No manifesto “Seja Humano”, lançado no dia 19 de julho, 43º aniversário da Revolução Sandinista, que libertou a Nicarágua da ditadura de Anastácio Somoza, o Comitê de Solidariedade com a Nicarágua exige a libertação dos 180 presos políticos do regime ditatorial de Daniel Ortega, em especial a liberdade para a destacada combatente guerrilheira, Dora Maria Tellez, a “Comandante Dois”, há 400 dias encarcerada incomunicável na prisão de El Chipote.
O comunicado denuncia que “Daniel Ortega, um dos líderes da derrubada da ditadura somozista, voltou ao poder e aos poucos foi se transformando em um novo ditador. Junto com Rosario Murillo, sua esposa e vice-presidenta, e sua família, estabeleceu um governo muito parecido à ditadura familiar somozista” e mantém 180 opositores presos “em condições desumanas e com condenações de até 15 anos”.
Leia a íntegra do manifesto:
Hoje 19 de julho, a Revolução Popular Sandinista faz 43 anos. Uma revolução que derrubou uma ditadura familiar de 43 anos, desmantelou as estruturas políticas e militares da Nicarágua e tentou estabelecer novas instituições para promover a igualdade, justiça e democracia.
Desde 2007, Daniel Ortega, um dos líderes da derrubada da ditadura somozista, voltou ao poder e aos poucos foi se transformando em um novo ditador. Junto com Rosario Murillo, sua esposa e vice-presidenta, e sua família, estabeleceu um governo muito parecido à ditadura familiar somozista. Hoje nas prisões da Nicarágua, mais de 180 opositoras e opositores permanecem em condições desumanas e com condenas de até 15 anos. Uma delas, a comandante guerrilheira Dora María Téllez, icone da Revolução Popular Sandinista, permanece nas depedências de El Nuevo Chipote, um centro de torturas do governo Ortega-Murillo, apesar de ter sido condenada a oito anos de prisão num julgamento espúrio.
Dora María Téllez, 66 anos, é historiadora e analista política, Doutora Honoris Causa em Ciência Política pela Universidade de Helsinque e, em novembro próximo, a Universidade Sorbonne Nouvelle, na França, concederá outro Doutorado Honoris Causa por sua excepcional trajetória política e científica. Dora María é uma das principais figuras na luta pela democracia e justiça social na Nicarágua há mais de 40 anos.
Aos 20 anos, Dora María aderiu à luta guerrilheira da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) contra a ditadura somozista e participou da tomada do Palácio Nacional da Nicarágua, que levou à libertação dos presos políticos daquele período. Aos 23 anos, liderou a luta pela conquista de León, a primeira cidade livre do país. Durante o período revolucionário, foi Vice- Presidenta do Conselho de Estado, Deputada e Ministra da Saúde, destacando-se pela transparência e eficiência da sua gestão.
Na década de 1990, Dora María, como centenas de membros da militância sandinista da época, se viu forçada a sair da FSLN ao ver claramente o curso autoritário e caudilhista que Daniel Ortega tomou. Em 1995, com Sergio Ramírez, escritor e ex-Presidente, e outros compannheiros que lutavam pela democracia, criou o Movimento de Renovação Sandinista (MRS), hoje transformado no Partido União Democrática Renovadora (UNAMOS). Em 2008, depois que Daniel Ortega voltou à presidência e invalidou o MRS como partido político, Dora María iniciou uma greve de fome para exigir o restabelecimento do partido e denunciar a corrupção e o início da ditadura de Daniel Ortega.
Sua voz continuou a divulgar todas as violações das instituições do país até 13 de junho de 2021, dia de sua prisão violenta e arbitrária. Desde então, Dora María é prisioneira política da ditadura de Ortega-Murillo e há mais de 400 dias sofre tortura ao permanecer isolada e incomunicável, sem alimentação suficiente, em uma cela permanentemente escura no pavilhão masculino, sem acesso ao sol e sem atendimento médico oportuno e especializado, o que tem causado, entre outros problemas, graves queimaduras nos braços devido ao uso de medicamentos inadequados.
Dora María sempre foi uma lutadora honesta e incansável pela Nicarágua, pelos direitos das mulheres, pela liberdade, pela justiça social e pela democracia. Além disso, ama a natureza, a leitura, seus amigos e amigas, as piadas e brincadeiras, e nunca, nem mesmo na prisão, perdeu o senso de humor, assim como sua fé, esperança e força.