“Não sei por que o governo está tão preocupado com a CPI. Há motivos?”, pergunta Renan

Senador Renan Calheiros (MDB-AL) será o relator da CPI da Covid-19. Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil
Bolsonaro faz contorcionismo político para se aproximar de Renan Calheiros, que vai ocupar o principal cargo da CPI, a relatoria dos trabalhos. Não afeito aos salamaleques do poder, mete os pés pelas mãos

“Um espectro ronda o Planalto”, o “fantasma” da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, que vai investigar as ações e omissões do governo no combate à pandemia, parafraseando a abertura do Manifesto Comunista (1848), de Karl Marx e Friedrich Engels, que assombrou a burguesia europeia no início do século 19.

É assim que a CPI se apresenta para o governo — um “fantasma”. Por isso a frase do senador Renan Calheiros (MDB-AL), futuro relator da investigação, que vai ser instalada no Senado, na próxima terça-feira (27).

A pergunta deriva também do contorcionismo do presidente da República para se aproximar de Renan, a quem o governo tripudiou, em fevereiro de 2019, na eleição para a presidência do Senado Federal. 

Na quarta-feira (21), Bolsonaro ligou para o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB). O afago foi uma tentativa de lançar pontes para alcançar o senador e tentar enredar a CPI.

Renan Calheiros confirmou o telefonema, mas minimizou-o. De acordo com ele, este diálogo acontece frequentemente porque ambos precisam ter uma “relação administrativa” em função dos cargos que ocupam.

“COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUISIÇÃO”

O senador afirmou ainda que que nunca se recusou a conversar com Bolsonaro. Em entrevista ao Estadão, semana passada, Renan afirmou que a CPI não iria se transformar numa “Comissão Parlamentar de Inquisição”. E tem repetido que a CPI não é inimiga de ninguém, “mas, sim, da pandemia”.

Com quase 400 mil mortes já registradas e com atraso na compra e entrega de vacinas, a pressão política contra o governo segue elevadíssima. E Renan tem feito oposição à gestão federal.

O senador teria comentado com amigo, com ironia, mas segundo o interlocutor, sem tom irônico, os medos do governo de Bolsonaro com a CPI da Pandemia, da qual será o relator:

“Não sei porque o governo está tão preocupado. Há motivos?”.

INSTALAÇÃO DA CPI

Inicialmente previsto para ser instalada nesta quinta-feira (22), o ato foi transferido para a próxima terça-feira. A comissão já foi criada e, para efetivamente começar a funcionar, o colegiado precisa se reunir para eleger a mesa diretoria dos trabalhos, com presidente, vice-presidente e relator.

Após esse ato, a comissão, composta por 11 titulares e 7 suplentes, estará efetivamente instalada e funcionando. O acordo selado entre os partidos determinou que a presidência dos trabalhos vai ficar com o senador Omar Aziz (PSD-AM), que por sua vez indicará para relatoria o senador Renan Calheiros. A vice-presidência vai ser ocupada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

18 ALVOS PARA APURAÇÕES DA CPI

Randolfe preparou uma lista de sugestões de requerimentos com 18 temas para, segundo ele, “encontrar o caminho que nos leve à verdade sobre quem são os responsáveis pelo genocídio no Brasil causado pela pandemia do coronavírus”.

Entre os temas, estão: investigar a produção e a distribuição de cloroquina e defesa do tratamento precoce contra a Covid-19; a crise de oxigênio em Manaus e no país; o atraso na compra de vacinas e falta de medicamentos do chamado kit intubação.

A seguir, os temas de requerimentos que serão sugeridos pelo senador para serem investigados quando a CPI da Pandemia começar os seus trabalhos:

Tema 1: estratégia de comunicação do Ministério (da Saúde) sobre as ações referentes ao combate da pandemia;

Tema 2: ações de vigilância no mapeamento da pandemia;

Tema 3: produção e distribuição de cloroquina e tratamento precoce;

Tema 4: fechamento de mais de 4 mil leitos por não renovação de contratos nos hospitais federais do RJ;

Tema 5: cancelamento de leitos de UTI em 31 de dezembro de 2020;

Tema 6: crise de oxigênio em Manaus e no País;

Tema 7: atraso na compra de vacinas;

Tema 8: falta de medicamentos do kit intubação;

Tema 9: fornecimento de insumos (máscaras) sem registro para uso em estabelecimentos de saúde;

Tema 10: falta de testes;

Tema 11: falta de respiradores;

Tema 12: falta de estoque de seringas e agulhas;

Tema 13: testes vencidos em Guarulhos;

Tema 14: visita de comitiva oficial a Israel para conhecer spray contra Covid;

Tema 15: transferência de recursos do Fundo Nacional de Saúde para Estados e municípios;

Tema 16: Portaria SVS 28, de 3 de setembro de 2020;

Tema 17: Portaria 3.190, de 26 de novembro de 2020; e

Tema 18: Orçamento de 2021 e as verbas para saúde.

MARCOS VERLAINE (colaborador)

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