“Celso Furtado foi o maior economista da América Latina na segunda metade do século passado”, afirmou o economista Nilson Araújo de Souza ao jornalista e historiador, Osvaldo Bertolino, em entrevista ao Portal Vermelho no domingo (26).
“Têm várias correntes do pensamento na área de economia, de todas as correntes, eu acho que ele deu a contribuição mais profunda para a América latina, para o terceiro mundo, e para o Brasil”, afirmou Nilson. “Apesar de eu não estar de pleno acordo com tudo o que ele escreveu, mas eu acho que a contribuição dele é indispensável para entender a América latina e para entender o Brasil”, disse Nilson Araújo, ao celebrar os 100 anos de nascimento do economista brasileiro Celso Furtado, que nos deixou no ano de 2004.
Nilson defendeu que as ideias de planejamento econômico e da importância do Estado na economia, defendidas por Celso Furtado, devem ser referência para a retomada do crescimento econômico brasileiro.
“É impossível se pensar em retomada econômica no Brasil sem pensar o longo prazo. Sem pensar como Celso Furtado pensava, com a transformação das estruturas econômicas, sociais, políticas e culturais”, disse o professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
Nilson Araújo também defendeu que para deixarmos de ser uma economia dependente temos que retomar o processo de industrialização no País, que foi iniciado no governo de Getúlio Vargas e interrompido na década de 80.
“De 1981 para cá já são 40 anos que a economia brasileira está estagnada, e está estagnada porque perdeu o rumo. Perdeu o rumo basicamente porque ampliou de 1964 em diante o papel do capital estrangeiro no País, nem só sob a forma de endividamento externo como sob a forma de empresas estrangeiras instaladas aqui, que durante um determinado momento no chamado milagre, que ainda permitiu um certo crescimento, mas depois se esgotou. Quando o [Ernesto] Geisel assumiu em 1974 já estava se esgotando o processo de desenvolvimento anterior, de crescimento anterior”.
“O Geisel com o segundo PND tentou reverter parcialmente esse quadro de dependência, implementando a indústria pesada sob o controle do Estado e de empresários nacionais. E isto permitiu que a economia continuasse crescendo durante a década de 70, num patamar menos do que o anterior, mas seguiu crescendo na faixa de 7% ao ano. Mas o peso da dependência, o peso da subordinação externa, que exigia o estrangulamento interno, o estrangulamento do trabalho, o arrocho do salário, terminou levando a esta perda de rumo. Essa perda do desenvolvimento econômico planejado, de longo prazo”.
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