A pesquisa apontou que a desaprovação do presidente passou de 42% para 44%, enquanto 78% reprovam o governo pela sua conduta na pandemia; Já 80% dos brasileiros apoiam a Lava Jato e apenas 20% são contrários à operação
A revista Exame divulgou, na última sexta-feira (12), pesquisa Exame/Ideia, sobre vários e relevantes temas da sociedade brasileira, que passou, em alguma medida despercebida, a saber: avaliação e aprovação do governo federal, política nacional, pandemia e Operação Lava Jato.
A pesquisa avaliou a gestão de Bolsonaro, concluindo que apenas 27% apoiam a maneira do presidente trabalhar, indicando uma ligeira queda desde a última apuração realizada no final de janeiro, quando estava em 29%. A oscilação é dentro da margem de erro da pesquisa, que é de três pontos percentuais, portanto é considerada estável.
Mas a desaprovação passou de 42% para 44%. Aqueles que nem aprovam nem desaprovam eram 24% na última pesquisa, e agora somam 26%.
Nas regiões metropolitanas do Brasil, o presidente acumula 51% de avaliação ruim ou péssima, enquanto no interior sua avaliação negativa é de 35%. “Esse é um efeito contrário do início da medição de avaliação da imagem nacional de Bolsonaro, a partir de 2017” diz Maurício Moura, fundador do IDEIA, instituto especializado em opinião pública.
VACINA
Um tema unifica o país: a sensação de atraso na vacinação contra a Covid-19. A pesquisa constata que 73% da população considera que ação prioritária do governo deve ser a implementação da vacina. Entre os que desaprovam o presidente Bolsonaro nesse quesito, esse número alcança 78%. “Podemos inferir que a vacinação seguirá sendo a variável-chave da avaliação presidencial”, diz Maurício Moura.
AUXÍLIO EMERGENCIAL
Em uma outra questão da pesquisa, em que é abordado o auxílio emergencial, 48% acreditam que o benefício será concedido novamente. Entre os entrevistados, 66% esperam que o pagamento volte neste semestre. Já 46% daqueles que pertencem às classes D e E acreditam que a concessão de um novo auxílio emergencial teria maior impacto na avaliação do governo. O auxílio emergencial, depois da vacina, foi considerado entre os entrevistados a segunda prioridade.
OPERAÇÃO LAVA JATO
Sobre a Operação Lava Jato, 80% dos brasileiros a apoiam a Lava Jato e 20% são contrários, apesar das revelações sobre as relações ainda, no mínimo, controversas, entre o juiz Sergio Moro e o Ministério Público. O fato é que, na percepção da maioria da população, a operação cumpriu seu papel no combate à corrupção entranhada nos órgãos públicos sob a cumplicidade e favorecimento de importantes monopólios privados, especialmente os que tinham interesse nos contratos milionários e bilionários da Petrobrás.
Outro fato que chama atenção é que a grande maioria dos entrevistados não tomou conhecimento sobre o fim das chamadas investigações (59%). Outras 49% ficaram sabendo. A pergunta é direta: “Você soube do fim da
Operação Lava Jato?”, portanto, não deixou margem de dúvida sobre o episódio.
Na pesquisa, ao indagar de quem seria a responsabilidade pelo fim da operação — “Na sua opinião, qual foi a principal razão do fim da Operação Lava Jato?” —, os entrevistados não tiveram dúvida: 69% disseram que fora a ação de políticos; 15% responderam que foi o fim da corrupção no governo federal; 13% afirmaram que acabou porque não havia mais nada para investigar; e 3% responderam outras questões.
“A Operação Lava Jato, apesar de ter terminado oficialmente, continua amplamente bem avaliada pela população. Quando indagados sobre o conhecimento do fim da operação, aproximadamente 60% desconhecem”, diz Maurício Moura, fundador do Ideia, instituto especializado em opinião pública.
E acrescenta: “O que nos revela que a repercussão do fim da mesma foi tímida comparada à atenção dada durante sua execução. Além disso, quando perguntados sobre os responsáveis pelo fim da Lava Jato, 70% atribuem aos políticos. Esse sentimento é majoritário também entre os que avaliam positivamente o presidente Jair Bolsonaro”.
PERFIL SOCIOECONÔMICO
Dos entrevistados, independentemente de a força-tarefa ter sido extinta, 89% dos que são a favor da Lava Jato têm ensino superior. Por outro lado, das pessoas entrevistadas, pertencentes às chamadas “classes D e E”, os estratos mais pobres da sociedade brasileira, como estão classificados na pesquisa, 35% são contra a Lava Jato, enquanto 65% ou apoiam ou não tem opinião sobre o assunto, o que não foi demonstrado pela pesquisa. Essas “classes sociais” são os estratos mais pobres da sociedade brasileira.
