Levantamento feito pelo site UOL mostra que dos 107 imóveis comprados pela família, 51 foram “in cash”, ou seja, dinheiro vivo, artifício normalmente utilizado por quem usa dinheiro ilícito e quer esconder o rastro. Operador da rachadinha do Rio, Fabrício Queiroz, por exemplo, espalhava cheques. Até Michelle recebeu R$ 42 mil dele, sem explicação convincente até hoje
A reportagem do site UOL de terça-feira (30) dando conta de que dos 107 imóveis adquiridos pela família Bolsonaro nos últimos vinte anos, 51, ou quase metade destes imóveis, foram comprados com dinheiro vivo, ou seja, sem comprovação da origem do dinheiro, reforça as denúncias de que muita rachadinha rolou dentro dessa família, que jura de pés juntos serem defensores da moral e os bons costumes.
SEIS MILHÕES DESVIADOS NA ALERJ
O Ministério Público do Rio de Janeiro chegou à conclusão, por exemplo, que o filho do presidente, Flávio Bolsonaro, desviou cerca de R$ 6 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa do estado (Alerj) e lavou boa parte desses recursos com compra e venda fraudulentas de imóveis. Ele lavou também o dinheiro, diz o MP, através de sua loja de chocolates na Barra da Tijuca e com membros da milícia de Rio das Perdas, de onde veio Fabrício Queiroz, o faz-tudo da família.
As compras com dinheiro em espécie somam R$ 13,5 milhões (R$ 25,6 milhões em valores corrigidos pelo IPCA) segundo a reportagem. Na lista aparecem Jair Bolsonaro e ex-mulheres (Rogéria Bolsonaro e Ana Cristina Siqueira Valle) com negociações com 8 imóveis – Casas, apartamentos e lotes (RJ e Brasília) e R$ 973,1 mil (R$ 3,2 milhões corrigidos).
Já os filhos, Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro negociaram 19 imóveis – Apartamentos e salas comerciais (RJ) num valor total de R$ 8,5 milhões (R$ 15,7 milhões em valores corrigidos). Os irmãos e a mãe Maria Denise, Maria Solange, Vânia, Renato e Olinda Bolsonaro compraram 24 imóveis – Casas, lotes e imóveis comerciais (SP) no valor de R$ 4,1 milhões (R$ 6,6 milhões corrigidos). Os Ministérios Públicos do Rio e do Distrito federal já abriram investigações para 25 destes imóveis.
Questionado na terça-feira (30) sobre essa movimentação suspeita, Bolsonaro respondeu: “qual o problema, comprar com dinheiro vivo algum imóvel?”
“QUAL É O PROBLEMA COMPRAR EM DINHEIRO VIVO?”
O problema é que tem que saber a origem do dinheiro. Não há até agora há nenhum esclarecimento sobre isso. Nem mesmo os mais de 80 cheques depositados por Fabrício Queiroz na conta de sua mulher, Michelle Bolsonaro, num total de R$ 42 mil, foram explicados de forma convincente até hoje. A conversa de que tinha sido um empréstimo pessoal feito por ele ao segurança da família não colou. Queiroz era operador da rachadinha da Alerj. Ele recebia parte dos salários dos funcionários fantasmas e distribuía para membros da família.
Bolsonaro disse que já foram investigados. “Já foi investigado. Desde quando eu assumi, 4 anos de pancada em cima do Flávio [Bolsonaro, senador], do Carlos [Bolsonaro, vereador], Eduardo [Bolsonaro, deputado federal], menos. Tenho cinco irmãos no Vale do Ribeira. O que eu tenho a ver com o negócio deles?”, argumentou o mentor do esquema.
Só que isso é uma mentira. O que mais houve neste governo foi perseguição a quem investiga ou denuncia corrupção neste governo. É só se lembrar o caso do servidor da Saúde, Luis Ricardo Miranda, que impediu a compra irregular da vacina Covaxin.
Ele havia denunciado a Bolsonaro que estavam obrigando que ele assinasse um pagamento antecipado de US$ 45 milhões que seriam depositados em nome de terceiro num paraíso fiscal, sem garantia da entrega das vacinas. A compra, que depois foi visto tinha propina de um dólar por dose de vacina, só foi barrada pela ação da CPI da Pandemia. Hoje, o denunciante e sua família estão morando fora do país por receberem ameaças de morte por parte das milícias bolsonaristas.
E também não podemos esquecer que o Brasil inteiro acompanhou pelas mídias as perseguições de Jair Bolsonaro ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). A perseguição feroz começou por este órgão ter denunciado movimentações milionárias suspeitas de seu filho, Flávio e também à Receita Federal, que viu operações também suspeitas de imóveis feitas por Flávio Bolsonaro.
Todo mundo vivenciou também os esforços de Bolsonaro para tentar aparelhar a Polícia Federal (o primeiro indicado por ele para diretor do órgão, seu segurança de campanha, foi até impedido pelo STF) e o seu cinismo de colocar à frente da Procuradoria Geral da República (PGR), por fora da lista tríplice do Ministério Público, um engavetador geral, para acobertar as suas falcatruas, de seus cupinchas e de seus familiares. Ou seja, Bolsonaro impede de todas as formas as investigações e depois mente que não há corrupção em seu governo.
EX-ESPOSA GANHA R$ 8 MIL E COMPROU MANSÃO EM BRASÍLIA
Só que os escândalos não param. Propinas no MEC, pastores íntimos de Bolsonaro cobrando de prefeitos para liberar verbas da Educação. Bilhões desviados pelo “Orçamento Secreto”, um esquema descarado de desvio de verbas que burla o controle da sociedade e usa dinheiro público para comprar votos. O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) denunciou que este esquema “é a maior roubalheira de dinheiro público desde o escândalo do anões do orçamento”.
Nesta quarta-feira, outro escândalo apareceu envolvendo exatamente as misteriosas compras de imóveis por familiares de Bolsonaro. Desta vez foi Ana Cristina Valle (PP), uma de suas ex-esposas, que disputa uma vaga de deputada distrital. Ela declarou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ser dona de uma mansão no Lago Sul, área nobre de Brasília.
No entanto, em meados de junho a mesma Ana Cristina havia declarado que tinha alugado o imóvel para morar com o filho, Jair Renan, o “zero quatro” de Bolsonaro. Na época, Cristina afirmou que não era a dona do imóvel. Ela disse que havia alugado a casa por R$ 8 mil por mês. Essa informação já era suspeita porque o valor era parecido com o salário bruto de R$ 8,1 mil que ela ganhava como assessora da deputada Celina Leão (PP-DF). Agora, ela muda a versão e diz que comprou a mansão.
Segundo a reportagem, na escritura do imóvel, o então proprietário da mansão, Geraldo Antônio Machado, aparece tendo comprado a casa por R$ 2,9 milhões, dias antes de Cristina se mudar. Na época, corretores avaliavam a casa em R$ 3,2 milhões. Pouco mais de um ano depois, a ex-esposa de Bolsonaro declarou à Justiça Eleitoral que o mesmo imóvel, comprado por Geraldo Machado por R$ 2,9 milhões, era agora de propriedade dela e estranhamente valeria apenas R$ 829 mil.