
Após retirar o subsídio do galão do diesel – que aumentou de US$ 1,80 para US$ 2,80 – Noboa diz que durante dois meses sua ditadura suspenderá até mesmo a liberdade de reunião no Equador
O presidente do Equador, Daniel Noboa, decretou estado de exceção nesta terça-feira (16) em sete das 24 províncias (Estados) do país onde os protestos se generalizam. A revolta ocorre deois que o presidente eliminou o subsídio ao óleo diesel, a mando do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Alegando “grave comoção interna”, diante “das greves que perturbaram a ordem pública, causando situações de violência manifesta”, Noboa ordenou “declarar estado de exceção em Carchi, Imbabura, Pichincha, Azuay, Bolívar, Cotopaxi, e Santo Domingo”, mas sem admitir a responsabilidade pela descomunal crise em que afogou o país.
Ditatorial, o menino de recados do FMI também decidiu “prevenir e dispersar reuniões em espaços públicos – durante 24 horas por dia – onde sejam identificadas ameaças à segurança pública”. Afinal, como estampou, colocariam em risco o seu programa de submissão aos banqueiros e transnacionais. Para isso, concedeu o controle da ordem pública à Polícia e às Forças Armadas.
Na última sexta-feira (12), o governo determinou a eliminação de um subsídio de US$ 1,1 bilhão para o diesel, utilizado no transporte pesado, no transporte de passageiros e no setor agrícola, entre outros. Com o fim do subsídio, o custo do combustível aumentou de forma estratosférica de US$ 1,80 (R$ 9,52) para US$ 2,80 (R$ 14,81) por galão de diesel (3,78 litros), impactando violentamente no custo de vida e espraiando as manifestações por todo o Equador.
De forma completamente irresponsável, Noboa alegou que não foi a disparada do combustível, mas os bloqueios que causaram “complicações na cadeia de abastecimento alimentar” e afetaram a “livre circulação de pessoas, causando a paralisação de diversos setores que afetam a economia”.
Como denunciam trabalhadores e estudantes à frente das manifestações, foi o reajuste do combustível, aliado à enorme repressão, que fez com que os caminhoneiros fechassem as estradas, algumas delas abertas à força muitas horas depois e somente sob intervenção policial. Mesmo assim, há pontos de resistência. Apesar dos sucessivos ataques militares, a rodovia Panamericana Norte, na entrada da capital, Quito, amanheceu completamente bloqueada com pedras e montes de terra, inviabilizando o trânsito.
“USO ABUSIVO E DISCRICIONÁRIO DOS ESTADOS DE EMERGÊNCIA”
O Tribunal Constitucional revogou outros estados de emergência declarados por Noboa entre 2024 e 2025, total e parcialmente. “Deve-se levar em conta que o Tribunal Constitucional já alertou o presidente da República sobre o uso abusivo e discricionário dos estados de emergência”, disse Mauricio Alarcón, diretor executivo da Fundação Cidadania e Desenvolvimento.
A Frente Unitária dos Trabalhadores (FUT), a Confederação de Nações Indígenas do Equador (Conaie) e os estudantes universitários anunciaram marchas unificadas na próxima terça-feira (23) contra a eliminação do subsídio ao diesel.