Noruega, Espanha e Irlanda reconhecem o Estado Palestino

Jonas Gahr Store, primeiro-ministro da Noruega, país que sediou os Acordos de Paz de Oslo, anuncia reconhecimento do Estado da Palestina (Vídeo)

“Não pode haver uma Solução de Dois Estados sem um Estado Palestino”, afirmou o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store.

Em um movimento coordenado, Noruega, Espanha e Irlanda anunciaram nesta quarta-feira (22) que vão reconhecer o Estado Palestino a partir de 28 de maio, expressando também seu apoio à ‘Solução dos Dois Estados’ e à paz.

Decisão que implica em uma mudança importante dentro da Europa, onde até aqui apenas nove países reconheciam a Palestina, o que ocorrera há quase quatro décadas. E que reflete o isolamento cada vez maior de Israel, depois de sete meses de genocídio e limpeza étnica em Gaza perpetrados à luz do dia.

“Não haverá paz no Oriente Médio sem uma Solução de Dois Estados. Não pode haver uma Solução de Dois Estados sem um Estado Palestino”, afirmou o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store, em comunicado sobre a decisão.

NORUEGA, MEDIADORA DOS ACORDOS DE OSLO

“Em outras palavras, um Estado Palestino é um pré-requisito para alcançar a paz no Oriente Médio.” Manifestação que vem com o peso de quem mediou os Acordos de Oslo como parte do processo de paz com que se comprometeram Yasser Arafat e Yitzhak Rabin.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, sublinhou que a decisão “não é contra Israel” e tampouco “a favor do Hamas” — mas, sim, “a favor da paz”, além de voltar a repudiar o genocídio e apontar que “Netanyahu não tem qualquer plano de paz”.

“Temos que usar todos os recursos políticos à nossa disposição para dizer, em alto e bom som, que não vamos permitir que a possibilidade da Solução de Dois Estados seja destruída pela força, porque é a única solução justa e sustentável para este terrível conflito”, disse Sánchez.

“Já passou da hora de a Palestina ocupar o seu lugar entre as nações do mundo”, destacou o primeiro-ministro da Irlanda, Simon Harris, assinalando que a Solução de Dois Estados é o “único caminho confiável” para a paz.

O ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Micheal Martin, acrescentou que “quando reconhecemos um Estado, não reconhecemos o governo da época, reconhecemos o Estado em termos de uma população permanente de pessoas em termos de fronteiras definidas, e neste caso são as fronteiras de 1967″.

Como anteciparam os três líderes, outros países europeus estudam acompanhar essa decisão. A maior parte do mundo já reconhece a Palestina, inclusive o Brasil e, na Assembleia Geral da ONU, 143 de 193 países aprovaram sua condição de membro pleno da ONU.

O Ministério das Relações Exteriores palestino celebrou a decisão, desde a Cisjordânia. “Com este passo significativo, a Espanha, a Noruega e a Irlanda demonstraram mais uma vez o seu compromisso inabalável com a Solução de Dois Estados e com fazer justiça, há muito tempo esperada, ao povo palestino”, diz o comunicado.

“Além disso, os reconhecimentos da Espanha, Noruega e Irlanda estão em conformidade com o direito internacional, e com todas as resoluções relevantes das Nações Unidas — o que, por sua vez, vai contribuir positivamente para todos os esforços internacionais para acabar com a ocupação ilegal israelense e alcançar a paz e a estabilidade na região.”

“Um momento histórico”, assinalou o secretário-geral do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Hussein al-Sheikh. À agência de notícias AFP, Bassem Naim, dirigente do Hamas, afirmou que esses reconhecimentos sucessivos “são resultado direto desta brava resistência e da lendária perseverança do povo palestino”.

“Acreditamos que este será um momento de virada na posição internacional sobre a questão palestina”, ressaltou Nain.

A decisão também foi saudada pelos países árabes. O Egito a chamou de “passo importante no estabelecimento de um Estado palestino independente baseado nas fronteiras de 1967” e reiterou apelo ao Conselho de Segurança da ONU para a implementação imediata de um cessar-fogo.

Comunicado da Arábia Saudita saudou a decisão tomada pela Noruega, Espanha e Irlanda de reconhecer “o Estado irmão da Palestina”.

O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, considerou a decisão “um passo importante e essencial para uma solução de dois Estados que incorpore um Estado palestino independente e soberano ao longo das fronteiras de julho de 1967”.

O reconhecimento feito pela Noruega, Espanha e Irlanda também representa a possibilidade de corrigir uma injustiça histórica, fazendo cumprir a parte da decisão de 1947 até aqui negada, a do Estado Palestino. E a injustiça dos 57 anos de “ocupação intolerável”, desde 1967.

Como disse o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, na Assembleia Geral da ONU: “não escrevemos a Carta das Nações Unidas. Não promulgamos leis internacionais. Apenas exigimos que nos fossem aplicadas e até agora nos foi negada a sua proteção.”

“VOTO PELO ESTADO PALESTINO NÃO É CONTRA NENHUM ESTADO”

 “Um voto sim é um voto pela existência palestina, não é contra nenhum Estado, mas é contra as tentativas de nos privar do nosso Estado. É por isso que o Governo israelense se opõe tanto a ele, porque se opõe totalmente à nossa independência e à Solução de Dois Estados. Se não apoiam a nossa liberdade, não apoiam a paz.”

E, ao concluir: “Como todos dizem: ‘Palestina livre, Palestina livre e paz para todos. E repito, libertem a Palestina e votem ‘Sim’ a favor da resolução.”

O governo israelense, sem qualquer surpresa nisso, reagiu histericamente à decisão de Oslo, Madri e Dublin, convocando de volta os embaixadores nos três países e classificando o reconhecimento de “prêmio ao terrorismo”.

Tropas coloniais israelenses continuaram matando e ferindo em Gaza e na Cisjordânia ocupada, além de manterem a tentativa de matar de fome os palestinos sobreviventes, negando a entrada de ajuda humanitária. Por sua vez, o ministro do apartheid, Itamar Ben Gvir, realizou nova provocação, invadindo o complexo da mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém Oriental ocupada, ladeado por sicários fortemente armados, onde disse que o local “pertence apenas ao Estado de Israel”.

Já em Oslo, em seu pronunciamento, o primeiro-ministro norueguês fez questão de registrar que, se Netanyahu eventualmente desse as caras na Noruega, o país cumpriria o mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional.

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