Relatório oficial do governo iraquiano revelou que o total de mortos nos protestos na primeira semana de outubro foi ainda maior do que já se sabia – 157, quase todos civis – 70% deles “atingidos por tiros na cabeça e no torso”. Entre os integrantes das forças de segurança, o total de mortos foi de 8.
A divulgação do relatório aconteceu na terça-feira (22), quatro dias antes das novas manifestações convocadas para esta sexta-feira, dia em que se completa um ano de governo do primeiro-ministro, Adel Abdel Mahdi.
Os protestos, contra os apagões, a falta de emprego e a corrupção, ocorreram entre os dias 1º e 6 de outubro em Bagdá e nas províncias do sul, sendo brutalmente reprimidos, inclusive com o uso de munição viva. A maior parte dos civis mortos foi na capital, Bagdá, 107.
O relatório foi redigido por um comitê nomeado pelo governo iraquiano para investigar os acontecimentos, e admite que “os oficiais e comandantes perderam o controle de suas forças durante os protestos e isso desencadeou o caos”.
Também registra evidências de que franco-atiradores dispararam contra manifestantes desde um prédio no centro de Bagdá, próximo a um posto de gasolina, mas não apresenta qualquer identificação de quem seriam – embora haja numerosas denúncias de que se tratam de milícias pró-governistas e esquadrões ‘anti-terroristas’.
O morticínio começou logo no primeiro dia dos protestos, quando tropas impediram a tiros a ida dos manifestantes até a Zona Verde, onde ficam os ministérios e a embaixada norte-americana gigante, símbolo da ocupação e da corrupção.
A comissão propõe ainda a demissão de comandantes envolvidos na carnificina – do exército, da polícia, das forças antiterroristas e antimotim – alocados nas províncias de Bagdá, Diwaniya, Missane, Babilônia, Wassit, Najaf e Dhi Qar.
O fato de que dezesseis anos após a invasão e o assassinato do presidente Sadam o Iraque, um dos países mais ricos em petróleo do mundo, não consiga pagar salários dignos, proporcionar empregos ou pelo menos ter um sistema elétrico que funcione, é expressão da devastação trazida pela guerra de W. Bush, a guerra que passou tristemente para a história como a do “sangue por petróleo” e a da mentira das “armas de destruição em massa”.
A invasão/ocupação matou mais de um milhão de iraquianos, destruiu o que era o mais avançado sistema de saúde e educação do Oriente Médio e uma infraestrutura que fora possível pela nacionalização do petróleo e colocação da renda do petróleo a serviço do povo e do desenvolvimento. É igualmente responsável pela infâmia em Abu Graib e pelo massacre de Faluja.
Também executou o presidente Sadam, impôs um governo de colaboracionistas, esquadrões de extermínio, uma ‘constituição’ redigida em Washington e a sectarismo do país, além de colocar na clandestinidade o Partido Socialista do Renascimento Árabe (Baas). Mahdi, agora primeiro-ministro, foi ministro das Finanças do primeiro governo fantoche, que desde então manteve a curiosa particularidade de ser ao mesmo tempo pró-americano e pró-iraniano.
Também foi a ocupação – e a intervenção norte-americana na vizinha Síria – que abriu caminho para o flagelo do Daesh, pomposamente tratado pela mídia ocidental como Estado Islâmico.