“Ao derrubar a Carta das Nações Unidas na tribuna das Nações Unidas, eles desafiaram descaradamente o mundo inteiro”, transformando Gaza “no maior cemitério do mundo para crianças e mulheres”, condenou o presidente turco Recep Erdogan
“Assim como Hitler foi detido pela aliança da humanidade há 70 anos, Netanyahu e sua rede de assassinos devem ser detidos pela aliança da humanidade”, afirmou o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, na terça-feira (24), conclamando a comunidade internacional a “barrar o genocídio” promovido pelo primeiro-ministro israelense.
Comparando Benjamin Netanyahu ao ditador nazista, Adolf Hitler, o líder turco recordou que desde 7 de outubro, quando o regime israelense iniciou sua carnificina contra os civis, o horror contra o povo palestino foi potencializado. “O exemplo mais dramático disso é o massacre que está ocorrendo em Gaza há 353 dias”, frisou, onde “mais de 41.000 palestinos, entre eles mais de 17 mil crianças foram alvos das balas e bombas de Israel”. “Não apenas crianças; o sistema da ONU também está morrendo em Gaza, assim como as esperanças da humanidade de viver num mundo mais justo”, sublinhou.
Em seu discurso na 79ª reunião da Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, o líder turco disse que Israel transformou Gaza “no maior cemitério do mundo para mulheres e crianças”, demonstrando o objetivo da sua política de extermínio em massa. Milhares de crianças de Gaza perderam a vida até agora por não conseguirem encontrar um pedaço de pão seco, um gole de água ou uma tigela de sopa, e continuam morrendo, denunciou. “Os de Gaza, os da Cisjordânia não são seres humanos? As crianças na Palestina, elas não têm o direito de estudar, viver e brincar nas ruas?”, questionou.
“É ESSENCIAL DESENVOLVER UM MECANISMO DE PROTEÇÃO PARA OS CIVIS PALESTINOS”
Desta forma, rechaçou Erdogan, Israel comprova ser “essencial que a comunidade internacional desenvolva um mecanismo de proteção para civis palestinos”. O presidente turco também falou dos mais de mais de 10.000 moradores de Gaza, a maioria crianças, cujo paradeiro é desconhecido, frisando que 172 jornalistas foram mortos enquanto tentavam informar o mundo das atrocidades que estavam presenciando. Além disso, recordou dos trabalhadores humanitários e dos mais de 210 funcionários da ONU que atuavam para socorrer o povo de Gaza e foram executados quando lutavam contra a fome e a sede.
Antes do seu pronunciamento, Erdogan expressou satisfação em ver o representante da Palestina na ONU, após tantas e tão árduas lutas, ocupando o lugar “que merece entre os Estados-membros”. “Desejo que este passo histórico seja o último estágio no caminho para a filiação da Palestina às Nações Unidas. Também convido outros estados que ainda não o fizeram, a reconhecer o Estado da Palestina o mais rápido possível e a tomar seu lugar no lado certo da história neste período tão crítico”, assinalou.
Admitindo que é líder de um país que está no “epicentro” das tensões, defendeu justiça: “Mesmo que alguns se sintam desconfortáveis, mesmo que alguns nos critiquem novamente, desejo falar abertamente certas verdades hoje, em nome da humanidade, da tribuna comum da humanidade”.
Para Erdogan, infelizmente a ONU não está cumprindo a missão de quando foi fundada, “transformando-se gradualmente numa estrutura disfuncional, difícil de gerir e inerte”. “Testemunhamos que a paz e a segurança internacionais são importantes demais para serem deixadas à arbitrariedade dos cinco privilegiados”, declarou o presidente, acrescentando que, desde há muito tempo, pressiona por reformas na ONU.
Usando o slogan “O mundo é maior que cinco”, referindo-se à composição cada vez menos representativa do Conselho de Segurança, Erdogan apontou que “ao derrubar a Carta das Nações Unidas” desde a própria ONU, “eles desafiaram descaradamente o mundo inteiro, todas as pessoas conscientes daqui desta tribuna”.
“CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO ISRAELENSES REVELAM A BARBÁRIE”
De acordo com o líder turco, as imagens vazadas das prisões que Israel transformou em “campos de concentração indicam muito claramente que tipo de perseguição estamos enfrentando”. Erdogan convocou o Conselho de Segurança a impedir o “genocídio” em Gaza e a pôr “fim a esta crueldade, a esta barbárie”.
De forma enfática, Erdogan expressou “em alto e bom som” que o massacre em curso na Palestina é “um indicador do enorme colapso moral”. “O que mais vocês estão esperando para deter a rede de massacres que põe em risco também as vidas de seus próprios cidadãos, juntamente com o povo palestino, e arrasta toda a região para a guerra em prol de suas perspectivas políticas? Por quanto tempo vocês continuarão a suportar a vergonha de assistir a esse massacre, de serem cúmplices dele?”, perguntou.
“Ignorando os direitos humanos básicos, o governo israelense está praticando limpeza étnica, um genocídio aberto contra uma nação, um povo, e ocupando seu território passo a passo”, disse o líder turco à Assembleia da ONU. No pronunciamento cobrou o fim das vacilações, pois não haveria como esse banho de sangue ser sustentado sem a agressão de Israel contra o povo palestino. “É o apoio incondicional” de um punhado de países a Israel, que permite a carnificina, o que os torna “abertamente cúmplices”.
“Aqueles que supostamente estão trabalhando por um cessar-fogo sob os holofotes continuam enviando armas e munições para Israel nos bastidores, para que ele possa continuar seus massacres. Isso é inconsistência e falta de sinceridade”, concluiu.