O professor e economista Nilson Araújo desmontou os argumentos do Banco Mundial sobre a educação pública universitária no Brasil em entrevista concedida à Rádio Independência Brasil.
Ao final do ano passado, a instituição divulgou um relatório em que recomendava expressamente a contenção dos gastos públicos e o enxugamento do Estado. E propôs que os drásticos cortes começassem pelo ensino superior público.
“O relatório do Banco Mundial reproduz um mito muito difundido aqui no Brasil e que se manifesta nas três afirmações centrais do relatório: a primeira, de que o setor público gasta demais nas universidades; a segunda, que se gasta mal, ou seja, é ineficiente; o terceiro, que o sistema público de educação é injusto, pois privilegia os ricos em detrimento dos pobres”, introduziu o professor.
Respondendo à primeira afirmação do relatório, Nilson fez um comparativo com o gasto anual por aluno em diversos países do mundo.
“Aqui no Brasil, gastamos 3.400 dólares por aluno em um ano. No Chile, apesar da expansão da rede privada, o investimento é de 4.300 dólares por estudante. Na França, esse valor cresce para 10 mil dólares e na Alemanha, para 12 mil dólares”. Para ele, isso apenas prova que o Brasil está “longe de gastar demais”, pois o gasto é, em média, inferior até mesmo a países com menor grau de desenvolvimento. “Em resumo: no Brasil, se gasta com as universidades públicas apenas 38% do que é gasto em média nos países da OCDE, 28 nações com maior, igual e menor desenvolvimento”.
O argumento do Banco Mundial de que o Brasil gasta mal com as universidades públicas se dá através da comparação com os gastos nas universidades privadas.
“Ora, o ensino público é melhor que o particular. A começar pela dedicação dos professores, que é 85% integral nas públicas, enquanto nas privadas é de apenas 25%. Enquanto nas privadas apenas 20% do corpo é formado por professores-doutores, nas públicas essa percentagem é em média de 40%, chegando a 80% nas mais tradicionais”, diz o economista.
“Nas universidades públicas se investe em pesquisa – em torno de 90% da pesquisa científica no Brasil é oriunda das universidades públicas. Gasta-se mais para manter uma universidade pública que uma privada, mas é porque está se investindo em pesquisa. Os hospitais universitários são exemplos disso: Qualifica-se melhor o médico em formação e atende-se à comunidade gratuitamente”.
Por último, a questão de “justiça” para o Banco Mundial, que se justifica com o dado de que 65% dos estudantes das públicas provêm de famílias ricas – e por isso, seria justo a cobrança de mensalidades.
“Isso não é verdade. Dados das próprias universidades dizem que 51% dos estudantes em média proveem de famílias com renda per capta até 3 salários mínimos. A universidade precisa ter acesso democratizado, claro, mas esse dado não é verdadeiro e essas famílias não têm condição de pagar mensalidades”, afirmou Nilson.