
Brasileiros presos pelo governo dos Estados Unidos para deportação e passam pelo Centro de Processamento de Pine Prairie, em Louisiana, relatam humilhações, submetidos à fome e condições precárias, além de falta de atendimento médico e de contato com familiares ou advogados.
Um brasileiro contou à agência DW (Deutsche Welle) que “eles nos tratam aqui como animais. Está muito difícil. Eu choro todos os dias e só quero a minha liberdade”.
“A cada dia eu só vou perdendo mais quilos, porque a comida que eles dão não sustenta”, acrescentou. Segundo ele, os detentos ficam cerca de 20 horas entre uma refeição e outra, recebendo somente um pão e leite entre isso. Esse brasileiro tem restrição a esses dois alimentos e fica 20 horas sem comer nada.
O local não recebe criminosos, mas somente pessoas que serão deportadas. Segundo a DW, na sexta-feira (28), três brasileiros ainda estavam no local, sendo que cinco estiveram ao longo do mês de março. Ao todo, 1.100 homens estão detidos no local.
Um familiar de outro brasileiro que está preso em Pine Prairie contou que “ele me diz que é humilhante estar lá”. A comunicação com ele acontece raramente, relatou.
Um terceiro brasileiro relatou que, “mentalmente, isso aqui é uma loucura. Eles só nos jogam nas celas, e qualquer coisa que a gente precise demora uma eternidade”.
Ele contou que o ambiente é úmido e sem circulação de ar. “Aqui dentro, ninguém consegue se curar, pois o próprio ambiente não ajuda. É cheio de bactérias. Desde que cheguei aqui, estou mal, com garganta inflamada, catarro, febre e dor de cabeça”.
Outro brasileiro que também passou pelo local destacou a péssima qualidade dos alimentos que são dados aos detentos. “Comia quem tinha coragem”, disse. Em duas semanas, ele perdeu 7 quilos.
“Quando davam a garrafinha de água, você tinha que tomar metade e guardar o resto para quando desse sede mesmo. Uma vez, consegui pedir ajuda para um detento brasileiro que estava trabalhando, e ele me deu água e comida escondido”, continuou.
De acordo com seu relato, as celas estavam sujas os detentos é quem tinham que limpas. “A cela estava imunda, e nós mesmos limpamos tudo. Tinha muita poeira e cheiro de mofo. Ficamos ali por seis dias sem ver a luz do dia e só com a roupa do corpo”, relatou.
Essa prisão já foi denunciada pela ONG Robert F. Kennedy Human Rights (RFK) por violar direitos humanos.
Uma advogada da ONG, Sarah Decker, disse que os que estão presos lá “não cometeram nenhum crime, e a única justificativa para a sua detenção é garantir que elas compareçam ao tribunal”.
“Mas o que vemos é que estas condições são punitivas, e alguns até as descrevem como piores do que uma prisão. As pessoas são horrivelmente abusadas neste centro e em outros do estado de Louisiana”, completou.
Além da detenção em locais em péssimas condições, o governo dos Estados Unidos também tem a prática de algemar os braços e pernas dos imigrantes ilegais que estão sendo deportados.
No primeiro voo de deportados do governo de Donald Trump, os brasileiros relataram que o ar-condicionado do avião estava quebrado e que eles estavam acorrentados nos assentos.
Somente em território brasileiro, quando a Polícia Federal observou e exigiu que essa situação fosse encerrada, eles foram libertos.