Enquanto a matriz espanhola do banco Santander registrou prejuízo recorde de 11,1 bilhões de euros no segundo trimestre do ano, a filial brasileira conseguiu lucrar R$ 2,136 bilhões no mesmo período.
E não é porque a economia do país vai bem: a previsão é que o Produto Interno Bruto (PIB) do país (que ainda registra altos índices de contágio de mortes diárias pelo novo coronavírus) caia mais de 6% em 2020. No período em que o lucro líquido do banco foi contabilizado (abril a junho), o mais grave em termos de medidas restritivas e paralisação da economia, a fila do desemprego cresceu e mais 1,2 milhão de trabalhadores perderam emprego com carteira assinada, entre eles, funcionários do banco espanhol.
Ao contrário do banco, 522 mil empresas fecharam as portas na pandemia, além de terem sido computados quedas assustadoras nos índices de produção, vendas e prestação de serviços.
De acordo com o comunicado de divulgação dos resultados do Santander – o primeiro do segundo trimestre entre os grandes bancos – o lucro líquido de mais de 2 bilhões de reais representa uma queda de 41,2% em relação ao mesmo período de 2019.
Acontece que o banco informou que o resultado refletiu o aumento nas reservas para a inadimplência, que dobrou no período, para R$ 6,5 bilhões. Desse total, metade corresponde a uma provisão adicional para coberturas de riscos no período da pandemia. Ou seja, sem o aumento das provisões, o lucro do banco, já existente, teria aumentado 7,2% se comparado ao ano passado – mesmo na pandemia. No semestre, o lucro líquido societário registrado foi de R$ 5,8 bilhões.
Enquanto diversos países anunciaram programas bilionários de apoio a empresas de diversos setores para enfrentarem a crise, o governo brasileiro pouco fez. Os programas de crédito do Banco Central (BC), a maior parte destinada ao socorro de micro e pequenas empresas – além dos mecanismos acionados para aumentar a liquidez do sistema bancário – não chegaram a quem mais precisava e ainda precisa. Aos bancos é dada a autonomia do “empoçamento da liquidez”, o poder de não conceder empréstimos para quem eles acham que não vai cumprir os compromissos. Ou seja: em uma crise, a ideia de que todo mundo perde um pouco vale para tudo, menos para os bancos.
Na mesma apresentação dos resultados, o Santander divulgou que a inadimplência ficou em 2,4% em junho – um recuo de 0,6 ponto percentual na comparação trimestral e também anual. Não se trata, portanto, de um índice de inadimplência nem ao menos justificável para o travamento do crédito.