Milhares de pessoas se manifestaram no domingo em Manágua e outras cidades da Nicarágua, para exigir a libertação dos detidos em protestos contra o governo de Daniel Ortega, fortemente reprimidos por grupos ligados ao governo, acusados também por bispos de atacarem várias igrejas do país.
Com faixas, bandeiras, segurando balões azuis e brancos, cores dos símbolos nacionais, com a palavra de ordem “Liberdade aos presos políticos”, os participantes percorreram vários quilômetros mais que o previsto, sendo obrigados a mudar a rota devido a repressão de forças policiais e antimotins, denunciaram os organizadores.
“Não temos medo”, entoou a multidão na praça Cristo Rei, região oeste da cidade, em meio a dezenas de policiais e manifestantes pró-governo que chegaram a bordo de caminhões gritando a favor de Ortega.
“Este povo é Elsa Valle, é Irlanda Jerez, é Medardo Mairena. Os presos políticos estão ali (nas prisões) por todos nós que estamos aqui marchando”, expressou ao Canal 100% Notícias, Carlos Valle, pai de Elsa, uma das detidas, agradecendo a presença dos manifestantes.
Outras mobilizações pela libertação dos presos políticos foram convocadas pela Aliança Cívica e os movimentos estudantis 19 de Abril nas províncias de Rivas (sul), León, Chinandega (oeste), Masaya (leste), Madriz e Nueva Segovia (norte), onde a praxe foi também a repressão e assédio através de grupos que tentavam impedir os protestos.
Na capital, o governo tentou abafar as manifestações desviando a atenção para uma caravana de veículos denominada Paz, Vida e Justiça, que com bandeiras símbolo do partido Frente Sandinista, tomado por Ortega e seus aliados, circulou por diversos pontos da cidade, observou Mercedes Dávila, mãe do líder estudantil Edwin Carcache, preso em 4 de setembro por não aceitar a diminuição das verbas para a educação e outras medidas contra a população.
As contramarchas oficialistas organizadas de última hora aconteceram em cada uma das cidades onde a oposição se manifestava e eram convocadas para a mesma hora e mesmo lugar.
O cardeal Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, lamentou os ataques contra várias igrejas do país executados por simpatizantes do governo e pediu respeito aos templos e às comemorações religiosas.
A crise na Nicarágua teve um ponto de inflexão no dia 18 de abril e até este final de semana provocou a morte de 481 pessoas, em sua maioria jovens que, segundo a Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (Anpdh), morreram pela ação de policiais e paramilitares. O governo só reconhece 198 falecidos e responsabiliza por isso a “grupos da direta terrorista”.