Uma delegação de bispos nicaraguenses visitou Masaya para condenar o massacre havido na cidade dias antes, quando forças governamentais e paramilitares atacaram populares entrincheirados em barricadas em oposição ao governo de Ortega. Os prelados pediram o fim da violência e se declararam a favor do avanço do diálogo para a solução do conflito entre o governo nicaraguense e grande parte da população do país, além de exigir do governo que pare os ataques armados aos manifestantes.
Álvaro Leiva dirigente da Asociación Nicaragüense Pro Derechos Humanos (ANPD), denunciou que há um uso da força “de maneira desproporcional” e que se estão empregando fusis AK 47 e Dragonov, que são armas de combate que só o Exército pode utilizar.
“Faço um chamado ao presidente Ortega que detenha la matança contra o povo de Monimbó[bairro popular rebelado em Masaya]”, manifestou Leiva, ao considerar que “é incongruente falar de diálogo e estar assassinando em massa ao povo”.
Os paramilitares e as tropas do exército nicaragüense que ainda permanecem leais a Daniel Ortega conseguiram romper as barricadas que conectavam Masaya à capital, Manágua, deixando um rastro de sangue e destruição. Conforme as organizações de direitos humanos, a criminosa ação governamental para recuperar a cidade rebelde deixou um saldo de seis civis mortos, mais de 30 feridos e 62 presos, dos quais ainda se desconhece o paradeiro.
Traição aos princípios sandinistas
Apesar das forças serem completamente desproporcionais, os massivos enfrentamentos iniciados no dia 18 de abril – provocados pelo corte no orçamento da educação e o rebaixamento do salário dos professores e da pensão dos aposentados – já provocou a morte de mais de 170 pessoas, além de centenas de feridos e desaparecidos. De forma cada vez mais aguerrida, a juventude e os camponeses lideram o repúdio à traição neoliberal do presidente Daniel Ortega e de sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, que abandonaram de vez os princípios da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que derrubou, em 1979, a corrupta ditadura pró-Estados Unidos.
No caso de Masaya, aponta o jornal mexicano La Jornada, “o operativo governamental foi encabeçado por um legendário militar sandinista, Glauco Robelo, ex-chefe de Inteligência do Exército Popular, que está aposentado há tempos, pelo menos oficialmente”. Mais uma triste figura que se soma ao neoliberalismo e mancha o seu passado, fazendo com que o trágico número de assassinatos seja o maior da história do país em tempos de paz.
Apesar da cruel repressão, todas as rodovias estratégicas do país se encontram paralisadas, os navios mercantes são cada vez mais raros e grande parte das lojas fechou suas portas. Ainda segundo o La Jornada, “a capital é um cemitério depois das oito da noite”, pois “a estas horas a vida já não vale nada”.
Condenando a política repressiva, a líder camponesa Francisca Ramirez assinalou que o povo conta as horas para que a dupla Ortega-Murillo seja apeada do poder. “Nós levantaremos cada barricada que destruírem”, frisou.
Escritora Gioconda Belli condena degeneração e mentiras de Ortega e Rosário
Em carta a Rosário, a renomada poeta, novelista e ativista nicaragüense Gioconda Belli, que chegou a dar refúgio para a então combatente, condenou sua “mania de tergiversar as coisas e a habilidade de distorcer a realidade, das quais fui testemunha mais de uma vez”. Sobre a dor dos que perderam a vida, Gioconda condenou a “mentira cínica e sem escrúpulos”, que “busca se eximir de culpa enquanto apresenta aos agredidos como agressores; como se as pombas atirassem nas escopetas”.
“Como podes, Rosário, enviar tua ministra da Saúde, Sonia Castro, a dizer que ninguém foi impedido de ingressar nos hospitais, que a ninguém se negou auxílio, quando há provas e mortos que testemunham como se negou atenção médica aos jovens estudantes? Por que não falas com a mãe de Álvaro Conrado, de 15 anos, que morreu porque lhe negaram acesso ao Hospital Cruz Azul? Ela te dirá a verdade, como te diriam outras mães se te atrevesses a escutá-las. Eu vi a ministra Castro negar a entrada dos estudantes de medicina ao hospital de León como represália por terem participado nos protestos. As rejeições dos hospitais estão gravadas em vídeo pela população. Não são fantasias das vítimas”.
E concluiu Gioconda: “Nem você, nem Daniel passarão à história na página colorida e magnífica que haverás imaginado. A vocês, nem a história, nem o povo os absolverá jamais”.
É impressionante como o cala a boca, e a maldade ao menos favorecidos está em todo o lugar. A força de cima para baixo ainda tem peso e massacra qualquer força de expressão popular!
Boa matéria!