Na noite desta quinta-feira, 14, caças israelenses atacaram 100 alvos palestinos na Faixa de Gaza. O pretexto para o ataque foram dois foguetes lançados contra Tel Aviv. Os foguetes não causaram nenhum dano. Um caiu no mar e outro em área aberta.
Ao final deste dia, as sirenes de alerta de ataque aéreo foram ouvidas em toda a maior cidade israelense. Os abrigos públicos antiaéreos foram abertos.
É a primeira vez, desde o insano bombardeio a Gaza em 2014, quando foi usado inclusive fósforo branco (arma banida pelas Convenções de Genebra) e houve bombas atiradas contra escolas e instalações da ONU. (5.000 casas palestinas destruídas, 30.000 danificadas, 606 palestinos mortos, segundo a organização israelense B’Tselem), com diversas organizações internacionais considerando que Israel cometeu crimes de guerra em mais esta infeliz investida.
A organização palestina Hamas, que domina a Faixa de Gaza e que neste momento realiza encontros com representantes da Autoridade Nacional Palestina, mediados pelo Egito, declarou imediatamente que não tem responsabilidade no ataque com os foguetes contra Tel Aviv ou qualquer outra região israelense (outros 7 foram lançados em terrenos baldios nas vizinhanças de Gaza. Aliás, uma incrível precisão para o erro).
As três principais outras organizações que atuam com forte presença na Faixa de Gaza: Jihad Islâmico, Frente Popular de Libertação da Palestina e Comitês de Resistência, declararam que não têm autoria na ação desta quinta-feira.
Em fato inédito, a direção do Hamas se propôs a ajudar os israelenses a localizar os atores dos disparos, sem conseguir aplacar a ira vindicativa israelense.
No sábado, dia 9, um foguete já havia sido lançado de Gaza contra Israel e as forças armadas israelenses já haviam respondido com bombardeios à região palestina.
Desta vez, além das sirenes em Tel Aviv, houve uma reunião de emergência do Gabinete de Segurança, convocada por Netanyahu.
Toda a elevação da tensão acontece 3 semanas e meia antes das eleições gerais previstas para do dia 9 de abril.
Netanyahu, que concorre a um novo mandato de primeiro-ministro, está atrás do seu principal concorrente, o general Benny Gantz, devido, principalmente, a implicação em 4 casos de corrupção investigados pela polícia israelense, acerca de dois dos quais, o procurador-geral, Avichai Mandelblit, já declarou que as investigações e estudos foram concluídos e que pretende pedir o indiciamento do premiê, que aparece atrás do seu concorrente Benny Gantz nas pesquisas.
Tendo em vista o eleitorado, em grande parte submetido a uma “educação” que bate na tecla de que só mediante a força e o terror Israel consegue sobreviver ao “inimigo” palestino, fazer o “inimigo” mostrar suas garras (através de foguetes inócuos, claro, e bastante ruído de sirenes e chamadas urgentes nas TVs e rádios) pode sempre render alguns dos votos necessários para que Netanyahu vire o jogo eleitoral.
Em situações de risco de guerra, o eleitorado israelense tende a votar com quem está no poder e está a cargo das hostilidades, ao invés de arriscar mudanças.
Portanto, o que está em jogo pode perfeitamente ter levado à armação de uma operação de bandeira trocada. Conseguir alguns infiltrados para atirar uns foguetes desde Gaza não é uma tarefa impossível para os serviços secretos de Israel.
Até mesmo o Estado Maior das Forças de Israel já assumiu que “militantes do Hamas podem ter atirado os foguetes por erro” (jornal Haaretz, edição de 15 de março).
Que os israelenses e os palestinos paguem por mais uma rodada de sangue e ódio entre povos vizinhos e de ancestralidade comum, pouco importa aos chefes do regime supremacista israelense, ou mesmo aos seus principais concorrentes, que desafortunadamente preferem não arriscar perder votos falando de paz.
Seu principal concorrente, general Benny Gantz, que estava à frente do Estado Maior de Israel durante a criminosa operação de 2014 (denominada Operação Margem Protetora) prefere não arriscar com alternativas e apresta-se a substituir as mãos sujas de Netanyahu, propondo mais um banho de sangue, declarando que o “ataque” palestino foi “severo” e que Israel tem que responder “com meios significativos e duros” para “renovar sua deterrência” e que os tais foguetes “se somam a muitos incidentes que experimentamos nos meses recentes. Devemos agir com decisão contra esta violação da soberania e segurança de Israel”.
Já o recentemente demitido, ex-ministro da ‘Defesa’, Avigdor Lieberman, que concorre pela sigla Yisrael Beiteinu (Israel Nossa Casa), foi mais extremista e já pediu o assassinato de líderes palestinos: “Os líderes terroristas (que é como a direita israelense se refere aos palestinos) devem pagar um preço pessoal”.
NATHANIEL BRAIA