A abertura do Escritório conjunto em Kaesong contou com a presença de ministros do Norte e do Sul para a Reunificação entre as autoridades que prestigiaram a inauguração
As duas partes da Coreia abriram nesta sexta-feira (14) um escritório conjunto de coordenação, concretizando mais uma decisão da cúpula de abril dos líderes do Norte, Kim Jong Un, e do sul, Moon Jae-in, e permitindo um clima ainda mais cordial à terceira cúpula Norte-Sul deste ano, que ocorrerá dos dias 18 a 20, desta vez com o presidente sul-coreano sendo recebido em Pyongyang. O escritório, que funcionará 24 horas por dia, durante o ano inteiro, está instalado em Kaesong, no Norte, se tornará no primeiro canal de diálogo permanente intercoreano, com diretores em nível de vice-ministro.
A cerimônia de abertura contou com a presença do presidente do Comitê para a Reunificação Pacífica da Pátria, Ri Son Gwon (pelo Norte) e pelo ministro da Unificação (do Sul), Cho Myung-gyon, mais delegações das duas partes. “Este escritório de coordenação é um novo símbolo de paz criado conjuntamente pelo Sul e o Norte”, assinalou Myung-gyon. Na fachada principal, uma imensa bandeira branca com a silhueta da península reunificada pode ser vista. Em Kaesong já funcionou a zona industrial conjunta, que foi fechada pelo governo da corrupta Park em 2016.
O jornal de Seul Hankyoreh considerou o escritório como o “primeiro passo” para uma “confederação intercoreana”. “As operações do escritório de ligação ainda estão em um nível rudimentar, mas é o início de uma transição para uma confederação intercoreana”, afirmou Kim Yeon-Cheol, diretor do Instituto de Unificação Nacional, entidade do sul.
A abertura do Escritório Intercoreano é ainda mais significativa em face da oposição manifestada por certos círculos dos EUA sobre o assunto. O Escritório compreende um andar para cada parte e um andar intermediário para as reuniões conjuntas e possibilitará um mecanismo ágil para implementação dos acordos e intercâmbio de posições, além de suporte aos que cruzem a divisa de armistício ainda existente.
Conforme o porta-voz do Sul, Baik, o escritório irá “supervisionar todos os aspectos [das relações intercoreanas]”. Ele acrescentou que, em relação à visão de transformar o escritório de ligação em uma missão permanente intercoreana, “um consenso básico se formou” entre as duas partes da Coreia.
A comemoração dos 70 anos da fundação da Coreia Popular (Norte), centrada na paz, no desenvolvimento econômico e na reunificação, fortalece o otimismo sobre novos avanços. Um sintoma disso foi a ausência de mísseis intercontinentais no costumeiro desfile militar, o que foi visto favoravelmente pelo presidente Trump, dos EUA, como um sinal de “boa fé” do líder Kim Jong Un e uma boa notícia.
Círculos belicistas em Washington buscaram neste período sabotar a cúpula Kim-Trump de Cingapura, tentando passar a ideia de que ali teria sido definido o “desarmamento nuclear unilateral” do Norte e isso estaria sendo descumprido. Fizeram, ainda, ouvidos mudos às propostas de Pyongyang no sentido de formalizar a paz o quanto antes.
Mas a declaração de Cingapura que Kim e Trump assinaram mostra um processo passo a passo, com retomada das negociações, suspensão de testes e manobras militares por ambas as partes, avanço para declaração formal da paz e encerramento do estado de guerra, culminando na desnuclearização, com a qual Kim voltou a se comprometer. Esta semana, a Rússia voltou a propor na ONU que as sanções contra Pyongyang comecem a ser atenuadas.
A própria Casa Branca anunciou que Kim havia enviado uma nova carta, sugerindo uma nova cúpula, para novos avanços na paz e rumo à desnuclearização, depois de subitamente ter suspenso a visita do secretário de Estado Mike Pompeo. E é evidente que Pyongyang descarta qualquer desnuclearização unilateral ou à moda ‘líbia’. O líder do sul, Moon, pediu uma “atitude ousada” pela paz. Nas comemorações dos 70 anos, também chamou a atenção a presença de altos representantes da China e da Rússia na tribuna de honra, e Moscou oficialmente convidou Kim a visitar o grande país euroasiático.
ANTONIO PIMENTA