As últimas movimentações de bastidores de Jair Bolsonaro não deixam dúvidas. Ele está montando uma grotesca operação abafa cujo objetivo central é blindar os crimes da família, particularmente de seu filho, Flávio Bolsonaro. O último passo, aparentemente detectado a tempo, foi receber o subprocurador Antônio Carlos Simões Soares para conversas privadas no Alvorada.
Antes de visitar Bolsonaro, o subprocurador teve uma ajuda de ninguém menos do que o próprio Flávio Bolsonaro para ter acesso a alguns cabos eleitorais, em sua campanha para assumir a Procuradoria Geral da República (PGR) no lugar de Raquel Dodge, que deixa a vaga no próximo dia 17 de setembro.
Para disfarçar, Antônio Carlos Simões Soares jura que não é uma indicação de Flávio. “Sou indicação dos militares”, afirmou ele.
Apesar de negar ser apadrinhado por Flávio, o subprocurador não conseguiu convencer ninguém, nem mesmo os integrantes da categoria.
Além disso, ele é uma figura muito queimada entre os pares. Já deu mostras de desprezo pela democracia, como em seu artigo “A farsa da democracia”, publicado em 2014. Ali ele diz que esse modelo político “é um embuste”.
Deve ser por isso que “Bolsonaro pai” andou elogiando a figura. Mas, ele também é todo enrolado por causa de pequenas (nem tanto) falcatruas. Foi obrigado a devolver um alto valor de aposentadoria obtida ilegalmente. Certamente esses delitos seriam outras “qualidades” do pretendente, na visão dos Bolsonaros.
Antônio Soares ficou aposentado de novembro de 2010 a novembro de 2015, quando teve que voltar por ordem do Tribunal de Contas da União.
O tribunal decidiu em junho de 2015 que a aposentadoria havia sido ilegal porque o cálculo de tempo levara em consideração o período em que Soares atuou como advogado, sem haver comprovação dos recolhimentos previdenciários devidos.
À época, Soares era procurador regional. Ele foi promovido a subprocurador-geral em junho de 2016. Ele já respondeu a uma ação penal sob acusação de ter falsificado um documento.
Conforme a denúncia, de 1995, Soares foi acusado de forjar a assinatura de um advogado quando atuava na primeira instância, junto à Justiça Federal em Juiz de Fora (MG).
Sua defesa impetrou um habeas corpus no STF, que determinou o envio da ação penal ao STJ. Houve prescrição e Soares não chegou a ser julgado. Esse é o preferido de preferido de Flávio Bolsonaro.
A outra frente de atuação de blindagem montada por Bolsonaro para acobertar o filho é desaparecer com o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). No início, como ele fez muita demagogia na eleição, acabou colocando o Coaf no Ministério da Justiça sob a coordenação do então ainda respeitado Sérgio Moro.
No entanto, o fato do indicado de Moro, Roberto Leonel, ter criticado a decisão de Dias Toffoli que, atendendo o pedido de Flávio Bolsonaro, considerou ilegais as transferências de informações do Coaf para o Ministério Público e a Polícia Federal, derrubou o indicado de Moro do cargo. (v. Bolsonaro estrangula Coaf para impedir investigações sobre ilícitos do filho)