A greve geral do dia 14 na Nicarágua além de parar as principais cidades do país, teve ampla participação popular através das mais diversas manifestações.
Conforme combinado, assim que passou a meia-noite do dia 13, durante 10 minutos multidões por toda a Nicarágua fizeram barulho com tudo que tinham às mãos. O barulho tomou conta dos bairros populares de Manágua, quando se ouviu desde o acionar de buzinas de carros, até as batidas em panelas, passando por apitos, cornetas, assovios e palavras de ordem de “Fora Ortega! ”.
O dia 14 amanheceu com as lojas, mercados, repartições públicas, universidades e escolas vazias e postos de gasolina fechados.
O popular mercado oriental de Manágua, com más de 2 mil lojas e 20 mil comerciários e vendedores ambulantes, estava abandonado e com barricadas por todo o redor.
Cenas como essa se repetiram nas cidades de Masaya, Estelí, Matagalpa, León, Chinandega, Diriamba, Rivas, Granada e Nueva Segovia.
Em todas as cidades onde houve greve e manifestações também houve ataques perpetrados por policiais e grupos paramilitares. Na cidade de Jinotega, os moradores pediam não apenas a saída de Ortega, mas também o afastamento do prefeito Leônidas Centeno.
REPRESSÃO E BARBÁRIE
Como resultado da repressão às manifestações durante a greve pelo menos quatro manifestantes morreram.
Além disso, ao menos oito pessoas morreram na manhã deste sábado (16) durante um ataque ocorrido a uma casa na cidade de Manágua, dois dias após a greve geral realizada contra a repressão de Daniel Ortega, que em apenas dois meses deixou 178 mortos.
“Queimaram a minha família, a minha mãe e meus filhos”, afirmou uma sobrevivente não identificada ao relatar a perda de seis dos seus familiares durante o incêndio que chocou o país. Segundo a agência de notícias AFP, a mulher responsabilizou o governo em um vídeo divulgado nas redes sociais.
O incêndio criminoso ocorreu na manhã deste sábado, e além de oito mortos, deixou duas pessoas feridas, um menino com queimaduras e uma mulher que está em estado grave. Ambos sobreviveram depois de se atirar da varanda da casa de três andares.
As testemunhas afirmam que cerca de 20 homens armados com fuzis atacaram a casa com coquetel molotov. De acordo com os relatos, o incêndio foi uma represália porque os donos da casa não autorizaram que franco atiradores se posicionassem na cobertura para disparar contra manifestantes.
“Isso foi um massacre. Uma barbaridade. Esses policiais cercaram a casa e a queimaram depois que meu sobrinho se recusou a deixá-los colocar franco-atiradores no telhado”, disse à Reuters o tio do dono do edifício, José Maria Hernandez (63).
O Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos condenou “energicamente” o “massacre perpetrado pelas forças paramilitares em cumplicidade com a Polícia”. Segundo os representantes da organização, “este crime revela uma escalada da brutal repressão do regime de Daniel Ortega, que levou ao trágico resultado de mais de 178 assassinados até esta data”.
A relatora especial da Comissão de Direitos Humanos da Nicarágua, Antonia Urrejola, disse estar “triste e espantada” pela morte de crianças “queimadas vivas”.
Este último ataque também foi debatido durante as negociações do diálogo Nacional, que reúne representantes do governo, do setor privado, sociedade civil e os estudantes universitários, tendo a Conferência Episcopal como mediadora do conflito. Um dia antes do incêndio, os bispos reiteraram sua proposta por novas eleições, encaminhada a Ortega no dia sete, que por sua vez, disse estar disposto a dialogar dentro dos marcos “institucionais e constitucionais”.
A resposta a Ortega veio pelo bispo da Arquidiocese de Manágua, Silvio José Baéz, que no seu tuiter afirmou que o diálogo é importante, “mas para possibilitar uma nova convivência social em liberdade e justiça, não para alcançar um consenso de escritório, uma paz efêmera para uma minoria feliz, nem um projeto de poucos para poucos”.
SUBMISSÃO AO FMI
A paralisação de quinta se somou aos protestos contra o governo e a repressão. Durante as manifestações, ao menos quatro pessoas foram assassinadas por ataques de paramilitares contra as barricadas organizadas em diversas regiões do país.
As manifestações contra o governo Ortega se intensificaram após sua tentativa de implementar um drástico ajuste contra a previdência, reduzindo as pensões dos aposentados conforme recomendação do FMI.