O primeiro-ministro israelense, Bibi Netanyahu, terá que comparecer, no dia 17 do próximo mês, à primeira audiência do seu julgamento por corrupção, que envolve – segundo a acusação – fraude, suborno e quebra de confiança. A sessão acontecerá duas semanas apenas após as próximas eleições ao Knesset (parlamento israelense) a se realizarem no dia 2 de março.
A data foi marcada há dois dias pela notável juíza que presidirá o caso, Rivka Friedman-Feldman.
O julgamento ocorre depois que todas as tentativas de postergação e intimidação, incluindo acusações públicas, por parte do réu, de ser vítima de ‘perseguição política’ orquestrada pelo Judiciário, foram sendo superadas por uma crescente percepção – na sociedade israelense – do dano que a manutenção de Netanyahu no principal cargo do país pode trazer a essa sociedade, percepção essa que teve como consequência a denegação de todos os artifícios – para que se adiasse o início do julgamento – nas instâncias onde eles foram sendo apresentados.
A última das tentativas de impedir o avanço do processo foi feita por um dos auxiliares de Netanyahu, o ministro da Segurança Pública, Gilad Erdan, que estava solicitando acesso a todas as provas para – com base no posto que ocupa por indicação do acusado – recomendar sua divulgação ou manutenção sob sigilo. O movimento foi sustado pelo procurador-geral, Avichai Mandelblit, que instou Erdan a colocar suas barbas de molho pois ele também iria ser depoente em pelo menos um dos casos de corrupção envolvendo Netanyahu, ou seja, é parte interessada e, portanto, não deve se meter a mexer no processo e muito menos nas provas.
Esta foi a última das superadas manobras, não a mais rumorosa.
O que esteve sob intenso acompanhamento do público e dos dirigentes políticos e jurídicos israelenses nos meses que antecederam a atual decisão de marcar a primeira sessão de julgamento, foi o inusitado pedido de Netanyahu de uma imunidade apenas para o primeiro-ministro, ou seja, para beneficiar unicamente a si próprio.
Em sua megalomania, ele inclui o recurso a atitudes que colocam em risco o país e a região e que vão desde o incitamento racista de judeus contra árabes até provocações – seja com palavras, seja através de escaramuças militares nas fronteiras israelenses – com o intuito de provocar a eclosão de uma guerra, única forma de levar à suspensão de eleições, permitindo sua manutenção no cargo por mais algum tempo.
Agora, enfim, tudo parece indicar que a proximidade de Netanyahu a uma das celas do sistema prisional israelense, está ganhando corpo e avança, deixando para traz os titubeios que permitiram ao premiê se safar e ainda seguir no posto de mando por tanto tempo.
Sintoma disso foi a escolha dos juízes que examinarão o processo contra ele. Dias antes da determinação do distrito onde o julgamento ocorreria, Netanyahu, com a habilidade de um elefante na cristaleira, somente possível desde o patamar de arrogância do qual se permite dirigir aos demais membros da sociedade em que se pretende dirigente, disse que preferia ser julgado em Jerusalém ao invés de Tel Aviv e que a razão para isso (que, segundo os analistas políticos locais, seria a maior influência que teria sobre os juízes da capital, onde se estabeleceu como premiê há mais de uma década), residiria, segundo ele, no fato de que “os juízes de Jerusalém vão à sinagoga, enquanto os de Tel Aviv, à filarmônica”, como se uma visão mais secular da vida ou da relação religião-Estado gestasse alguma barreira na capacidade de julgamento dos juízes israelenses.
Bem, o distrito em que será julgado será o de sua preferência, ou seja, Jerusalém. Mas sua almejada vantagem para por aí. Dos três juízes, pelo menos dois são conhecidos por sua dureza no enfrentamento de casos de corrupção, com destaque para a juíza, Rivka, que preside o processo a partir da fase atual e que teve participação decisiva no julgamento do premiê Ehud Olmert, que antecedeu Netanyahu.
Flagrado recebendo envelopes com dinheiro de um empresário norte-americano, Olmert acabou tendo que amargar 1 ano e quatro meses de cadeia, tendo saído sob liberdade condicional em julho de 2017.
Com a determinação da data do início do julgamento, avolumam-se as dificuldades para que Netanyahu permaneça à frente dos destinos do país.
Em primeiro lugar, se os resultados da eleição anterior se repetirem, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, pode ter que passar pelo constrangimento de indicar Bibi Netanyahu a mais uma frustrante tentativa de montar governo, um dia antes dele sentar no banco dos réus.
Além disso, mesmo que Netanyahu, reunisse apoio suficiente para ser indicado a tentar formar um gabinete, ainda precisaria – no sistema parlamentar israelense – de 61 dos 120 deputados do Knesset para que sua proposta de governo fosse aprovada. Acontece que as pesquisas mais recentes, divulgadas pelo jornal israelense, Haaretz, preveem que ele terá apenas 56 parlamentares a seu lado, número insuficiente para instalar um novo gabinete ministerial.
Além disso, um dos possíveis desdobramentos do início do julgamento de Netanyahu é que mais parlamentares migrem para o apoio ao opositor, Benny Gantz que, segundo as pesquisas, chegaria a um resultado que lhe daria condição de formar governo, precisando apenas do apoio de apenas mais três deputados dentre os que ainda se mantém, até agora, fiéis a Bibi, mas com uma adesão a uma montagem de governo com ele à frente que vai se fragilizando e que vem se tornando cada vez mais impossível de realizar.
NATHANIEL BRAIA