia, tentaram sabotar a ajuda emergencial ao propor no início da pandemia que o valor fosse de apenas R$ 200. Por iniciativa da Câmara, o valor foi ampliado para R$ 600 por três meses, podendo ser prorrogado por mais três meses, pelo mesmo valor. Caso o governo queira reduzir o valor, como vem dizendo, terá que enviar outro projeto ao Congresso Nacional.
Apesar das dificuldades criadas pelo Executivo para que o pagamento chegasse aos mais de 60 milhões de brasileiros que já receberam, o benefício é fundamental para garantir que famílias tenham alguma renda durante o período de quarentena, quando as atividades econômicas não essenciais foram suspensas atingindo milhões de trabalhadores informais e lançando outros milhões no desemprego.
Com o terceiro mês de auxílio vencendo e a falta de perspectiva do fim da epidemia do novo coronavírus no país, Maia defende a extensão do benefício sem alteração do valor por mais dois meses ou três meses. “A todos que me perguntam sobre o auxílio emergencial: sou a favor da prorrogação do auxílio de R$ 600 por mais 2 ou 3 meses. Todos os indicadores apontam uma forte queda da economia no terceiro trimestre”, postou Maia no Twitter, sábado (20).
Bolsonaro disse reiteradas vezes que pretende vetar a prorrogação do benefício e reforçou, com a ajuda de Guedes, que sua preocupação maior é com o crescimento da dívida do país.
O custo mensal do programa é de R$ 50 bilhões. Para Bolsonaro, a “União não aguenta” ajudar milhões de brasileiros que estão na informalidade (cerca de 40 milhões – um recorde de seu governo), durante a pandemia.
Inúmeros economistas, de vários partidos e correntes, vêm defendendo que o auxílio emergencial deve durar, pelo menos, enquanto dure o Estado de Calamidade Pública, até 31 de dezembro de 2020.
Uma nota técnica produzida pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais reforça que o valor do auxílio emergencial é imprescindível, também, para aliviar os efeitos da crise econômica.
“O auxílio tem impacto sobre as contas públicas porque quando a atividade econômica cai o governo arrecada menos, e quanto mais houver consumo as empresas pagam mais impostos. Ou seja, quanto mais tempo o auxílio for pago, mais vantajoso será para a economia brasileira”, afirma Débora Freire, pesquisadora do grupo. “Não dá para tirar, nem diminuir o valor do benefício agora. É um tiro no pé do ponto de vista da vida das pessoas, do trabalho e do próprio governo que vai ter ainda mais dificuldade em fazer o país sair da recessão”.