No governo Bolsonaro até para comer ovo ficou mais difícil. No atacado, a caixa com 30 dúzias de ovos foi vendida no mês passado (abril) a R$ 126, 96, acumulando alta de 14,3% em 12 meses, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA-Esalq/USP.
De acordo com o setor de avicultura, o preço do ovo deve subir mais no próximo período por consequência do mercado brasileiro desaquecido, da alta nos preços da ração das aves, que são subprodutos da soja e dos milhos – commodities cujos preços estão em disparada frente à desvalorização do real perante o dólar -, além da demanda internacional pela proteína.
O ovo é um dos itens alimentares mais usados pelas famílias pobres, como substituto da proteína oferecido nas carnes – e disparou logo no início da pandemia para o consumidor e durante todo o ano 2020 não parou de subir.
Dados do Cepea apontam que a caixa com 30 dúzias de ovos vermelhos no ano passado, que saía a R$ 101,83 em 28 de agosto, subiu para R$ 105,40 em 4 de setembro e para R$ 105,79 em 11 de setembro. Em abril, quando a economia desabou, chegou a R$ 137,87. Nesse mesmo período, o preço do ovo branco variou de R$ 81,61 para R$ 87,30 e chegou a R$ 87,47. Em abril, o valor chegou a R$ 116,85.
Assim como tratou a pandemia, Jari Bolsonaro se referiu à carestia no momento mais grave da pandemia naquele ano, “Aumentou o preço do ovo também. É a lei da oferta e da procura. É igual o arroz”, disse, se referindo também à disparada no preço do arroz, produto básico na mesa do brasileiro. E mais uma vez, a prioridade passa a ser o mercado externo em detrimento da segurança alimentar do povo brasileiro como fazem vários países do mundo, particularmente na pandemia.
Em abril deste ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, apontou que as carnes acumularam uma alta de 35,05% nos últimos 12 meses. Aves e ovos também subiram em 12,08% neste período.
Os granjeiros têm afirmado que, para garantir as vendas internas, não estão repassando os reais custos da produção para os consumidores. No entanto, com a demanda interna enfraquecida, os estoques nas granjas têm crescido junto com os custos cada vez mais altos das rações para galinhas.
“O ovo já subiu de preço, existe uma tendência de subir mais ainda, porque o pessoal está abatendo bastante ave, o que deve reduzir a produção no Brasil. Essa produção que vai diminuir vai impactar principalmente a população mais pobre, que é realmente quem mais consome ovo” no país, afirmou o produtor de ovo, Romulo Tinoco, ao Globo Rural.
A Cepea diz que com o mercado doméstico desaquecido e o câmbio favorecendo as vendas para o exterior, as exportações da proteína ganharam relevância em 2021.
“Os embarques da proteína têm sido uma boa alternativa para desafogar o setor, que, apesar dos preços domésticos elevados, tem obtido margem pequena, devido aos elevados custos de produção”, informou Cepea, firmando que o mercado de ovos no final de abril “esteve lento, frustrando as expectativas de melhores vendas com a entrada de maio. Assim, produtores e distribuidores têm concedido descontos para efetivar as vendas, pressionando ligeiramente o valor”.
Exportações de ovos superam alta de 300% em abril
As exportações brasileiras de ovos (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) alcançaram 865 toneladas em abril, número 307,9% superior ao registrado no mesmo período de 2020, quando foram embarcadas 212 toneladas, segundo números da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
No acumulado de janeiro a abril, as exportações de ovos totalizaram 4,638 mil toneladas, número 162,3% superior ao efetivado no primeiro quadrimestre de 2020, com 1,768 mil toneladas. Os Emirados Árabes Unidos importaram 3,461 mil toneladas nos quatro primeiros meses deste ano, número 339,1% superior ao embarcado no mesmo período do ano passado, com 788 toneladas.
Brasil no mapa da fome
No ano passado, mais de 116,8 milhões de brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar – sem acesso pleno e permanente a alimentos – e 19 milhões de pessoas em situação grave de insegurança – passando fome – segundo o estudo da Rede Penssan – Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar. Quadro esse que só não foi pior por conta do auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso, que atingiu 68,2 milhões de pessoas, sendo as cinco primeiras parcelas mensais no valor de R$600, e quatro R$300, a partir de setembro.
Neste ano, a situação da fome no Brasil vai se agravar, pois além do governo de Bolsonaro não fazer nada contra a carestia dos preços dos alimentos, não apresentar nenhum plano para retomada econômica, cortou o auxílio de 22,6 milhões de pessoas que receberam o auxílio no ano passado. Além disto, para as 45 milhões previstas nesta rodada, serão pagas apenas quatro parcelas mensais, cujos valores variam de R$ 150 a R$ 375, a depender da composição de cada família. Cerca de 20 milhões receberão apenas R$ 150.