“Gravidade” e “contemporaneidade da movimentação das pessoas”, que planejaram golpe de Estado, justificam prisão dos militares que arquitetaram assassinar o presidente eleito, entende Andrei Rodrigues
O diretor-geral da PF (Polícia Federal), Andrei Rodrigues, defendeu a prisão de 4 militares de alta patente do Exército sob a suspeita de tramar golpe de Estado. O chefe da PF diz que, sem a prisão preventiva, não se podia descartar novas tentativas de matar o presidente Lula (PT).
“Com certeza, a contemporaneidade das ações e a gravidade do que estava sendo apurado somado à contemporaneidade da movimentação das pessoas” justificaram a prisão dos militares, disse Rodrigues, nesta quarta-feira (4).
“Vamos lá, pessoal, eles planejaram matar uma autoridade que estava num evento [a cúpula do G20, realizada de 14 a 16 de novembro no Rio, para onde essas pessoas estavam indo. Então, há vários elementos aí, e isso aponta tecnicamente a necessidade da prisão”, defendeu.
PRISÃO
Dia 19 de novembro, a PF prendeu preventivamente 4 militares das Forças Especiais, os chamados “kids pretos” — Mário Fernandes, Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo —, e o policial federal Wladimir Matos Soares — que responderá a processo disciplinar na corporação, segundo Andrei.
Eles são suspeitos de envolvimento num plano de golpe contra o resultado das eleições de 2022, que incluía o assassinato do então presidente eleito Lula, do vice eleito Geraldo Alckmin (PSB), além do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, que era alvo de monitoramento por parte do grupo que tramava golpe de Estado.
“Não está demonstrado cabalmente [que Lula poderia ser assassinado no G20]. É importante agir por precaução. Atos preparatórios já são considerados crimes, e a gente não pode pagar para ver”, disse Andrei.
A PF encerrou apurações sobre tentativa de golpe de Estado em 2022 e concluiu que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) participou da trama para impedir a posse de Lula. Dia 21 de novembro, a PF indiciou o ex-presidente e mais 36 pessoas — a maioria é militar —, incluindo o general da reserva Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice, em 2022, na chapa derrotada.
PF SERÁ PROCESSADO
Andrei Rodrigues, chefe da PF, afirmou nesta quarta-feira, que o policial preso por envolvimento na trama golpista para impedir a posse de Lula não fazia parte da equipe presidencial, que cuidava da segurança do presidente eleito em 2022. Ele também disse que o agente vai responder a processo disciplinar na corporação.
Rodrigues foi o responsável pela segurança pessoal de Lula no período eleitoral e durante a transição. Para ele, este episódio foi o único de infiltração identificado na corporação.
Questionado por jornalistas sobre as suspeitas de infiltração na corporação, Rodrigues explicou que o policial Wladimir Matos Soares, preso na última semana, não atuou diretamente na segurança do atual presidente em 2022.
A PF aponta que o agente vazou informações sensíveis sobre segurança de Lula na época da transição e que teria se colocado à disposição para eventual golpe de Estado. Wladimir Matos Soares, de 53 anos, é apontado como peça-chave no plano golpista.
ATUAÇÃO DO POLICIAL
Segundo Rodrigues, o policial em questão havia sido designado para atuar na segurança de prédios onde estavam outros chefes de Estado que vieram acompanhar a cerimônia de posse em 2022.
“Nessa condição ele [Wladimir Matos Soares] circulava em vários locais e um dos locais que ele circulou foi o prédio onde estava o presidente Lula, o presidente eleito, e aí passou as informações para o pessoal da Abin”, contou.
Além do processo criminal, Wladimir Soares responderá também a procedimento disciplinar interno na corporação. Este tipo de procedimento pode levar à eventual expulsão da corporação.
PAPEL DO AGENTE
Segundo o relatório da PF, Soares fazia parte de grupo que arquitetava o chamado plano “Punhal Verde Amarelo”, esquema que incluía ações para neutralizar autoridades e impedir a posse de Lula.
A PF afirma que Soares repassou informações sensíveis, incluindo detalhes sobre os responsáveis pela segurança de Lula. Em mensagem interceptada, ele compartilhou dados do delegado Cleiber Malta Lopes, coordenador da posse presidencial, acompanhado do comentário: “Petista e baba ovo do Alckmin”.
Em áudios analisados pela PF, o agente detalhou ações e estratégias em andamento, incluindo o posicionamento do COT (Comando de Operações Táticas) da PF, perto do Hotel Meliá, em Brasília, além de outros dados sigilosos. A investigação concluiu que essas informações poderiam ser usadas em ataques ao presidente e a equipe dele.
ESPIÃO
Áudio enviado por Soares a Sérgio Cordeiro, assessor de Jair Bolsonaro (PL), revelou detalhes importantes sobre a atuação da equipe de segurança. Ele informou que, devido à tentativa de invasão da sede da PF, em 12 de dezembro, equipe do COT foi mobilizada para proteger Lula.
No áudio, o agente detalha: “Eles acionaram a equipe do COT. E uma equipe do COT, como o Lula estaria ali no prédio, né, do Meliá, uma equipe do COT ficou à disposição, próxima. Então, eles hospedaram essa equipe do COT aqui no Windsor.”