
Em sua primeira etapa, o campo de concentração aprisionará 600.000 palestinos, mas o plano é atulhar dois milhões em uma área de menos de um terço da Faixa de Gaza, uma das regiões já mais densamente povoadas do Planeta
Na sua viagem a Washington, Netanyahu detalhou seu plano para “um futuro melhor” aos palestinos de Gaza.
A repórteres, Netanyahu asseverou que Washington e Tel Aviv estavam “trabalhando com outros países” para dar aos palestinos “um futuro melhor”, uma vez deportados de Gaza. Declaração que possivelmente parecerá à Corte Internacional de Justiça da ONU mais uma autoincriminação.
“Se as pessoas quiserem ficar, podem ficar, mas se quiserem sair, devem poder sair. Gaza não deveria ser uma prisão. Deve ser um lugar aberto e dar às pessoas uma escolha livre”, disse Netanyahu, no cinismo de tentar colar o exílio (continuação da Nakba) forçado enquanto estabelece campos de concentração na Faixa de Gaza para os “que quiserem ficar”.
O que não falta atualmente aos palestinos são oportunidades de “livre escolha”, como mostram as pilhas de destroços por toda a parte, praticamente toda a população desalojada de suas casas, hospitais bombardeados, 57.500 mortos, fome, e as cenas de civis abatidos a tiros quando tentavam conseguir um saco de farinha nas quatro armadilhas mortais da assim chamada Fundação Humanitária de Gaza, montada conjuntamente pelos EUA e Israel.
“Estamos trabalhando com os Estados Unidos muito de perto para encontrar países que queiram dar aos palestinos um futuro melhor”, insistiu o genocida, acrescentando estarem “chegando perto de encontrar vários países”.
SOBRE AS RUÍNAS DE RAFAH
O ministro de “Defesa’ israelense, Israel Katz, anunciou esta semana que instruiu o exército a preparar um plano para estabelecer um campo de concentração nas ruínas de Rafah, cidade localizada no extremo sul da Faixa de Gaza, onde pretende amontoar toda a população palestina.
O governo de Netanyahu estima, inicialmente, que 600 mil palestinos que estão lutando para sobreviver na área costeira de Mawasi, perto de Rafah, onde têm chegado nos últimos meses após serem deslocados à força de outras partes da região, serão deslocados para o que Katz chamou de “cidade humanitária”.
As informações da imprensa de Israel indicam que a construção da “cidade” começaria durante os 60 dias do cessar-fogo atualmente em negociação.
O ministro declarou que os palestinos seriam submetidos a uma triagem para garantir que não sejam membros de nenhum setor da resistência à invasão e que não teriam permissão para sair de lá, ou seja, ficariam presos. A área seria cercada militarmente por Israel e Katz afirmou que toda a população civil de Gaza, cerca de 2 milhões de pessoas, seria transferida para o campo de concentração.
A intenção é que todos os moradores de Gaza fiquem fixados nesse local. No entanto, o ministro mais uma vez promoveu a migração voluntária para outros países, uma iniciativa defendida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, no início deste ano, sem dizer para onde nem com que condições.
CRIME CONTRA A HUMANIDADE
Michael Sfard, advogado dos Direitos Humanos em Israel, denunciou o plano como uma violação clara das leis internacionais.
“[Katz] elaborou um plano operacional para um crime contra a humanidade. Não é nada menos do que isso. Trata-se de transferir a população para o extremo sul da Faixa de Gaza, em preparação para a deportação para fora da faixa”, assinalou Sfard.
“Embora o governo ainda chame a deportação de ‘voluntária’, as pessoas em Gaza estão sob tantas medidas coercitivas que nenhuma saída da faixa pode ser vista em termos legais como consensual. Expulsar alguém de sua terra natal seria um crime de guerra, no contexto de uma guerra. Se for feito em grande escala, como ele planeja, torna-se um crime contra a humanidade”, destacou.
NÃO É UMA CIDADE O QUE ELES TÊM EM MENTE
“Não é humanitário nem uma cidade”, disse Amos Goldberg, historiador do Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém, ao The Guardian. “Uma cidade é um lugar onde você tem possibilidades de trabalho, de ganhar dinheiro, de fazer conexões e liberdade de movimento. Há hospitais, escolas, universidades e escritórios. Não é isso que eles têm em mente”, acrescentou o professor, observando que o que está sendo proposto “não oferece condições dignas e habitáveis, servindo como um campo de concentração ou campo de trânsito para os palestinos antes de serem expulsos”.
O presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Ualid Rabah, também comparou o projeto a um “campo de concentração”.
“Esse campo de concentração vai estar cercado belicamente, então ele será um campo de concentração 100%, em que a ração humana será coordenada pela ocupação e será administrada a vida dessa população para a transferência compulsória. Então nós estamos agora em mais uma sinistra etapa, portanto, da Solução Final por meio do campo de concentração”, afirmou.
Em abril passado, o próprio Katz já havia anunciado que o exército tomaria grandes áreas de Gaza, que seriam adicionadas às chamadas “zonas de segurança” para expulsar “terroristas”. Para conseguir isso, as tropas israelenses expandiriam as ordens de “evacuação” — descritas pela ONU como deslocamento forçado — atingindo a Faixa com ataques maiores.