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Entre as revelações vazadas, a de que um dos artigos com falsidades publicado pelo jornal do Império foi escrito por agente da inteligência israelense
CAITLIN JOHNSTONE*
O meio de propaganda imperialista The New York Times está atualmente envolvido em um enorme escândalo sobre suas reportagens que alegam estupros coletivos em 7 de outubro – e o escândalo está sendo alimentado em parte por vazamentos de sua própria equipe de jornalistas.
Caso você não esteja acompanhando a história, em dezembro o Times publicou um artigo intitulado “’Gritos sem palavras'(Screams Without Words): como o Hamas armou a violência sexual em 7 de outubro”, que estava repleto de contradições que foram expostos por pesquisas de revistas como The Grayzone, Electronic Intifada e Mondoweiss. Mais tarde, foi divulgado, com a ajuda de uma conta anônima no Twitter chamada “zei_squirrel”, que um dos três autores do artigo do New York Times — Anat Schwartz — é uma veterana da inteligência israelense que apoia o genocídio e que nunca havia trabalhado com jornalismo antes, e que outro autor da peça – um escritor de culinária chamado Adam Sella – é sobrinho de seu cônjuge.
No final de janeiro, uma reportagem do The Intercept revelou que havia um grande conflito interno no The New York Times sobre a solidez da reportagem em “Screams Without Words”, com um podcast do Times dedicado ao artigo, adiado e depois cancelado quando sua equipe não concordou se deveria manter o relatório original e arriscar uma retratação embaraçosa, ou apresentá-lo sob uma luz menos certa e anunciar tacitamente que não tinham confiança no seu relatório.
NENHUMA EVIDÊNCIA
Outro dia, o The Intercept publicou um artigo de acompanhamento que incluía mais informações de fontes do New York Times, bem como confissões contundentes que Schwartz fez em hebraico em um podcast israelense sobre o processo de publicação de “Screams Without Words”. Os comentários de Schwartz deixam claro que em todos os lugares em que ela olhou no início da sua investigação não encontrou nenhuma evidência de agressão sexual, só encontrando “evidências” quando ela passou para fontes completamente desacreditadas, como o grupo ultraortodoxo Zaka. Também deixa claro que foi o The New York Times quem abordou Schwartz para ajudar a escrever “Screams Without Words” por sua própria iniciativa — então este escândalo é responsabilidade do jornal.
Em resposta aos vazamentos no primeiro artigo do Intercept, o The New York Times lançou uma grande investigação sobre como vazaram as informações para determinar quem as divulgou, em especial acerca dos conflitos internos no jornal, para fontes externas. Vários funcionários anônimos do New York Times disseram a Charlotte Klein, da Vanity Fair, que não conseguiam se lembrar de semelhante investigação ter ocorrido antes e que a acharam desconcertante.
“Não é algo que fazemos”, disse uma fonte a Klein. “Esse tipo de caça às bruxas é realmente preocupante”
Portanto, os funcionários do New York Times não estão apenas vazando informações sobre conflitos internos nos bastidores do jornal, mas também estão informando sobre a investigação em torno desses vazamentos.
ÁRABES DISCRIMINADOS NO NYT
E agora o Times Guild (sindicato do jornal NYT) enviou uma carta para a editora do New York Times AG Sulzberger (cuja família publica o jornal há mais de um século), acusando a administração do NYT de estar discriminando funcionários árabes e muçulmanos para interrogá-los por suspeita de vazamento. Imaginem a indignação se um meio de comunicação acusasse explicitamente os judeus sob suspeita de trair os seus interesses por causa de uma história relacionada com Israel.
Isto está acontecendo porque a propaganda necessária para cobrir um genocídio ativo diverge tão fortemente daquilo que os jornalistas foram treinados para esperar de um meio de comunicação que até mesmo o pessoal bastante leal ao establishment da grande imprensa está assustado com isso. A cobertura do New York Times sobre a destruição de Gaza por Israel tem sido tão abertamente tendenciosa a favor dos interesses dos EUA e de Israel que está começando a despertar as pessoas dentro do próprio meio de comunicação — pessoas cujo trabalho não oficial é escrever propaganda para o Império Americano.
Esta é uma das fraquezas do Império: depende de pessoas comuns para operar as engrenagens de suas instituições e essas pessoas têm sido enganadas sobre o que são essas instituições e o que fazem. Vimos isto ilustrado recentemente na autoimolação de Aaron Bushnell, que, segundo o seu amigo Levi Pierpont, inicialmente se alistou nas Forças Aéreas dos EUA para viajar e ver o mundo, mas foi rapidamente radicalizado pelo que viu no interior da máquina de guerra dos EUA. Também vimos isso na forma como a equipe da CNN tem fornecido informações a outros meios de comunicação sobre as políticas de parcialidade pró-Israel da rede, e como ocorrem os protestos internos e as demissões na administração Biden por causa de Gaza.
O Império ocidental não pode funcionar sem (A) pessoas comuns e (B) mentiras e propaganda ininterruptas, e, o quanto maior o descaramento e desajeitado o ‘B’ se tornar, mais entrará em conflito com a sua necessidade de ‘A’. O império terá dificuldade em fazer com que seus cidadãos aceitem lançar suas bombas, mover a sua maquinaria de guerra, criem a sua propaganda e administrem as suas agências governamentais se continuar a agir de forma que entre em conflito dramático com aquilo que os ocidentais foram ensinados a acreditar sobre a sua sociedade, os seus meios de comunicação social, seu governo e seu mundo.
É por isso que às vezes você verá o Império recuar antes de tomar as ações mais horríveis que poderia tomar. Isso não acontece porque é moral ou gentil, acontece porque não pode dar-se ao luxo de despertar muitas pessoas para a sua depravação. Essa é a linha que tem feito o Império andar na corda bamba nestes últimos cinco meses, e quanto mais atenção nós, pessoas comuns, pudermos chamar para o conflito entre suas ações e as narrativas sobre si mesmo, mais se agitará aquele fio fino sobre o qual os seus pés lutam para se equilibrar.
*Caitlin Johnstone é poeta e jornalista autraliana