Em relatório de junho, entregue pela PF na quarta-feira (02) ao STF, aparece nova mensagem que mostra Bolsonaro ameaçando demitir Moro porque ministro não quis punir policial que cumpria a lei
Relatório da Polícia Federal, enviado na quarta-feira (02) ao Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o inquérito que investiga a tentativa de Bolsonaro de aparelhar o órgão, revela que os ataques do presidente ao ex-ministro da Justiça Sérgio Moro já vinham de antes da fatídica reunião ministerial de 22 de abril, aquele chavascal de baixarias e verborragias fascistas que chocou o Brasil um dia antes da demissão do ministro Moro.
Agora, neste relatório, datado de 23 de junho, aparece uma nova troca de mensagens, de dez dias antes da reunião, com mais pressões de Bolsonaro sobre o ministro Sérgio Moro.
No dia 12 de abril, portanto dez dias antes da reunião ministerial, o presidente enviou ao então ministro uma matéria do jornal Valor Econômico na qual Moro opinava sobre eventual ordem de prisão contra pessoas que descumprissem o distanciamento social, uma das medidas de combate à pandemia do coronavírus.
“Se esta matéria for verdadeira: Todos os ministros, caso queira contrariar o PR (presidente), pode fazê-lo, mas tenha dignidade para se demitir. Aberto para a imprensa”, afirmou Bolsonaro.
Moro, então, respondeu: “O que existe é o artigo 268 do Código Penal. Não falei com imprensa”.
“Se esta matéria for verdadeira: Todos os ministros, caso queira contrariar o PR (presidente), pode fazê-lo, mas tenha dignidade para se demitir. Aberto para a imprensa”, afirmou Bolsonaro.
Moro, então, respondeu: “O que existe é o artigo 268 do Código Penal. Não falei com imprensa”.
Foi na citada reunião ministerial que Bolsonaro demonstrou abertamente o seu interesse em controlar a Polícia Federal do Rio de Janeiro. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final”, disse Bolsonaro na ocasião.
Assista ao trecho da reunião em que Bolsonaro ameaça Moro
Os elementos colhidos até agora no inquérito que apura as acusações de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal reforçam as denúncias do ex-ministro sobretudo em relação ao Rio de Janeiro. Oito depoimentos prestados confirmaram a versão de Moro de que o presidente, desde agosto do ano passado, queria trocar o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. E sete acrescentaram o desejo dele de mexer no comando da Superintendência do Rio.
A polícia pediu nesta terça-feira mais 30 dias para concluir as investigações.
Os crimes investigados no inquérito são: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, prevaricação, denunciação caluniosa e crime contra a honra.
O próximo passo das investigações será a oitiva com o Presidente da República que já foi solicitada pela Polícia Federal. A decisão cabe ao ministro Celos de Melo, que está de licença médica.
Já em sua entrevista de saída do ministério, Moro, em resposta à afirmação de Bolsonaro de que não tinha provas sobre a pressão, apresentou trocas de mensagens ocorridas naquela ocasião. As mensagens não deixavam dúvidas sobre as intenções de Bolsonaro.
A primeira foi enviada no dia 23 de abril ao ministro, através de WhatsApp. Havia uma matéria publicada no site “O Antagonista” que diz: “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”. Abaixo da postagem da matéria, Bolsonaro afirma: “mais um motivo para a troca”.
Sérgio Moro responde: “Esse inquérito é conduzido pelo ministro Alexandre, no STF”, se referindo ao ministro Alexandre de Moraes. “Diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas”, acrescentou Moro.
Naquele momento, Bolsonaro estava publicamente defendendo a troca do comando da Polícia Federal e a troca de mensagem deixa claro qual e a sua motivação.
Diante da ofensiva de Bolsonaro sobre a Polícia Federal, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tomou na época a precaução de determinar que os delegados responsáveis pelas investigações nos inquéritos por ele conduzidos, que investigam os ataques do chamado “gabinete do ódio” aos membros do Supremo, e os atos contra a democracia, não fossem retirados dos casos.
As decisões de Jair Bolsonaro, que se seguiram logo após a demissão de Sérgio Moro, reforçaram as denúncias do ministro. Ele nomeou para diretor-geral da Polícia Federal, o então chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, que era segurança do então candidato Jair Bolsonaro e é intimamente ligado ao filho Carlos Bolsonaro, chamado de “zero dois”, e que é o coordenador do “gabinete do ódio”, estrutura semi-clandestina que está sendo investigada pela PF.