ORIGEM E DESDOBRAMENTOS
A força-tarefa da Operação Lava Jato do Paraná foi deflagrada em 17 de março de 2014, mas as investigações começaram bem antes, por volta de 2009. Unificou ações do MPF (Ministério Público Federal) e da PF (Polícia Federal) que investigavam doleiros acusados de cometer crimes financeiros utilizando recursos públicos.
Foi criada para apurar as denúncias de corrupção na Petrobras e ditou os rumos do País nos últimos 7 anos, foi dissolvida pela PGR (Procuradoria-Geral da República) no dia 1º de fevereiro, passando a integrar o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MPF (Ministério Público Federal).
O anúncio foi feito em 4 de fevereiro. Acusada de parcialidade e de adesão ao bolsonarismo, a Lava Jato chegou a um fim melancólico, sem pessoas ocupando as ruas ou batendo panelas em protesto.
A partir de agora, somente 5 membros do Gaeco se dedicarão aos casos que estavam com a força-tarefa. Outros 10 procuradores que formavam parte da Lava Jato, mas que não foram transferidos para o Gaeco, “permanecem designados para atuação em casos específicos ou de forma eventual até 1º de outubro de 2021 e sem dedicação exclusiva ao caso, trabalhando a partir das lotações de origem”, explicou o MPF do Paraná.
ENTENDA A OPERAÇÃO LAVA JATO
Após vários depoimentos e delações premiadas, a Justiça conseguiu descobrir esquema de corrupção na Petrobras, inclusive com o envolvimento de políticos de diferentes partidos, culminando em grave crise política, que inclusive levou à cassação da ex-presidente Dilma Rousseff, à prisão do ex-presidente Lula e do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ), dentre outros.
No total, foram 1.434 procedimentos instaurados, com 775 buscas e apreensões, 210 conduções coercitivas, 95 prisões preventivas, 10 acordos de delações premiadas, entre bilhões de reais devolvidos aos cofres públicos.
Basicamente, os empresários pagavam propinas para vencer licitações em diversas obras, de casas populares a estádios, colaborando com vasto esquema de desvio que incluía partidos políticos, doleiros e empreiteiras.
Segundo o MPF, a “Operação Lava Jato é [foi] a maior iniciativa de combate à corrupção e lavagem de dinheiro da história do Brasil.” Ainda segundo o MPF, na operação, MPF e a PF trabalharam de modo integrado.”
Novamente, segundo o MPF, a “operação conta [contava] com desdobramentos na primeira instância no Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo, além de inquéritos e ações tramitando no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar fatos atribuídos às pessoas com foro por prerrogativa de função.”
A Lava Jato, agora sob o Gaeco/MPF, deflagrou, na manhã da última quinta-feira (11), a 80ª fase da operação, quando a PF cumpriu 5 mandados de busca e apreensão. Esta fase, segundo as investigações, apura pagamentos de U$ 1 milhão em contas estrangeiras por meio de contratos falsos com estaleiro.
Esses mandados foram cumpridos em São Paulo e Pindamonhangaba. Segundo a PF, alvo é investigado por receber pagamento de estaleiro em paraíso fiscal. Esta foi a primeira fase da operação após a força-tarefa do MPF passar a integrar o Gaeco.
VIRTUDES E DEFEITOS DE UMA AÇÃO QUE NÃO ACABOU
De acordo com o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que estaria prestes a acabar é o que ele define como “lavajatismo, a doença infantil da Java Jato”, que “só vê virtudes [na operação] e não faz autocrítica”. Ele também fez críticas a quem “só vê defeitos na operação”.
“A Lava Jato, como em todas as ações humanas, tem virtudes e tem defeitos, mas não tenho a menor dúvida de que virtudes superam os defeitos. Não divinizo nem demonizo no sentido de entender que não há circunstâncias a verificar ou até mesmo a corrigir, como aliás o STF já fez”, afirmou.
O ministro também disse que a incorporação das forças-tarefas paranaense e carioca da Lava Jato ao Gaeco do MPF é uma decisão acertada.
“O que acabou foram as forças-tarefas. A operação denominada Lava Jato não acabou e nem poderia, porque continua a independência dos membros do Ministério Público para investigar, e sempre que houver indícios de irregularidade e desvio de recursos deverão atuar”, disse