
“Não devemos pensar em medidas cosméticas, de zeladoria. Se não enfrentarmos com medidas estruturais, não vamos tirar o país da crise”, enfatizou o economista no 15º Congresso do PCdoB
O economista Nilson Araújo de Souza participou do 15º Congresso do PCdoB e disse que a plataforma emergencial do partido para a recuperação econômica deve ser baseada no protagonismo do Estado sobre os investimentos, tendo o mercado interno como prioridade, e o aumento dos salários.
“Não devemos pensar em medidas cosméticas, de zeladoria. Se não enfrentarmos com medidas estruturais, não vamos tirar o país da crise”, pontuou.
Segundo Nilson, “o fortalecimento da Nação é o caminho, é a referência”.
“Não é um fortalecimento qualquer da Nação, é um fortalecimento que resgata o papel do trabalho como eixo do desenvolvimento. Um conjunto de ações que valorize o trabalho, especialmente o da mulher, e que fortaleça o mercado interno”.
Nilson é doutor em economia pela Universidade Autônoma do México (Unam) e pós-doutor pela Universidade de São Paulo (USP), além de professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
É membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB e diretor da Fundação Maurício Grabois.
Em sua intervenção no Congresso do PCdoB, Nilson Araújo disse que “nós temos que tirar o país dessa crise, que é estrutural e múltipla. Para sair da crise, é preciso enfrentar os problemas. O que está sendo desconstruído, nós temos que reconstruir”.
A plataforma emergencial que está sendo construída pelo PCdoB “é uma ponte entre a situação atual e o Projeto Nacional de Desenvolvimento” que é defendido pelo partido.
Nilson explicou que uma federação partidária em que o PCdoB esteja inserido precisa de um programa mínimo.
“Temos que ter nossa proposta”, disse Nilson assinalando que o documento com este programa em construção não está sendo apreciado pelo 15º. Congresso, porque continua sendo elaborado para ser aprovado pelo novo Comitê Central que se inicia a partir da eleição deste domingo. “O Comitê Central criou essa comissão de redação, além da tarefa de elaborar e as diretrizes para a plataforma inicial”, acrescentou.
Para o economista, a plataforma tem que ser capaz de resolver os problemas do desemprego e da fome, uma vez que 32 milhões de pessoas estão desempregadas ou subempregadas e metade da população se encontra em situação de insegurança alimentar.
A meta para a recuperação econômica deve ser, disse, de duplicar o salário mínimo dentro de quatro anos, diminuir a jornada de trabalho e estabelecer um conjunto de iniciativas que visem a reindustrialização e o “lançamento de obras de infraestrutura de qualidade, como metrôs ou trens”.
Nilson Araújo destacou que a plataforma deve saber combater a inflação, “que também foi provocada pelo governo”. “Não era natural que ocorresse essa volta da inflação. Isso foi, basicamente, a atitude do governo de não montar estoques reguladores de alimentos, além dos mecanismos de reajuste dos combustíveis e de outros serviços públicos que terminam dolarizando a economia”, completou.
Em suma, “está sendo realizado um desmonte da ação econômica do Estado”.
“A principal expressão desse desmonte é a Petrobrás. Começou a privatizar refinarias, a privatizar a distribuidora, e nós sabemos que empresas de petróleo têm que ser integradas, do poço ao posto, como costumam dizer. Se ela não é integrada, ela não é eficiente e rentável”.
Araújo também criticou a “tentativa de privatizar a Eletrobrás e a tentativa de fazer uma reforma administrativa que desmonta a capacidade do Estado de fazer planejamento e gestão”.
De acordo com o economista, o Brasil tem todas as condições para retomar o seu crescimento, “basta desmontar o tripé macroeconômico, revogar o teto de gastos, revogar uma parte das isenções fiscais e usar a renda do petróleo, sobretudo a renda do pré-sal”. O pesquisador defendeu uma “parceria estratégica com a China” para impulsionar o desenvolvimento brasileiro.
Nilson Araújo responsabiliza o governo Bolsonaro pelo desastre na condução do combate à pandemia. “A quantidade de pessoas que perdeu a vida não é natural, não era inevitável. Os estudos mostram que 80% morreram pela atitude irresponsável e consciente para promover a ‘imunidade de rebanho’, sem vacina, adotada pelo presidente da República”.
Ainda em sua exposição, Nilson Araújo afirmou que o PCdoB está se saindo vitorioso em duas batalhas que travou no último período, sendo elas a construção da frente ampla contra o Bolsonaro e a aprovação da Lei das Federações Partidárias.
“A frente ampla”, que serve para “isolar e derrotar o Bolsonaro”, “deu passos importantes, ampliou muito na luta de massas, trazendo setores mais conservadores”. A avaliação dele é que a frente ampla “emparedou” e “colocou focinheira” em Bolsonaro, mas que ele ainda vai continuar tentando dar um golpe.
A Lei das Federações Partidárias, que já foi publicada no Diário Oficial, serve para “preservar institucionalmente a atuação do PCdoB”, mas também “ultrapassa essa meta inicial meramente tática e passa a cumprir um papel estratégico, mais duradouro”, acrescentou.