‘Quando o governo para de investir, ninguém mais investe. País está engessado’
Segundo o economista, a situação econômica do Brasil “é catastrófica”. “Em 2014, os investimentos públicos estavam na casa dos 228 bilhões de reais”. “Para este ano de 2017, a previsão é de que os investimentos públicos continuem em queda e fiquem na casa dos 129 bilhões. Para 2018, a previsão orçamentária é de apenas 98 bilhões”.
“A situação econômica do Brasil é mais do que grave. Ela é catastrófica. Em poucos momentos de nossa história nós tivemos situação tão dramática como esta que o país está vivendo hoje”, afirmou, na quarta-feira (15), o economista Nilson Araújo de Souza, em entrevista à Rádio Independência. “O conjunto dos investimentos públicos, que envolvem a União e as empresas estatais, está desabando. E nós sabemos que, quando o governo para de investir, ninguém mais investe”, salientou. “O investimento público alavanca os demais investimentos, ele dinamiza a economia ao contratar serviços, comprar equipamentos, etc”.
Segundo o economista, a situação vem piorando mais aceleradamente a partir de 2014. “Naquele ano”, disse ele, “estes investimentos estavam na casa dos 228 bilhões de reais e, em 2016, eles desabaram para 144 bilhões de reais”. “Para este ano de 2017, a previsão é de que os investimentos públicos (União, Estatais, Estados e Municípios) continuem em queda e fiquem na casa dos 129 bilhões de reais. Para 2018 o desatino prossegue e a previsão orçamentária é de apenas 98 bilhões de reais para os investimentos públicos”.
Para o professor, essa política está “engessando toda a sociedade”. “Tanto a sociedade quanto o setor produtivo estão sendo penalizados”, acrescentou. “E eles fazem esse absurdo para garantir o superávit primário, que é uma poupança que o governo faz para pagar os juros aos bancos”, explicou o especialista. “Nos últimos 12 meses o que se pagou de juros chegou a 415 bilhões de reais. Ou seja, o investimento público para este ano ficará na faixa de 129 bilhões enquanto o que se pagou só de juros atingiu a cifra de 415 bilhões”, informou Nilson. “Tira-se da atividade produtiva e do bem estar da população para beneficiar os banqueiros que se locupletam com os juros da dívida e os que vivem de ativos financeiros”, complementou o economista.
PRIVATIZAÇÕES
Nilson criticou ainda a iniciativa do governo de vender empresas estatais na maioria, segundo ele, a preço de banana. “Como é que pode alguém vender seis distribuidoras de energia, responsáveis pelo abastecimento de seis estados, pelo valor de R$ 50 mil cada uma? Ou seja, o governo está vendendo distribuidoras de energia elétrica pelo valor de um carro usado. Isso é um escândalo”, denunciou. “Além disso”, acrescentou o analista, “o governo pretende vender grandes geradoras de energia, o que significa, na verdade, desmontar a Eletrobrás. Vai vender Furnas que é a principal fornecedora – depois de Itaipu – da região Sudeste. Vai vender a Chesf, que é uma das mais antigas hidrelétricas do país”.
“O pretexto para entregar essas empresas é que, com a privatização, haveria mais concorrência e mais eficiência. Não é verdade. Quem vai comprar essas grandes empresas são monopólios privados que, por natureza, são ineficientes. Ele só é eficiente para gerar superlucros para seus donos. Não é eficiente para gerar mais capacidade produtiva para o país e para gerar bem estar para a população”, destacou o economista. “Além disso”, acrescentou, não há concorrência nenhuma neste setor. Ninguém coloca duas ou três tomadas em sua residência. Neste setor o que há é o monopólio natural, que é público ou é privado, não há concorrência”.
Para o economista, o argumento de que, com as vendas, haveria mais dinheiro para os investimentos, também é falacioso. “O que se vai fazer após a entrega deste patrimônio público é usar o pouco dinheiro arrecadado com as vendas para o pagamento de juros da dívida pública, como, inclusive já vem ocorrendo”, denunciou.
LEI DA ESCRAVIDÃO
Nilson condenou também as medidas tomadas na área social e trabalhista. “O governo já retirou parte expressiva dos direitos trabalhistas e agora quer tirar os direitos previdenciários da população. Na área trabalhista o golpe principal foi dado com a decisão de passar a considerar o que for negociado acima do legislado. Isso é um absurdo. Como é que o negociado em duas partes pode suplantar a lei? Como é que o trabalhador vai negociar com o patrão dentro da fábrica, dentro da empresa em condições de igualdade? Não tem a menor condição. A tendência é o patrão impôr as suas exigências”, avaliou o economista.
“O que protege o trabalhador, por um lado é o seu poder de mobilização, mas, por outro, é a lei”, alertou Nilson Araújo. “Os limites mínimos são garantidos pela lei. Se você tira esse mínimo garantido pela lei, a tendência é que os direitos caiam abaixo do mínimo. Consequentemente os direitos, como salários e outras conquistas, cairão abaixo do mínimo”, prosseguiu. “Tudo isso está sendo feito para aumentar os lucros das grandes empresas estabelecidas no país, tanto nacionais quanto estrangeiras. Ao invés de aumentar seus lucros pelo aumento da eficiência, o que se quer é aumentar os lucros arrancando ainda mais o couro dos trabalhadores”, denunciou.
PREVIDÊNCIA
“E, se não bastasse tudo isso, querem agora tirar os direitos previdenciários da população. Querem colocar a idade mínima de 65 anos para que o trabalhador possa se aposentar. Um estudo feito aqui em São Paulo, o ‘Mapa da Desigualdade’, mostrou que, na periferia de São Paulo, a expectativa de vida da população é de 55 anos. Nas regiões centrais, como Vila Mariana, Jardins, por exemplo, a expectativa de vida é acima de 70 anos, mas, na periferia é de 55 anos”, lembrou. “Se na periferia de São Paulo é assim, imagine a periferia das regiões do Nordeste, no campo do Nordeste. Estabelecer a idade mínima de 65 anos é querer que os trabalhadores só se aposentem depois de mortos”, apontou o especialista.
“O ‘ministro da Friboi’, Henrique Meirelles, afirmou que a Previdência está consumindo metade do orçamento da União e, que se continuar assim, em breve vai consumir 80% e assim por diante. Isso é uma mentira”, salientou Nilson. “Não é verdade. O orçamento da Previdência é composto por três partes. Uma parte que é composta pela contribuição do trabalhador, outra parte que é a contribuição do empregador e a outra parte, por contribuições que foram criadas pela Constituinte de 1988 para completar o tripartite do sistema. Completar a parte do estado. A parte do trabalhador e do empregador não pode entrar neste tipo de cálculo que o ministro está fazendo. Se fizerem o cálculo corretamente o percentual de gastos com a Previdência será muito menor do que isso. Não chega a 20% do orçamento”, destacou.
DESEMPREGO
Sobre a afirmação de que a queda da inflação estaria aumentando a renda dos trabalhadores, Nilson afirmou que é outra balela. Ele explicou que o poder de compra só aumenta quando o salário real aumenta. A massa salarial, explicou Nilson, “é o resultado do salário individual e do número de empregados. Nenhum dos dois está subindo. Ou seja, o economista afirmou que só quando o aumento nominal do salário é maior do que a inflação, há ganho no poder de compra dos salários”. “Teria que estar havendo, portanto, deflação para que houvesse aumento real de salário. E isso não está ocorrendo no Brasil. Assim como não está havendo crescimento dos empregos”, completou.
SÉRGIO CRUZ