Encarregado de formar o novo governo israelense, Benny Gantz reuniu-se, na quinta-feira, com os líderes árabes israelenses, Ayman Odeh e Ahmad Tibi.
Gantz, que venceu as mais recentes eleições, com sua lista obtendo 33 mandatos parlamentares, foi encarregado desta tarefa depois do fracasso de Bibi Netanyahu, que não conseguiu reunir em torno de sua coligação mais do que 57 deputados (para se tornar premiê precisaria de 61 apoios no parlamento israelense, que tem 120 cadeiras).
Declaração conjunta emitida após o encontro de Gantz com líderes da Lista Unida, que reúne quatro partidos de maioria árabe israelense, afirma que o encontro foi “produtivo e transcorreu em clima de cordialidade” e que “questões importantes para a sociedade árabe-israelense foram discutidas”.
Gantz afirmou que “não há pré-condições para que as questões colocadas sejam tratadas”.
O coordenador das forças que compõem a Lista Unida, Ayman Odeh, destacou: “Discutimos questões urgentes na sociedade árabe, além dos interesses comuns de todos os cidadãos israelenses, sempre fiéis aos valores da paz e igualdade”.
No mesmo dia, Avigdor Lieberman, um dos direitistas israelenses que se nutrem da disseminação dos baixos instintos de um doentio racismo anti-árabe, declarou que “os árabes israelenses são a quinta coluna, não por suas declarações, mas, de fato”.
Lieberman também se opõe a Netanyahu e tenta ser a opção a ele, mas mantendo a mesma ideologia racista e tentando, assim como ele, cavalgar no incitamento contra a comunidade árabe israelense e os palestinos em geral.
Seu partido obteve votos para formar uma bancada de oito deputados apenas, mas ele se coloca como liderança alternativa na tentativa de encabeçar o setor mais retrógrado da sociedade israelense e que inclui os que tiram proveito financeiro do estado de guerra: chefes da indústria bélica ou dos bancos que se alimentam de transacionar com o apoio norte-americano a um país que Washington vê como sua base militar na região.
Este setor vê um grande risco nos primeiros passos de Gantz que apontam (ainda que timidamente) no sentido de desmonte das leis e forma de governo baseado na segregação e discriminação.
O medo destes racistas tem base na realidade, pois a maioria da população judaica israelense já mostrou, tanto nos comícios de centenas de milhares em apoio aos acordos de entendimento com os palestinos, o último dos quais terminou com a trágica morte de Rabin assassinado por um judeu fanático, como na preferência por Gantz e outras forças progressistas no pleito israelense mais recente, que pode ser ganha de forma amplamente majoritária para a perspectiva de paz, de igualdade e do fim do segregacionismo imposto de forma mais exacerbada nos 12 anos de governo de Netanyahu que, aliás, deixou Bolsonaro (que já manifestou sentimentos iguais com relação a índios e negros), tão embasbacado a ponto de se dizer em namoro, prestes a noivar e depois casar com o chefe de governo israelense que agora se isola a cada dia e se vê em vias de condenação por graves delitos de corrupção.
Isso deixa apavorados os direitistas mais empedernidos e que, a um só tempo, se alimentam e também nutrem projeções paranoicas advindas do massacre na Segunda Guerra Mundial ou dos pogroms czaristas de perseguições aos judeus na Rússia imperial de antes da Revolução de Outubro, mas sem nenhuma relação com o que prevaleceu na história da convivência entre árabes e judeus na Palestina ou no Oriente Médio.
O entendimento em evolução, apontado por lideranças judias como Gantz, Peretz e Nitzan Horowitz, por um lado, e árabes, como Barakeh, Tibi e Odeh, por outro, mostram que a contagem regressiva para o regime de discriminação racial israelense pode estar começando.
Diante da falta de perspectiva e do entendimento cada vez mais generalizado da inviabilidade e injustiça do regime que tem predominado em Israel, os direitistas desde Ariel Sharon, passando por Bibi Netanyahu e seguido por Lieberman, se valem da acusação de “antissemitismo” contra todos que assumem uma postura crítica com relação a Israel e a sua ocupação da Palestina rejeitada por toda a comunidade internacional e declarada ilegal em todas as resoluções da ONU a este respeito.
Uma acusação falsa e sem fundamento, pois o que mais causa dano e traz risco a judeus e árabes é exatamente o fomento dessa atmosfera de beligerância anti-palestina e dessa intolerância racial.
A isso, o principal candidato judeu norte-americano, à presidência dos Estados Unidos, Bernie Sanders, respondeu de forma objetiva e sem rodeios: “Considerar racista o regime israelense dirigido por Netanyahu não é antissemitismo”.
NATHANIEL BRAIA