Pelo menos 39 nicaraguenses, entre eles dirigentes de oposição ao governo de Daniel Ortega, foram presos pela polícia na segunda-feira, 15, na capital, Manágua, provocando o rechaço e a condenação por parte de personalidades do país e organismos de direitos humanos internacionais.
Os eventos ocorreram no setor comercial da cidade, onde os manifestantes haviam se reunido para realizar a marcha “Unidos pela liberdade”, convocada pela coalizão opositora Unidade Azul e Branco (UNAB).
No sábado, a polícia proibiu as concentrações públicas sem autorização – ou seja todas e qualquer uma – e espalhou centenas de efetivos por toda a cidade. A UNAB esclareceu que não pediriam permissão porque a Constituição Política garante o direito à reunião, manifestação e mobilização cidadã e porque já sabiam que a resposta seria lhes negar esse direito.
Policiais antimotins cercaram os manifestantes e detiveram dezenas deles em meio de golpes, coronhadas e violência geral, segundo imagens transmitidas pela televisão local.
Entre os detidos estão o dirigente do Movimento por Nicarágua (MpN), José Antonio Peraza, a presidente do Movimento Renovador Sandinista (MRS), também de oposição, Suyen Barahona, a ex-presidente da mesma organização, Ana Margarita Vijil, e a ativista Tamara Dávila Rivas.
O MRS, partido injustamente proscrito, tem sido acusado pelo governo de fomentar “um golpe de Estado terrorista” para derrocar o presidente, Ortega. Seus líderes são ex-guerrilheiros e intelectuais que participaram na revolução sandinista (1979-1990), como Victor Hugo Tinoco Fonseca e Dora María Téllez.
Simultaneamente os acontecimentos do setor comercial de Manágua, oficiais de Migração retiveram no aeroporto “Sandino” às defensoras de direitos humanos Haydeé Castillo e Lottie Cuhningham, que se iriam sair do país.
Ao comentar o ocorrido, o bispo auxiliar de Manágua, monsenhor Silvio Báez, condenou “a repressão e as detenções arbitrárias” e instou ao governo a dialogar para por fim à crise.
“O governo está aprofundando a criminalização dos protestos, pretende sequestrar a todos os que quisererem se expressar livremente e está transformando o país num cárcere”, expressou Violeta Granera, líder da Frente Ampla pela Democracia (FAD), que forma parte da UNAB.
As detenções ocorreram no mesmo lugar do primeiro “plantão” de estudantes que foi atacado por forças de choque do governo em 18 de abril, quando deu início a onda de protestos e a atual crise que enfrenta o país.
O conflito provocou 512 mortos segundo entidades de direitos humanos, apesar de que o governo só reconhece não mais de 200. São contabilizados ainda quase quatro mil feridos.
SUSANA LISCHINSKY