O candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), afirmou durante entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, que tanto Ricardo Nunes (MDB) quanto Pablo Marçal (PRTB) são duas faces do bolsonarismo.
Para Boulos, Marçal é ainda “abjeto, criminoso e marginal”. “O Marçal é uma coisa abjeta, um criminoso, um marginal, é isso que ele é. A normalização do Marçal não partirá de mim jamais”, disse o candidato.
No entanto, Boulos não deixou de pontuar a relação de Ricardo Nunes com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): “Eles têm perfis e trajetórias diferentes, mas o que não se pode é normalizar o Ricardo Nunes”, afirmou Boulos. O deputado federal reafirmou que a aliança entre Nunes e Bolsonaro foi o que fez a ex-secretária de Relações Internacionais da gestão Nunes, a ex-prefeita Marta Suplicy, sair do cargo para se aliar a ele.
“Quando eu disse que são duas caras da mesma moeda, por serem bolsonaristas, por se articularem com esse campo político de extrema-direita. Marçal inventa fake news e faz isso de um jeito mais histriônico, mais agressivo, mais violento, mas o Ricardo Nunes, outro dia, deu uma entrevista em que, em uma única frase, disse que eu era do Hamas, do Comando Vermelho e que tomava a casa dos outros”, pontuou o deputado.
De acordo com Boulos, apesar das diferenças de estilo e postura, “existem muitas equivalências” entre os adversários.
O candidato abordou sua mudança ao longo do tempo, respondendo a críticas sobre a diferença entre sua atuação como líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e como deputado federal. “O que me levou a entrar no movimento de luta por moradia é a mesma indignação que me move hoje a ser candidato a prefeito de São Paulo. A não aceitar injustiça e desigualdade como algo natural, a entender que a política não deve ser instrumento para ganhar dinheiro ou manter privilégio, tem que ser um instrumento para mudar a vida das pessoas, para mudar a sociedade. O que eu acreditei no movimento, eu sigo acreditando hoje. O que mudou, isso faz 15 anos, 20 anos, é a forma como você vê as coisas”, afirmou.
Boulos disse que “não há outro caminho a não ser mudar a política por dentro”, o que está tentando fazer.
Desde o início da campanha deste ano, Marçal tem associado o nome de Boulos ao suposto uso de entorpecentes. Em diversas oportunidades, inclusive em debates, o candidato do PRTB se referiu ao deputado como “cheirador de cocaína”.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite de segunda-feira (26), Boulos voltou a rechaçar as acusações e desafiou Marçal a apresentar provas do que tem dito. O candidato do PRTB vem prometendo mostrar as supostas provas no último debate do primeiro turno, que será realizado pela TV Globo em 3 de outubro – a três dias do primeiro turno.
“O cara [Marçal] tinha me acusado de maneira absurda, mentirosa, de usar droga. Minha filha viu nas redes sociais, e aí vira comentário. Minha filha chora, como é que fica? Olha o nível a que se chega. Olha o esgoto em que se chega”, afirmou Boulos, que tem duas filhas, uma de 13 e outra de 14 anos.
“Nunca usei [drogas] e desafio o Pablo Marçal, que diz que tem prova. Apresente agora”, prosseguiu o candidato do PSOL. “Sabe por que ele não vai apresentar? Porque é uma mentira abjeta que ele inventou”, complementou Boulos.
Boulos disse que as redes sociais não são “uma panaceia que vai resolver tudo” e que é necessário fazer campanha nas ruas. Mais cedo, em live nas redes sociais, ele repetiu o que tem afirmado nas entrevistas ao dizer que “eleição não é concurso de quem grita mais alto”.
A sua atuação como líder do MTST também foi tema da entrevista. “A gente precisa dizer que o movimento dos sem-teto foi alvo de muita mentira e fake news. Desafio a dizer uma casa que o movimento tenha invadido”, falou, antes de explicar as ocupações.
“O que o movimento fez foi, ao longo do tempo, identificar imóveis em situação ilegal, com mais dívida de impostos do que o valor do imóvel. Fez a ocupação de maneira simbólica, e assim conseguiu moradia”, disse. “Nós conseguimos dar moradia pra 15 mil pessoas. Sem a caneta na mão. Foram os primeiros apartamentos da história do Minha Casa Minha Vida (da faixa 1) com elevador e três quartos. O movimento deu oportunidade, esperança e dignidade pra milhares de famílias.”
Boulos ainda foi questionado sobre o protesto realizado em frente à casa do então presidente Michel Temer em 2016. “Quando você está num movimento social, representando pessoas que muitas vezes nunca foram escutadas na vida, o seu dever é defender aquelas pessoas com unhas e dentes. Garantir que aquelas pessoas tenham voz e sejam respeitadas”, disse, lembrando que o ato era contra a PEC do Teto de Gastos, que tirou recursos das políticas de habitação.
Questionado sobre como reagiria, como prefeito, em casos de ocupação, Boulos afirmou: “O meu governo vai ser o governo com menos ocupações da história de São Paulo. O movimento social não faz ocupação por divertimento, faz por necessidade. Se tem diálogo e política habitacional, você muda essa relação totalmente”, pontuou. “Se [a ocupação] for em área pública, é dever de ofício. Mas vou dialogar com as pessoas e lidar com um passivo histórico de São Paulo.”
O candidato do PSOL aproveitou o tema para questionar a gestão Nunes. “Existe loteamento clandestino feito pelo crime na periferia. Foram feitos nessa gestão sob vista grossa do atual prefeito. É muito fácil falar grosso com quem está na ocupação e falar fino com o crime organizado”, apontou.
Outra questão recorrente na entrevista foi o cenário político venezuelano, por mais que isso não tenha muita relação com a eleição para prefeito da capital paulista. Sobre isso, Boulos disse: “Temos indícios bastante suficientes para dizer que houve fraude na eleição da Venezuela, tanto que o Itamaraty não reconheceu o governo”, e ainda assim seguiu sendo questionado sobre o tema.
“O que me estranha é que sempre me posiciono de forma clara. Acho que tem uma forçação de barra que não precisa”, afirmou, referindo-se à temática. “A eleição para São Paulo impacta o Brasil, mas impacta alguma coisa na Venezuela?”
Sobre a criação de taxas, Boulos declarou: “Nós não vamos criar nenhuma nova taxa na cidade de São Paulo”, comprometeu-se. “O problema não é falta de dinheiro, falta prefeito hoje em São Paulo.” Também reafirmou que vai acabar com o confisco de 14% em relação aos aposentados da administração municipal.
O candidato também foi questionado sobre a administração dos cemitérios, que foram privatizados em 2023. “Eu vou trabalhar para revogar a privatização dos cemitérios. O serviço, que já não era bom, conseguiu ficar ainda pior. Criou-se uma indústria da morte em São Paulo”, disse.