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Em reunião fechada com a bancada de deputados do DEM, nesta quarta-feira (12), Jair Bolsonaro destilou todo o seu desprezo aos trabalhadores. Repetiu pela enésima vez que “é difícil ser patrão no Brasil”. “Ser patrão no Brasil é um tormento”, afirmou. Em gravação, feita por um dos parlamentares presentes, ele disse que os trabalhadores têm muitos privilégios no Brasil e defendeu o fim dos direitos trabalhistas. “No que for possível, sei que está engessado o artigo sétimo [da Constituição], mas tem que se aproximar da informalidade”, disse o presidente.
Ele atacou também os órgãos responsáveis pela fiscalização das condições de trabalho no Brasil. “O Ministério Público do Trabalho, por favor, se tiver clima, a gente resolve esse problema. Não dá mais para continuar quem produz sendo vítima de uma minoria, mas uma minoria atuante”, disse ele. O presidente eleito criticou o órgão por não ter hierarquia, comparando com a estrutura militar: “cada um faz o que bem entende”, disse ele. O Ministério Público do Trabalho (MPT) provoca tanta irritação no presidente eleito porque ele é hoje um dos principais órgãos para coibir as péssimas condições de trabalho existentes em um número significativo de empresas e é também o principal responsável de combate ao trabalho escravo no Brasil. Veja reação do MPT aos ataques do governo: https://horadopovo.org.br/em-resposta-a-bolsonaro-presidente-do-mpt-diz-que-tambem-e-um-tormento-ser-empregado/
A intenção de Bolsonaro é bem evidente. Ele quer enfraquecer os instrumentos de defesa do trabalhador. Não foi por outro motivo que ele esquartejou o Ministério do Trabalho e, agora, ataca o Ministério Público do Trabalho. Não admite fiscalização nenhuma. Onde já se viu os fiscais autuarem empresários que desrespeitam a lei, que esfolam seus trabalhadores? Para Bolsonaro, essa fiscalização tem que acabar. Os empresários sofrem muito na mão dessa “minoria”, diz ele. “Nós queremos que tenha fiscalização, sim, mas nós queremos que chegue no órgão fiscalizado e a pessoa seja atendida como amiga”, afirmou. Só faltou dizer que os fiscais tinham que entregar flores aos donos das empresas infratoras.
“Aproximar da informalidade”. Essa é a meta anunciada pelo novo governo. O trabalhador informal simplesmente não tem direito nenhum. Ele não está satisfeito com o estrago feito pela famigerada “reforma trabalhista” de Temer/Dilma. Não basta destruir a CLT, estrangular as finanças dos sindicatos e dificultar o acesso do trabalhador à Justiça do Trabalho. Seu plano é arrancar o couro. É ser o presidente dos “sofridos” empresários contra os “perversos” trabalhadores. Os trabalhadores brasileiros, que recebem um dos menores salários mínimos do mundo, menor até do que o do Paraguai, têm, segundo Bolsonaro, direitos demais.
Se esse arrocho todo, pretendido pelo governo, vai estrangular ainda mais o nosso mercado interno, não importa. Se isso vai prejudicar as empresas brasileiras, que não terão para quem vender, paciência. O que interessa, na opinião de Bolsonaro, Guedes & Cia é o que vão achar as multinacionais. É para elas que Bolsonaro está trabalhando. A primeira coisa que John Bolton, assessor de Donald Trump, disse no café da manhã na casa de Jair Bolsonaro, há duas semanas, é que o governo brasileiro tinha que tratar melhor as empresas americanas que atuam aqui. Bolsonaro respondeu, na ocasião, que sua equipe econômica já estava estudando formas para agradar as empresas americanas. Estão aí as suas ideias. Mais arrocho nos salários e menos direitos.
Bolsonaro também comentou medidas relativas a terras indígenas e quilombolas. “Não demarcarei um centímetro a mais de terra indígena. Ponto final”, disse. “Não tem mais terra para quilombola também, acabou. Não vou entrar em detalhes, mas isso tem a ver com segurança jurídica no campo”, afirmou. Falando sobre a vida do produtor rural – outro coitado, segundo Bolsonaro – ele disse que “você quer derrubar uma árvore, quer fazer uma coisa legal, é quase impossível, depende de licenças ambientais. Esse problema a gente vai deixar de lado”.