Milhares de nicaraguenses marcharam, no domingo 13, desde as principais cidades do país até Masaya, berço histórico da luta sandinista contra a ditadura de Somoza, cuja população foi viveu violentos enfrentamentos, incêndios e saques que deixaram pelo menos um morto e mais de 150 feridos, nos últimos dias.
Nesse contexto, o Exército da Nicarágua tomou distância, no sábado, 12, da atuação do presidente Daniel Ortega ao afirmar que “não reprimirá” a população que se manifesta contra o governo.
“Não temos porque reprimir” o povo que se manifesta nas ruas, frisou o porta-voz do Exército, coronel Manuel Guevara. “Acreditamos que o diálogo é a solução” para resolver a atual crise, disse, referindo-se às generalizadas manifestações de protesto e bloqueios de estradas que provocaram mais de 60 mortos.
A caravana que saiu da capital, Manágua, e de várias outras cidades, se dirigiu à Masaya, cidade de 170 mil habitantes, a maioria agricultores e artesãos, localizada a 25 quilômetros da capital, onde no sábado, dia 12, a população resistiu com pedras, estilingues e morteiros caseiros à investida da polícia, que no domingo voltou aos quartéis. A marcha incorporou em seu caminho milhares de manifestantes que aderiram à exigência de justiça pelo assassinato de dezenas de pessoas nos protestos iniciados por estudantes universitários em 17 de abril. Reivindicam ainda mais verbas para a educação, melhores salários e empregos.
O governo, atendendo à recomendação do Fundo Monetário Internacional (FMI), tinha anunciado um aumento nas contribuições para a Previdência de 3,5% para os empregadores (de 19% a 22,5%) e de 0.75% para os trabalhadores (aumentando de 6.25% para 7%), cortando em 5% as pensões dos aposentados. Encurralado por grandes e sucessivas manifestações, o presidente Daniel Ortega cancelou a reforma. Mas os protestos não pararam.
O sacerdote Augusto Rodríguez, pároco da igreja de San Sebastián, bairro indígena de Monimbó em Masaya, relatou que desde a sexta-feira passada, dia 11, viveram dias de repressão duríssima e de violência de grupos paramilitares apoiados pela polícia, que atacaram a população e queimaram casas e comércios.
O dirigente da Associação Nicaraguense de Proteção de Direitos Humanos, Álvaro Leiva, denunciou que os enfrentamentos na região deixaram 150 feridos, além da morte de um jovem por impacto de bala.
A polícia recolheu-se para a agência da instituição no centro de Masaya, como resultado de uma trégua alcançada na madrugada de domingo entre autoridades, representantes da Igreja católica da localidade e organismos de direitos humanos.
A marcha de Masaya é a quarta que se realiza contra o governo de Ortega desde que estourou a crise no país centro-americano.
Na segunda-feira, 14, os taxistas de Manágua começaram uma greve contra o aumento do preço dos combustíveis. Bloquearam ruas e avenidas com seus automóveis, o que provocou um caos no trânsito.