Sabotador diz que está com um cheque de 20 bilhões, mas “não acha” vacinas para comprar. Ele não quer comprar nada e, quando foi criticado pelo atraso na vacinação ameaçou fechar jornais e TVs
Depois de apostar todas as fichas na AstraZeneca, que não está entregando o que prometeu para ninguém, de brigar com a direção da Pfizer, de atacar a CoronaVac, de mandar seu preposto na Anvisa atrasar a aprovação da Sputnik V, Bolsonaro diz que tem dinheiro mas não acha vacina para comprar. Ele não quer comprar nada. E, também, diante de suas sabotagens, ninguém quer mais se relacionar com o pária que, com seu negacionismo irresponsável, já provocou a morte de mais de 240 mil pessoas no Brasil.
Ele disse nesta segunda (15), em São Francisco do Sul (SC), onde passa os feriados de carnaval, que tem um “cheque de R$ 20 bilhões” para comprar vacinas contra a Covid-19, mas que o produto está em falta no mercado. O Congresso Nacional realmente aprovou os recursos para comprar vacinas, mas Bolsonaro e Pazuello com sua “espetacular logística”, só usaram 9% desses recursos, enquanto a pandemia se espalha velozmente por todo o país.
ATÉ VACINAÇÃO DA MÃE ELE ATRAPALHOU
O capitão cloroquina tentou negar que seu governo esteja sabotando a vacinação, mas voltou a defender que a aplicação do imunizante seja opcional. Segue trabalhando para que a população não seja vacinada.
Até no caso de sua mãe, de 93 anos, o insano atrapalhou. Ela conseguiu se vacinar, apesar dos maus conselhos dados por ele. O irmão de Bolsonaro teve que pressionar para que dona Olinda Bolsonaro fosse vacinada, mesmo contra a má vontade de Bolsonaro. Se dependesse só de sua opinião, ela ficaria desprotegida. Aliás, Bolsonaro sempre disse que quem se protege contra o coronavírus é “maricas”.
Antes ele sabotava abertamente as vacinas, como fez com a CoronaVac, no episódio em que ele desautorizou publicamente a compra de 46 milhões de doses que Pazuello anunciara um dia antes para governadores; agora, depois de um profundo desgaste, ele o faz através de corpo mole e de um cínico aparelhamento da Anvisa. Veja como isso ocorre. “Eu sempre falei: uma vez a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] liberando, eu compraria. Tanto é que eu tenho, entre aspas, um cheque de 20 bilhões de reais para comprar vacina, a medida provisória que eu assinei agora, em dezembro do ano passado”, completou.
ATRASA APROVAÇÃO DA SPUTNIK V
A direção da Anvisa, ao contrário de seu corpo técnico, obedece piamente às ordens do chefe. Leva um tempo absurdo para analisar os pedidos de uso emergencial. Tanto que o Congresso Nacional teve que aprovar uma Medida Provisória (MP) para obrigar a Anvisa a reduzir os prazos para a aprovação das vacinas para uso emergencial no Brasil. No caso, para agilizar a aprovação da Sputnik V, que será fabricada pela empresa brasileira União Química, e que já dispõe de 10 milhões de doses de imediato, importadas da Rússia, além de prometer produzir 8 milhões de doses por mês.
O Brasil foi o 57º país a iniciar a vacinação. Precisou uma pressão enorme por parte do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para que o Planalto parasse de sabotar abertamente a vacinação. Quando o governo se mexeu já era tarde. “Não tem vacina, no mundo todo não tem vacina. Não é nós, é o mundo todo”, afirmou Bolsonaro. Ele queria o que? Que enquanto ele dizia que as vacinas iriam causar mortes, deformações e até a ridícula transformação em jacaré, os fabricantes pelo mundo iriam guardar seus estoques para atendê-lo?
REPETIÇÃO DA CRISE DE MANAUS
Foi assim também com o oxigênio de Manaus. O governo foi avisado antes do Natal que iria faltar oxigênio e que o sistema de saúde da capital amazonense entraria em colapso. Não fizeram nada para enfrentar a situação. Ao contrário, quando já morriam amazonenses asfixiados, Bolsonaro e seu general de estimação, Eduardo Pazuello, que ocupa indevidamente o Ministério da Saúde, estavam criando forças-tarefas para distribuir cloroquina.
Agora o país chega à maior média móvel de mortes diárias desde o início da pandemia e Bolsonaro está descansando nas praias de Santa Catarina. Já o seu ministro está tendo que se explicar à Polícia Federal sobre as mortes em Manaus.
Mesmo com tudo isso, Bolsonaro voltou a defender a prescrição de drogas sem comprovação científica para o tratamento da Covid-19, enquanto comentava sobre o colapso no sistema de saúde em Chapecó, no oeste catarinense.
Ele disse que o governo está monitorando a situação, mas não tinha informações sobre quais as ações em curso. Como se pode ver, ele fala com a maior naturalidade que, como presidente, não tem informações sobre o que está sendo feito nessa calamidade. É o abandono total do país à sua própria sorte. É a repetição da tragédia que ocorreu em Manaus.
“Olha, não só Chapecó, como qualquer cidade do Brasil que foge a normalidade, o Ministério da Saúde, quando informado, obviamente, começa a monitorar. Se fugir dos meios, daquela cidade, daquela região, conter aquela situação, a gente entra em campo, como aconteceu em Manaus”, disse.
E aí, aproveita para seguir com sua charlatanice medicamentosa. “Agora, os médicos devem ter o direito, sem pressão de ninguém, de exercer aquela, a sua liberdade de receitar algo para uma doença, no caso, sem estar prescrito em bula. Porque é ainda uma doença que não tem remédio definido para tal”, disse.
CRITICADO, AMEAÇA FECHAR IMPRENSA
Criticado por sua irresponsabilidade na condução da pandemia, Bolsonaro responde atacando a mídia e até as redes sociais. Disse que tem que fechar todas elas. “Com todo respeito […] eu sou qualquer um do povo: proibir anexar imagens a título de proteger fake news. O certo é tirar de circulação —não vou fazer isso, porque sou democrata— tirar de circulação Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, [O] Antagonista, [que] são fábricas de fake news”, disse o presidente.
Bolsonaro não fara o que pretende, ou seja, fechar os jornais e televisões, não porque é um democrata, como afirma demagogicamente, e, sim, porque a sociedade não permite e as instituições democráticas deram um basta em suas pretensões golpistas. Bem que ele tentou no início do governo, com aquelas aglomerações ridículas em portas de quarteis – inclusive com sua participação -, pedindo o fechamento do Congresso, do Supremo, da mídia e a volta da ditadura.
Depois de dizer essas idiotices todas, ele seguiu reclamando que as redes sociais estão tirando suas mensagens mentirosas do ar. “Agora deixa o povo se libertar, porque tem liberdade. Logicamente que se alguém extrapolar alguma coisa, tem a Justiça para recorrer. Agora o Facebook bloquear a mim e a população é inacreditável […] E não há uma reação da própria mídia, ela se cala. Falam tanto da liberdade de expressão para eles em grande parte mentir com matérias. Agora, para a população, é uma censura que não se admite”, completou, em vídeo transmitido numa rede social de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Mas, para tristeza de Bolsonaro, não só as redes estão se protegendo contra suas mentiras, como toda a população, como ficou evidente na última pesquisa da revista Exame.
S.C.
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