
O réu golpista pede orientação a advogado de Trump sobre o tarifaço e elogia o mandatário americano. Áudios demonstram, também, preocupação zero com os adeptos do 8 de janeiro e interesse, apenas, em salvar a pele do chefe do clã
Novas revelações das investigações da Polícia Federal (PF) demonstram que Jair Bolsonaro (PL) pediu socorro ao advogado de Donald Trump, Martin De Luca, que representa as empresas Rumble Trump Media & Technology Group, do norte-americano.
Bolsonaro pediu para “melhorar a comunicação em relação ao tarifaço” imposto ao Brasil de forma unilateral pelo atual inquilino da Casa Branca.
No áudio, hoje revelado, Bolsonaro diz que escreveu um texto elogiando Trump, no qual afirma que a “questão da liberdade tá muito acima da questão econômica” e pede que De Luca o guie sobre o que postar nas redes sociais:
“Martin, peço que você me oriente também, me desculpa aqui tá, minha modéstia, como proceder. Eu fiz uma nota, acho que eu te mandei. Tá certo? Com quatro pequenos parágrafos, boa, elogiando o Trump, falando que a questão de liberdade tá muito acima da questão econômica. A perseguição a meu nome também, coisa que me sinto muito… pô fiquei muito feliz com o Trump, muita gratidão a ele. Me orienta uma nota pequena da tua parte, que eu possa fazer aqui, botar nas minhas mídias, pra chegar a vocês de volta aí. Obrigado aí. Valeu, Martin”, escreveu o réu golpista.
De acordo com os policiais que promoveram a investigação, o pedido reforça o alinhamento de Bolsonaro a interesses forâneos e o uso despudorado de medidas de governo estrangeiro, no caso dos EUA, contra o Brasil, em benefício pessoal.
O pedido de socorro ao advogado de Trump é considerado um dos elementos mais preocupantes e delicados do relatório, segundo os defensores do próprio Bolsonaro. Eles avaliam que o áudio reforça a tese de que Bolsonaro atuou em coordenação com aliados de Trump para pressionar autoridades brasileiras, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
O relatório policial também revela conversas entre Bolsonaro, Martin de Luca, o filho Eduardo Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia.
Nelas, a baixaria correu solta entre pai e filho. O “03” chegou a xingar o pai após uma entrevista dele sobre o conflito do filho com o governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo.
Em 15 de julho, Eduardo disse ao pai:
“Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder 360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se você aprende”.
E deputado continuou: “VTNC SEU INGRATO DO CARALHO!’
A Polícia Federal em seu relatório aponta que Jair Bolsonaro e o filho conspirador atuaram de forma deliberada para intimidar ministros do STF e interferir na Ação Penal 2668, que trata da tentativa de golpe de Estado, produzindo e disseminando mensagens em redes sociais, em afronta às medidas cautelares, com o apoio histérico de Malafaia, que foi também alvo de um mandado de busca e apreensão.
As mensagens recuperadas de celulares apreendidos mostram que os investigados buscavam impedir uma eventual condenação de Bolsonaro e de outros réus, acusados de crimes como organização criminosa, golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito.
“As mensagens demonstram que as sanções articuladas dolosamente pelos investigados foram direcionadas para coagir autoridades judiciais do Supremo Tribunal Federal”, diz o relatório da PF.
PREOCUPAÇÃO ZERO COM OS ADEPTOS DO 8 DE JANEIRO
As novas revelações da PF mostram, também, que o clã Bolsonaro, destacando-se o seu chefe e o conspirador “03” que se encontra em solo americano, não estava nem está preocupado com o destino dos milhares de adeptos que vandalizaram os poderes republicanos no dia 8 de janeiro de 2023 e estão sentenciados ou em vias de serem condenados por tentativa de golpe de Estado.
“Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar. (…) Temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia OU enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto”, escreveu Eduardo Bolsonaro ao pai. A “anistia light” seria aquela que beneficiasse a turba em detrimento de Bolsonaro, o que, segundo o “03”, interromperia a ajuda de Trump, portanto, a decisão, deveria ser no sentido de salvar o chefe do clã e jogar os seus devotos aos leões.