Após três anos de uma guerra que devastou o Iêmen e com a Arábia Saudita mantendo bombardeios em regiões onde seguem intensos combates, chegam à capital sueca, Estocolmo, duas delegações, a dos revolucionários iemenitas e a do governo subalterno à intervenção e que se exilou na capital saudita, Riad.
Segundo levantou o jornalista iemenita, Ahmed Abdulkareem, para o portal MintPress, os ataques sauditas continuam a exemplo dos que acontecem a 40 quilômetros a leste da capital Sana’a, sob domínio do governo popular, comandado pelo Partido do Congresso Geral Popular. Um ataque que se intensificou no momento em que a delegação de Sana’a chegou à Suécia, dia 5, para dar início às conversas programadas para o dia 6.
O general-brigadeiro Yahia Sari, porta-voz das Forças Armadas do Iêmen declarou, em conferência de imprensa na segunda, que as forças sauditas não atenderam ao chamado por um cessar-fogo e realizaram 350 ataques contra a cidade portuária de Hodeidah e a capital Sana’a, nos últimos 10 dias.
ONU
Para ir às negociações em Estocolmo, os revolucionários exigiram garantias a sua integridade e a ONU enviou um emissário da Secretaria Geral, Martin Griffith, para acompanhar a delegação no voo de Sana’a a Estocolmo.
As conversas acontecem no mesmo momento em que o desgaste da monarquia saudita – após as evidências da participação do príncipe herdeiro no brutal assassinato do jornalista Khashoggi, colunista do Washington Post, em Istambul – levam o Senado a uma posição de choque com o presidente Trump quanto ao apoio norte-americano à intervenção saudita no Iêmen.
A área residencial no distrito de Nihm Hawl foi alvo de 25 ataques aéreos e saraivadas de bombas atiradas por canhões na segunda-feira.
RESISTÊNCIA IEMENITA
Mesmo com a intensificação dos bombardeios no mesmo momento em que as conversas têm início, o que elas deixam claro são duas questões: a primeira é o reconhecimento do governo popular por parte dos que se nutrem da relação subserviente aos EUA e Arábia Saudita; a segunda é a de que apesar dos três anos de ataques e de um morticínio sem igual, hoje, em todo o mundo, com 14 milhões à beira da inanição, os iemenitas não se quebraram e estão sendo capazes de cerrar fileiras com o governo popular e resistir na luta pela soberania nacional.
Os sauditas e o governo fantoche usam, nestes combates, de forças paramilitares afins com a Al Qaeda e o Estado Islâmico e que se aliam à ideologia ligada à religiosidade islâmica wahabita retrógrada e autocrata professada na Arábia Saudita.
Do lado do governo popular, forças militares recebem o apoio de voluntários que se dirigem aos milhares para defender Sana’a e Hodeidah.
Num primeiro sinal de entendimento, um avião contratado pela ONU pode levantar voo de Sana’a, levando 50 feridos, das forças iemenitas, nos combates, e que receberão tratamento em um hospital no vizinho Oman.
O presidente do iemenita Comitê de Questões de Prisioneiros, Abdul Qader al-Murtaza, declarou que assinou um documento, patrocinado pela ONU, que deve ser seguido por uma troca de prisioneiros entre os combatentes iemenitas e as forças de intervenção sauditas.
NEGOCIAÇÕES
Segundo o chefe da delegação do governo popular iemenita, Mohamed Abdul Salam, a construção de um clima de confiança propício para as negociações de paz ainda não aconteceu e o tratamento de feridos em Oman, assim como a libertação de presos serão os primeiros, mas ainda tímidos passos.
Entre as exigências iemenitas estão a abertura do aeroporto internacional de Sana’a, o levantamento do cerco ao porto de Hodeidah, permitindo a chegada de ajuda humanitária a uma população flagelada pela fome, consequência do bloqueio e bombardeio saudita e a remoção de sanções ao país, um cessar-fogo, a entrega de mapas com a localização de minas terrestres, além da abertura de corredores para a passagem de comboios patrocinados pela ONU com ajuda humanitária.
O emissário da ONU esteve na capital iemenita, Sana’a, para ultimar junto ao governo do país os preparativos para a reunião que tem início em Estocolmo.
Uma delegação de 12 integrantes do governo bancado pela Arábia Saudita, dirigida pelo ministro do Exterior deste governo, Khaled al-Yamani, também chegou a Estocolmo.
A ministra do Exterior da Suécia, Margot Wallstrom, descreveu as conversações como “um passo urgente para o fim do conflito no Iêmen”.