Cronometrado com a viagem do secretário de Estado Mike Pompeo ao Oriente Médio, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, realizou na segunda-feira (30) uma bombástica perfomance na tevê, em que acusou o Irã de “trapacear o acordo” assinado com sete partes por Teerã e asseverou ter “novas e conclusivas provas”, “dezenas de milhares” de documentos do que chamou “arquivos atômicos do Irã”.
O ex-inspetor-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Olli Heinonen, que na época foi responsável pelas salvaguardas do acordo nuclear com o Irã, disse que seu departamento viu essa alegada ‘documentação’ em 2005 e que na apresentação de Netanyahu na tevê “só viu um monte de figuras que já havia visto antes”.
O acordo encerrou sanções ao Irã em troca de inspeções e limites ao seu programa nuclear pacífico e ao enriquecimento de urânio, tendo sido assinado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança – EUA, Rússia, China, França e Inglaterra -, mais a União Europeia, e Teerã, estando em vigor desde 2015. A fiscalização é feita pela AIEA.
Com o presidente Trump anunciando que irá decidir sobre se fica ou se retira do acordo assinado pelo presidente Obama até o dia 12, a manutenção do acordo nuclear com o Irã tornou-se uma questão chave da política internacional.
Os demais signatários consideram que deve ser mantido. O acordo também está sustentado numa resolução do Conselho de Segurança da ONU. Rússia e China se manifestaram contra qualquer modificação, enquanto Berlim, Londres e Paris consideram ser possível negociar acréscimos para atender Trump, desde que não acabe o acordo atual e se fique “sem nada”.
Até Macron, que andou fazendo meia volta no salão Oval, depois em telefonema com o presidente iraniano Rouhani comprometeu-se com o acordo “com todos os seus elementos”.
O Irã já refutou qualquer nova exigência quanto a um acordo cuja negociação levou 13 anos, e alertou que se retirará, se Trump rasgar o acordo, e poderá religar as centrífugas.
É nesse quadro que se insere a pirotecnia de Netanyahu. A AIEA tem afirmado, após as duras inspeções periódicas das instalações iranianas, que Teerã está cumprindo com tudo o que se comprometeu. Até Trump, no trimestre anterior, teve de subscrever essa não-violação.
Agora, Netanyahu diz que “o Irã mentiu”, em discurso direto do QG do exército israelense em Tel Aviv, para a provocação ser mais explícita. Ele acrescentou já ter “compartilhado” com os EUA os supostos “arquivos atômicos” do Irã. Desde 2015, quando entrou em vigor, a AIEA segue executando um rígido calendário de inspeções, e o Irã cumpre o que se comprometeu em termos de capacidade e teor de enriquecimento de urânio e desativou instalações.
Ainda conforme Heinonen, seu departamento viu pela primeira vez a ‘documentação’ de Netanyahu em 2005. A conclusão da AIEA (em 2008) foi que, embora fosse factível que houvesse existido o suposto “projeto Amal”, comprovadamente até 2003 tinha sido encerrado qualquer trabalho substancial nele.