Milhares de pessoas se reuniram em passeata para exigir “Paz e Justiça” ao governo da Nicarágua, na cidade de Manágua, no sábado (28). O ato foi convocado pela Igreja do país, em apoio à proposta de diálogo do governo de Daniel Ortega, que recuou de prosseguir com a reforma previdenciária, ditada pelo FMI. Na repressão aos protestos contra a reforma morreram 41 manifestantes e houve dezenas de feridos.
“Peregrinamos como um só povo em busca de justiça, paz e reconciliação”, afirmou o cardeal Leopoldo Brenes, líder da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN), durante a manifestação realizada poucos dias depois da igreja católica aceitar mediar o debate entre o governo e os opositores à suposta reforma da previdência.
“Queremos paz”, cantavam os nicaraguenses vestidos de azul e branco, as cores da bandeira do país, enquanto marchavam rumo a Catedral Metropolitana. A atividade foi convocada por líderes da igreja católica com apoio dos familiares das vítimas, reunindo também os movimentos sociais do país.
Durante o ato, realizado em frente a catedral, o cardeal Brenes disse que aceitou ser testemunha e mediador do diálogo convocado pelo governo Ortega, mas exigiu que no prazo de um mês o governo demonstre seu “compromisso real para cumprir os acordos. Se observamos que não estão dando estes passos, vamos suspender tudo e dizer ao povo de Deus que não podemos prosseguir”.
A atividade contou com centenas de camponeses, vindos do sul do país, que também denunciaram os crimes e a violência. “Não vamos aceitar essa polícia de choque terrorista em nossas manifestações”, afirmou Francisca Ramírez, líder dos camponeses que também denunciam a proposta de construção do canal Interoceânico, encabeçado pelo empresário chinês Wang Jing, que recebeu a concessão da obra do governo Ortega, sem discussão dos danos com os agricultores.
A tal reforma da previdência, que no fundamental atende as exigências do FMI, se resume a um corte de 5% nas pensões dos aposentados ao passo que eleva a contribuição patronal de 19% para 22,5%, ao passo que eleva de 6,25% para 7% a contribuição dos trabalhadores.
A medida foi suspensa pelo governo no dia 21 de abril, mesmo dia no qual a igreja foi convidada para mediar a discussão. Tanto a igreja quanto os demais setores envolvidos exigem a punição dos responsáveis pelas mortes ocorridas nos protestos.
GABRIEL CRUZ