Na primeira vez que um primeiro-ministro de Israel em exercício, senta-se no banco dos réus, Bibi Netanyahu, buscou intimidar os juízes, agredindo os integrantes do tribunal e ameaçando todo o sistema judiciário do país, ao falar na abertura do seu julgamento por fraude, suborno e quebra de confiança, no dia 24.
Enquanto desfiava sua série de ataques o seu aliado, presidente do Knesset, parlamento israelense, Yariv Levin, compunha o incitamento contra juízes e procuradores, afirmando, do lado de fora da Corte de Jerusalém que “o julgamento de Netanyahu será lembrado como um dos pontos mais baixos do sistema de Justiça de Israel”.
Netanyahu chegou à Corte Distrital de Jerusalém cercado pelos ministros de seu gabinete integrantes de seu partido, o Likud.
Do lado de fora, manifestantes pediam “Vá pra casa Netanyahu” e se postavam atrás de uma enorme faixa com o rosto de Bibi e a frase “Crime-Minister” (um trocadilho com o termo em inglês para primeiro-ministro, Prime-Minister).
Apoiadores de Netanyahu também se fizeram presentes com cartazes como: “Netanyahu, você nunca marchará sozinho”.
Entre os manifestantes e a entrada na sala do tribunal, ele ameaçou, dirigindo-se aos juízes: “Eu já cuidei da polícia, da procuradoria e do procurador-geral, exatamente agora vocês são os próximos da fila”.
De fato, durante o período que se seguiu a seu indiciamento e até o dia da abertura do seu processo, Netanyahu usou quase todo o tempo de seus pronunciamentos para acusar a polícia e a procuradoria-geral.
Mostrando que seu desejo é encabeçar um governo de foras-da-lei, ele preferiu, ao invés de apresentar provas contra seu indiciamento, afirmar que as acusações são “ridículas” e “corrompidas desde o primeiro dia”. Declarou ainda que: “Pessoas da polícia e da procuradoria junto com jornalistas de esquerda têm fabricado acusações ridículas, casos bizarros contra mim”.
Disse isso e passou a atacar nominalmente o procurador-geral, Avichai Mendelblit, o ex-comissário de polícia, Roni Alsheich e o jornalista da TV israelense, Raviv Drucker.
Nas noites que antecederam a abertura do julgamento, apoiadores de Netanyahu, como que a seguir suas instruções de ataque aberto, fizeram incessantes ligações para o telefone da residência do procurador-geral com ameaças do tipo: “Não se esqueça de que você é vulnerável…chegaremos também a seus filhos”.
Minutos antes do início da sessão, o procurador afirmou em entrevista televisionada: “Este julgamento será tratado da mesma forma como qualquer outro – profissionalmente e dentro do interior da sala do Tribunal apenas. Agiremos sem medo, mesmo diante das tentativas de atribuição de motivos ulteriores às agências encarregadas de fazer cumprir a lei, uma tentativa que deve ser rejeitada a todo custo”.
A corte, encabeçada pela juíza Rivka Friedman-Feldman e composta pelos juízes Oded Shaham e Moshe Bar-Am rejeitou o pedido de um dos advogados de Netanyahu de que a próxima sessão fosse marcada para março do ano que vem “para permitir que a equipe da defesa pudesse revistar todo o material investigativo e se preparar para o julgamento”. A nova sessão está marcada para 19 de julho.
Também intensamente ameaçada pelos elementos ligados a Netanyahu a procuradora que representou o procurador Avichai Mendelblit na abertura do julgamento, Liat Ben Ari, chegou ao prédio do Tribunal cercada por seguranças.
NATHANIEL BRAIA