Se depender dele e de Bolsonaro, o Brasil não compra uma dose sequer de vacina
Uma notícia, revelada nesta quinta-feira (25) pela revista Época, sobre a posição do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, contrária à participação do Brasil no consórcio global Covax Facility, organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mostra bem a que nível chegou a sabotagem do governo Bolsonaro à aquisição dos imunizantes contra a Covid-19.
Evidencia também que Jair Bolsonaro não quer, e nunca quis, comprar vacina nenhuma. Sempre foi um defensor da “imunidade de rebanho”, ou seja, da infecção em massa, ao invés da vacinação em massa.
Araújo, um alucinado, repetia sistematicamente as imbecilidades inventadas por Donald Trump, que alardeava que a OMS era manipulada pela China. Os ataques, dele e dos filhos do presidente, se repetiam contra a OMS e contra a China, ironicamente, hoje os únicos fornecedores de vacinas para o Brasil. A CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinvoac fornece 90% das vacinas usadas no país e o Covax Facility acaba de aportar um milhão de doses da vacina da AstraZeneca.
A coisa só não foi mais grave e chegou ao rompimento total porque uma embaixadora entrou no circuito e afastou Araújo das negociações. A embaixadora Nazareth Azevedo, então representante do Brasil para a ONU em Genebra, intercedeu e garantiu que o Brasil não rompesse com o consórcio e as vacinas pudessem ser enviadas.
A embaixadora venceu a resistência de Araújo com o argumento de que, se não aderisse ao Covax Facility, o Brasil estaria seriamente ameaçado na imunização de sua população. O mesmo chanceler teve a desfaçatez de dizer, em audiência no Senado, na quarta-feira (24), que sempre brigou pelas vacinas. Ele brigou sim, mas foi contra as vacinas, não pelas vacinas.
O nível de irresponsabilidade do governo, num momento em que o país inteiro assiste estarrecido ao aumento de internações e mortes pela Covid-19, está chegando a um nível insuportável para os brasileiros. O Brasil está dando mostras que perdeu a paciência com os terraplanistas que combatem a ciência e a medicina.
Empresários, banqueiros, ex-ministros da Fazenda, ex-presidentes do Banco Central, ou seja, a elite financeira do país, se somaram aos protestos contra o governo nesta semana. Em manifesto contra o negacionismo de Bolsonaro, eles exigiram mudanças de rumos na política de combate à pandemia.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), expressou, em discurso na quarta-feira (24), após uma reunião dele com Bolsonaro e outros integrantes do governo, a insatisfação do Poder Legislativo com os erros graves que estão sendo cometidos pela administração federal na condução da crise sanitária. O deputado fez uma clara advertência ao dizer que estava acendendo uma luz amarela diante do que está acontecendo no Brasil. Ele lembrou que os remédios do parlamento para situações como esta são “amargos” e até mesmo “letais”.
Se continuar prevalecendo no Itamaraty as ideias absurdas, desconexas e alucinadas de Ernesto Araújo e de seu principal assessor, Felipe Martins, aquele mesmo que, na quarta-feira (24), afrontou cinicamente o Senado da República fazendo o sinal símbolo dos grupos racistas e supremacistas brancos americanos, enquanto o presidente da Casa discursava, o país não conseguirá comprar os imunizantes necessários para a população.
O tresloucado dizia que se comprasse as vacinas do consórcio Covax Facility, da OMS, o país estaria se rendendo ao “terrível globalismo” que “ameaça o Brasil e o mundo”.
Araújo é daqueles que vê inimigo até embaixo da cama. Agora, depois de apontá-los em todos os lugares, passou a ter mesmo esses inimigos em vários lugares do país, inclusive no Congresso Nacional.