“O Canal não foi uma concessão de ninguém, foi o resultado de lutas geracionais que culminaram em 1999”, declarou Raul Mulino, referindo-se à revolução panamenha, que arrancou os acordos Torrijos-Carter em 1977 e a devolução do canal em 1999.
O Panamá resistirá às tentativas do presidente dos EUA, Donald Trump, de retomar o Canal do Panamá, disse o presidente José Raúl Mulino na segunda-feira (20), logo após o inquilino da Casa Branca proferir tal ameaça em seu discurso de posse.
“Exercitaremos o direito que nos protege, a base jurídica do Tratado [Torrijos-Carter], a dignidade que nos distingue e a força que o direito internacional nos dá”, sublinhou o presidente panamenho.
“O Canal é e continuará a ser do Panamá e a sua administração continuará sob o controle panamenho no que diz respeito à sua neutralidade permanente”, disse o presidente, acrescentando que “nenhuma nação no mundo” estava interferindo no controle do canal.
A declaração é em repúdio à afirmação de Trump de que “a China está operando o Canal do Panamá”, “não o demos à China, demos ao Panamá e vamos recuperá-lo”.
“O Canal não foi uma concessão de ninguém, foi o resultado de lutas geracionais que culminaram em 1999”, acrescentou Mulino, se referindo à luta encabeçada nos anos 1970 pelo então líder revolucionário panamenho Omar Torrijos, que arrancou do governo Carter em 1977 a devolução do canal, após manifestações nas ruas do Panamá e pronunciamentos na ONU.
Como o que Torrijos disse em 1973: “Nunca fomos, não somos, nem nunca seremos, nem um estado associado, nem uma colônia ou protetorado, nem queremos acrescentar mais uma estrela à bandeira dos Estados Unidos”.
Torrijos se inspirou na luta do líder egípcio Gamal Abdel Nasser na nacionalização do Canal de Suez e também foi um admirador de Allende. Ele criou escolas, realizou uma reforma agrária e um programa de obras públicas, gerou empregos e convocou uma constituinte. Ele também confrontou multinacionais norte-americanas exigindo salários mais elevados para os trabalhadores. Em 1981, ele morreu em um acidente aéreo.
Pelos acordos Torrijos-Carter, as bases militares foram legalizadas e a neutralidade do Canal do Panamá foi estabelecida em perpetuidade, bem como uma data para o fim da presença militar norte-americana e a devolução do Canal do Panamá. Assim, em 31 de dezembro de 1999, os Estados Unidos devolveram o Canal do Panamá aos panamenhos.
Segundo o The Wall Street Journal, uma empresa chinesa opera dois portos em cada extremidade do canal há décadas, mas a infra-estrutura em si é gerida pela Autoridade do Canal do Panamá, uma entidade estatal cujo conselho de administração é escolhido pelo Governo panamenho.
Em declarações antes da posse, Trump já ameaçara anexar o Canadá e a Groenlândia e que iria mudar o nome do Golfo do México – internacionalmente reconhecido – para ‘Golfo da América’, absurdos já rechaçados pelos respectivos governos. O chauvinista também asseverou no discurso de posse que os EUA voltarão a ser um país que “expande seu território”.