Netanyahu, sem dar explicações, deixou de comparecer ao que seria uma grande aclamação para que continuasse à frente da coligação Likud, no esforço insano de formar gabinete ministerial com ele à frente.
Acontece que ele acabou de ser derrotada nas eleições de 17 de setembro, pelo estreante Benny Gantz e sua também estreante coligação Kahol Lavan (Azul e Branco).
Depois de desafiado por algumas lideranças destacadas de seu bloco, um ex-ministro de seu governo, o deputado Gideon Sa’ar, à frente, foi convocada para o dia 10 de outubro uma plenária do Comitê Central do Likud, que abriga 3.800 integrantes (resquícios do tempo de glória e de domínio político israelense dos direitistas sedentos de sangue árabe no período pós assassinato de Itzhaq Rabin, quando havia que acomodar bastante gente).
Para sua desagradável surpresa, quando Netanyahu foi informado de que no auditório capaz de abrigar toda a parafernália likudista só havia 300 pessoas, menos de 10% dos integrantes da direção, Netanyahu decidiu-se pela ausência. Na opinião de Yossi Verter, colunista do Haaretz, o motivo só pode ser um: o medo da fotografia diante das fileiras de cadeiras vazias.
Arguido poucos dias antes pela Procuradoria Geral do Estado de Israel em questões referentes a três processos por fraude, suborno e quebra de confiança, o que pode jogá-lo atrás das grades, como, aliás, já aconteceu com o ex-premiê Ehud Olmert, Netanyahu só está com a tarefa de formar em torno de si um gabinete ministerial, por indicação do presidente Reuven Rivlin, porque conseguiu reunir 55 apoiamentos (13 além das parcas cadeiras alcançadas pelo Likud, em um desengonçado apoio dos ultraortodoxos judeus e os da chapa Yemina – Rumo à Direita, em hebraico – cuja cabeça é ocupada por uma candidata que se assumiu abertamente como fascista). Mas, há mais de uma semana da tarefa não consegue passar disso.
Aqui, uma pequena digressão sobre a fascista Ayelet Shaked, a mesma que já disse ser ‘justo matar mulheres palestinas grávidas’ para evitar o nascimento de “terroristas”. Tanto ela, quando seus pares a exemplo de Smotrich, que acaba de dizer que os palestinos “são hospedes em Israel” e que não ficarão lá “por muito tempo”, se dizem exemplares “nacionalistas judeus”. Como pode? Uma admiradora do fascismo, aliado de primeira hora do nazismo que bestialmente perseguiu exatamente os judeus, se dizer apoiador radical do judaísmo? Não é bestial?
Mas, voltemos ao tema central.
A reunião com os menos de 10% elementos da direção likudista que ainda nutrem a esperança de desfrutarem de mais um mandato em cargo público israelense sob o manto corrupto de Netanhyahu, aprovou sua candidatura a premiê. Mais uma vez acertou o colunista Verter, com apenas 300 dos 3.800 votos possíveis: “Um carimbo e uma demonstração de fraqueza de Netanyahu”. De fato, se nem ao seu partido consegue empolgar mais…
Vale, acredito terminar esta matéria com mais uma lembrança recente. Quando ele perdeu para Gantz, nas eleições de 17 de setembro, aquele que Bibi ostentava como grande aliado, Donald Trump, de quem Netanyahu espalhou cartazes do tamanho de prédios, de mãos dadas ao chefe da Casa Branca com afetivos sorrisos e a afirmação: “Uma liga diferente”, como demonstração de força aos eleitores, nem se dignou a ligar para expressar solidariedade. Questionado sobre o dar de ombros a um “amigo” Trump foi lacônico: “Meu compromisso é com Israel”. Será?