O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva participou de uma reunião com deputados, nesta quinta-feira (10), e afirmou em discurso no evento que seu governo será plural e democrático, tendo como prioridade o combate à fome e a retomada do desenvolvimento.
“Sabe qual é a regra de ouro nesse país? É garantir que nenhuma criança vá dormir sem tomar um copo de leite e acorde sem ter um pão com manteiga para comer todo dia”, enfatizou Lula.
Na abertura da reunião, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), disse que a transição, que ele coordena, será “democrática, participativa e contributiva”. O gabinete de transição deverá representar a “frente democrática bastante ampla” que elegeu Lula.
Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, falou que a composição da transição, que já conta com, segundo ela, 14 partidos, é “reflexo da necessidade de fazer essa frente para as mudanças que precisamos”. Ela também ressaltou a necessidade de “resgatar a normalidade” democrática.
Lula falou que aqueles escolhidos para compor a transição podem ou não ser ministros no próximo governo, mas isso ainda não foi definido.
De acordo com ele, a transição não toma decisões. “A transição vai fazer um levantamento da situação do país e, a partir disso, vamos discutir e tomar decisões para começarmos o processo de mudança desse país”.
COMBATE À FOME
No encontro, Lula reafirmou a necessidade de o governo federal agir no combate à fome e à pobreza. “Embora a gente tenha que governar para todos, temos também que tratar prioritariamente as pessoas mais necessitadas”.
O futuro presidente disse que o “mundo do trabalho” e a “reforma da aposentadoria” têm que ser rediscutidos para garantir direitos e qualidade de vida. “Por que as pessoas são levadas a sofrer em nome de garantir a tal da estabilidade fiscal?”, questionou.
“Não poderíamos ficar, no século XXI, falando de uma lei feita em 1943, mas a gente não pode abdicar daquilo que era conquista e que dava segurança”, apontou.
“Parece pouco, mas a reforma da aposentadoria fez com que um trabalhador que recebia R$ 2.000 fosse receber R$ 1.300 agora. Uma mulher que recebia R$ 2.000 de pensão do marido vai receber metade disso”, criticou.
“Porque o povo pobre não está na planilha da discussão da macroeconomia? Porque a gente tem meta de inflação, mas não tem meta de crescimento?”, continuou.
Lula se emocionou e chorou quando lembrou que a luta, quando foi eleito em 2002 era a mesma de hoje: o combate à fome.
“Se, quando eu terminar o mandato, cada brasileiro estiver tomando café, almoçando e jantando outra vez, eu terei cumprido a missão da minha vida”.
“Eu jamais esperava que a fome voltasse. Quando eu deixei a Presidência, eu imaginava que nos dez anos seguintes esse país estaria igual à França, à Inglaterra, teria evoluído nas conquistas sociais”.
“Esse país pode garantir que cada cidadão possa comer, não há explicação [para a fome]. A única explicação é que falta compromisso dos governantes”, sentenciou.
INSTITUIÇÕES
O presidente eleito contou, em sua fala, que se reuniu com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para trazer a normalidade de volta.
“Ontem eu visitei as instituições brasileiras para dizer que a ‘partir de agora vocês vão ter paz, porque não vão ter um presidente desaforado querendo intervir no STF ou na Justiça Eleitoral’. Esse país vai voltar à civilidade”, assinalou o presidente eleito.
Lula conversou com Lira e com Pacheco, eleitos com o apoio de Bolsonaro, e disse que “estou aqui para provar que queremos estabelecer o diálogo entre os partidos políticos. O nosso governo vai ser o governo do diálogo, porque vai conversar com as instituições, com o Congresso Nacional e com a Câmara, com cada governador, independente de por qual partido ele tenha sido eleito”.
O presidente também elogiou a atuação de Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no combate às fake news e na garantia da democracia.
Moraes “tem uma coragem estupenda, teve um comportamento exemplar e é orgulho de todo o Brasil”.
Lula confirmou que viajará, na segunda-feira (14), para o Egito, onde participará da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27). “Vou ter mais conversas com lideranças mundiais do que o Bolsonaro teve em quatro anos. Uma das coisas que nós vamos fazer é recolocar o Brasil no centro da geopolítica internacional”, comparou.