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Retratar a nossa gente, o povo brasileiro, foi a principal característica de toda a obra de Nelson. Ele fazia do cinema um meio de mensagem e crítica para tentar mudar a realidade do país.
Nelson Pereira faleceu no último sábado (21). Padrinho-membro do Cinema Novo no Brasil e primeiro cineasta a entrar para a Academia Brasileira de Letras estava internado desde a quarta-feira passada, depois de descobrir um tumor no fígado. O velório e o sepultamento de Nelson ocorreram no último dia 23.
Nelson cresceu lendo nossa literatura, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Graciliano Ramos.
O jovem paulista, formado em cinema na França, estreou sua trajetória de longas no Rio de Janeiro, mostrando a realidade e a pobreza dos morros cariocas. Logo no seu primeiro filme, Rio 40 Graus (1955), ele conta a história de cinco jovens negros que corriam pela cidade vendendo amendoins. O painel social do Rio evidenciava a estrutura de classes, dando protagonismo aos oprimidos. A obra fez parte do que poderia ser entendido como neorealismo no Brasil.
Foi em Vidas Secas (1963), adaptação de Graciliano Ramos, que ele realizou sua obra clássica. Esta é uma das obras vitais do cinema brasileiro, e com ela o Cinema Novo foi projetado internacionalmente. A história narrada em linguagem concisa, tal como era o estilo de Graciliano, comoveu o mundo. Mostrou que no Brasil se fazia um cinema original, crítico e de altíssima qualidade.
Com a ditadura de 1964 e a censura sobre as artes, Nelson, fez Fome de Amor (1969) e Azyllo Muito Louco (1970).
Em Como Era Gostoso Meu Francês (1971), aproveitou a distribuição da Embrafilme, a abertura da pornochanchada e fez um filme dentro da temática brasileira dele que deu um bom retorno de público, levando mais de 800 mil espectadores aos cinemas. Também nessa época fez o Quem É Beta? (1972).
Nos anos 1970, Nelson volta-se a um cinema popular com obras como O Amuleto de Ogum (1974), Tenda dos Milagres (1977), adaptação de Jorge Amado, e Na Estrada da Vida (1980).
Em 1984, fez outra adaptação de Graciliano Ramos, em Memórias do Cárcere.
Em 1994, após o desmonte do cinema pelo governo Collor, ainda estreou sua versão dos contos de Guimarães Rosa, A Terceira Margem do Rio.
Depois, voltou-se para um trabalho semidocumental, com Cinema de Lágrimas (1995) sobre o melodrama latino-americano, e Casa Grande & Senzala (2000), adaptação da obra de Gilberto Freire e Raízes do Brasil (2004), de Sérgio Buarque.
Nelson colou nas telas os diversos tipos brasileiros, misturando misticismo com realidade social.
Em 2006, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira que foi de Castro Alves. Nelson não conseguiu realizar o que acreditava que seria seu principal trabalho, justamente um filme sobre o escritor.
Seu último filme, A Música Segundo Tom Jobim (2011), foi contado sem voz narrativa, valendo-se apenas do monumento musical erguido por Tom.
Nelson usou a estética realista para expressar a cultura popular brasileira. Depois cria uma espécie de realismo mágico com o qual traduz a evolução da sua forma de abordar o sentimento popular. Construiu um cinema inteligente, simples e elegante, referência para entender o nosso povo.
CAMILA SEVERO