Os nicaraguenses voltaram a tomar as ruas no último sábado contra os desmandos do presidente Daniel Ortega e exigir a libertação de todos os presos políticos, muitos deles encarcerados desde os protestos iniciados em abril do ano passado. A concentração ocorrida em vários pontos da capital, Manágua, aumentou a pressão sobre o governo, que tem reprimido com violência os oponentes à sua política de redução de benefícios sociais.
Conforme os organizadores do ato denunciaram, com depoimentos confirmados por várias testemunhas, muitas pessoas foram espancadas pela polícia. Vídeos que circulam nas redes sociais também confirmam a agressão de civis.
Em comunicado oficial, a polícia nacional, argumentou que prendeu 107 manifestantes no último final de semana porque os detidos participaram de protestos que “não foram autorizados e que interromperam a ordem pública e os negócios locais”. Ainda segundo a declaração, todos os presos foram posteriormente libertados após um pedido da representação do Vaticano na Nicarágua. Os organizadores do protesto denunciam que foram 164 detidos.
Segundo o jornal nicaraguense, El Confidencial, a libertação só veio após pressões sobre Ortega. Desde as lideranças locais da Igreja até representantes do Vaticano, assim como setores que participam da mesa de discussão com o governo, todos deixaram claro que a prisão de manifestantes significava a interrupção das negociações.
Desde abril, mais de 320 civis foram mortos e cerca de 600 continuam detidos, denunciam organizações de direitos humanos. Oficiais militares libertaram um grupo de 50 prisioneiros na sexta-feira, seguindo as exigências da oposição de que mais manifestantes fossem libertados antes que as negociações políticas pudessem continuar. O governo liberou outros 100 no final de fevereiro, quando abriu diálogo com a oposição. No mês passado, Ortega disse estar disposto a reformar as instituições do Estado antes das eleições presidenciais de 2021.
As lideranças destacadas do sandinismo, que não aceitam o regime ditatorial de Otega e sua esposa, Rosário Murillo, defendem a libertação imediata de todos os presos políticos. Personalidades como Ernesto Cardenal, Dora María Téllez, Víctor Hugo Tinoco, Mónica Baltodano, Jaime Wheelock, Alejandro Bendaña, Sergio Ramírez ou Henry Ruiz, todos lideranças históricas da Frente Sandinista no momento da revolução que depôs o ditador Somoza, condenam a política vigente na Nicarágua nos dias de hoje.
“O atual governo da Nicarágua usa algumas vezes um discurso de esquerda, uma estridência nas palavras que nada tem a ver com sua prática real, muito distante de um projeto progressista. Pelo contrário, na Nicarágua se fortalecem e enriquecem os banqueiros, a oligarquia tradicional e grupos econômicos formados de elementos que participaram da revolução antisomozista, mas que renegaram seus princípios e se tornaram especuladores. Têm se aproveitado disso, os mais reacionários da hierarquia católica”, assinalou a outrora comandante guerrilheira Mónica Baltodano.