Foi Wassef também que preparou a reunião da mulher de Queiroz e do advogado de Flávio, Luiz Gustavo Boto Maia, com a mãe de Adriano da Nóbrega dois meses antes da morte do miliciano
O advogado Frederick Wassef, que escondeu Fabrício Queiroz por mais de um ano em sua casa no município de Atibaia, no interior de São Paulo, apareceu agora com uma nova versão, a de que acoitou Queiroz porque ele estava jurado de morte por “forças ocultas”.
Antes ele dizia que não sabia onde Queiroz estava, que não o conhecia e que não tinha a menor ideia do que ele estava fazendo em sua casa quando foi preso. Passaram-se alguns dias, e ele agora surgiu com essa história das “forças ocultas” que querem matar Queiroz para, segundo ele, “tentar comprometer o presidente”.
“Naquele momento, meu entendimento é que eu queria evitar que Fabrício Queiroz fosse executado em uma simulação qualquer ou mesmo que sumissem com o seu cadáver”, disse Wassef.
A versão fajuta de Wassef é que ele escondeu Fabrício Queiroz para proteger a família Bolsonaro. De acordo com o ex-defensor de Flávio, haveria um mirabolante plano para matar o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro e culpar a família presidencial.
Um eventual sumiço mais definitivo de Queiroz, segundo o “anjo”, poderia ser interpretado como uma “queima de arquivo”, já que ele está envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro na Assembleia Legislativa do Rio, onde trabalhava para o parlamentar.
“Naquele momento, meu entendimento é que eu queria evitar que Fabrício Queiroz fosse executado em uma simulação qualquer ou mesmo que sumissem com o seu cadáver”, disse Wassef.
Ele não apontou, na entrevista que deu à revista Veja, desta semana, de onde partiram essas ameaças a Fabrício Queiroz e que forças ocultas são essas que teriam interesse em matá-lo para atingir a família Bolsonaro.
Aliás, ele não explicou também porque não denunciou à polícia esse plano mirabolante.
O “anjo” fez questão de destacar com todas as letras que armou toda essa engenharia para sumir com Queiroz sem o conhecimento da família Bolsonaro. Tudo para protegê-la. Ou seja, ocultou da família Bolsonaro o seu plano de esconder Queiroz para que ele não fosse morto e culpassem a família Bolsonaro. Não pensou que, se fosse verdade a sua última versão, a suspeita maior seria de que a ameaça à vida de Queiroz partiria da família Bolsonaro.
Não foi para impedir que ele depusesse no inquérito da lavagem de dinheiro que poderia comprometer seu cliente, Flávio Bolsonaro.
Wassef teria também escondido da família Bolsonaro que participou de uma reunião no dia 2 de dezembro de 2019 em Atibaia com a presença de Fabrício Queiroz e Luiz Gustavo Boto Maia, outro advogado de Flávio, para preparar uma proposta a ser apresentada a Adriano da Nóbrega, miliciano que estava foragido e que chefiava do Escritório do Crime, uma espécie de central de assassinatos da milícia do Rio de Janeiro.
O “anjo” não falou nada para a família Bolsonaro sobre essa reunião e nem sobre a viagem de Márcia Oliveira, mulher de Queiroz, e Luiz Gustavo Boto Maia, dois dias depois da reunião, para a cidade de Astolfo Dutra, no interior de Minas, onde estava escondida a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães.
Raimunda e a ex-mulher de Adriano da Nóbrega, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, tinham sido funcionárias fantasmas do gabinete de Flávio e repassavam parte dos salários para o esquema do gabinete e para o próprio Adriano.
Fabrício Queiroz foi flagrado em mensagens telemáticas exonerando Danielle Mendonça e Raimunda Veras do gabinete de Flávio assim que estourou o escândalo aberto com o relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
O Coaf dava conta das movimentações milionárias nas contas de Fabrício Queiroz e do próprio deputado.
Além de influenciar outras testemunhas para que não depusessem no inquérito conduzido pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, Queiroz tinha também orientado que Raimunda Veras, dona de dois restaurantes que participaram do “esquema’ de lavagem do gabinete, fugisse para o interior de Minas.
Uma foto que estava no telefone de Márcia Oliveira, mostrou o momento em que ocorreu a reunião em Astolfo Dutra, em Minas Gerais. Não se sabe o que foi discutido nesta reunião e nem por que Frederick Wassef teria participado de sua preparação. Mas, de concreto, saiu a nomeação do advogado Paulo Emílio Catta Preta para defender Adriano da Nóbrega.
Agora tornou-se público que Paulo Emílio Catta Preta é advogado da ex-mulher de Frederick Wassef, Cristina Boner Leo. Soube-se também que o mesmo Catta Preta assumiu a defesa de Fabrício Queiroz. Coincidência ou não, apenas dois meses depois desta reunião em Minas, Adriano da Nóbrega foi morto numa operação policial na Bahia.
Desde setembro do ano passado, Frederick Wassef já esteve ao menos 13 vezes com Jair Bolsonaro, sendo sete vezes no Palácio do Planalto e outras seis na residência oficial, tudo fora da agenda. A última ida ao Planalto ocorreu na quarta-feira (17), véspera da prisão de Queiroz. Em todas essas visitas de Wassef ao presidente da República, na condição de advogado de seu filho, Flávio, nada sobre esses planos de sumiço de Queiroz foi informado ao presidente, segundo a nova versão de Wassef.
O “anjo”, como ele era tratado por Queiroz e sua mulher, Márcia Oliveira Aguiar, era, até o último domingo (21), advogado oficial de Flávio Bolsonaro. Ele dizia estar a par de todos os assuntos da “família” e que Bolsonaro e ele eram a “mesma pessoa”.
Quando ele ainda negava que tivesse escondido Queiroz, afirmou que “querem me atingir para atingir o presidente”. Não há como não enxergar nessas declarações um recado ao Planalto.
Queiroz e Flávio fizeram movimentações financeiras irregulares que foram detectadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e, além disso, descobriu-se que integrantes das milícias participavam do esquema. Era muita coisa sob a guarda de Wassef. Não é à toa que depois que a casa caiu e Queiroz foi preso, o “anjo” disse à Veja que estava no “modo guerra”.
Há uma troca de mensagens entre Queiroz e sua mulher, pouco antes do plenário do Supremo Tribunal Federal decidir sobre uma liminar que favorecia Flávio Bolsonaro, onde Queiroz diz a ela que o “anjo” pretendia “esconder” toda a família em São Paulo, caso a decisão fosse desfavorável.
Tudo isso estava sendo arquitetado por Wassef, segundo sua nova versão, sem o conhecimento de ninguém. Se não for somente uma história inventada de última hora, dá perfeitamente para entender porque a mulher de Queiroz está desaparecida e também porque o ex-assessor de Flávio chorou tanto quando chegou na prisão.